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Chanceler do Uruguai renuncia no início da presidência temporária de seu país no Mercosul

Ernesto Talvi comunica que não quer ser um obstáculo ao desejo do presidente de nomear um novo ministro das Relações Exteriores

Ernesto Talvi deixa coletiva de imprensa em Montevidéu, na terça.
Ernesto Talvi deixa coletiva de imprensa em Montevidéu, na terça.Raúl Martínez (EFE)
Federico Rivas Molina

Ernesto Talvi durou apenas quatro meses no cargo. O chanceler uruguaio apresentou sua renúncia na quarta-feira por meio de uma carta que entregou ao presidente Luis Lacalle Pou e publicou mais tarde nas redes sociais. No texto, deu a entender que sua saída, ventilada pela imprensa local há semanas, não aconteceu nos termos que esperava. “Tal como manifestei oportunamente”, escreveu Talvi a Lacalle Pou, “minha intenção era continuar na Chancelaria até o fim do ano, durante a presidência pro tempore do Uruguai no Mercosul”, que começa nesta quinta-feira. O sucessor de Talvi será o atual embaixador do Uruguai na Espanha, Francisco Bustillo, um diplomata de carreira muito próximo de Lacalle Pou e que tem boas relações com o presidente da Argentina, o peronista Alberto Fernández.

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In this handout picture released on April 25, 2020 by Uruguay's Presidency, President Luis Lacalle Pou wears a face mask during a cabinet meeting in Montevideo. (Photo by - / Uruguay's Presidency / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / URUGUAYAN PRESIDENCY" - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS
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A saída de Talvi era apenas questão de tempo. Sua gestão foi marcada por diferenças cada vez mais profundas com a equipe que o acompanhava e por uma política de moderação em relação à Venezuela que entrou em choque com a mão dura de Lacalle Pou. Antes de assumir o cargo, Talvi sempre afirmou que o Governo de Nicolás Maduro era uma ditadura, mas quando se tornou ministro foi mais cauteloso e promoveu o diálogo com Caracas. Semanas atrás, em uma entrevista ao jornal El Observador, Talvi disse que agora que era chanceler, sua opinião pessoal sobre a Venezuela pouco importava. “Este chanceler não vai dizer nesse papel essa palavra [ditadura] e o que penso sobre o regime que governa a Venezuela deixou de ser relevante no momento em que assumi o cargo. Basta olhar para o que pensava quando não era chanceler, então já saberão o que eu penso”, disse.

A imprensa local também revelou discussões com seus colaboradores, enquanto esfriava a relação com Lacalle Pou. Talvi não era um soldado do presidente e assim o fez saber. Como candidato a presidente pelo conservador Partido Colorado, obteve o terceiro lugar no primeiro turno das eleições gerais de 2019. Seu apoio foi fundamental para que Lacalle Pou, do Partido Nacional, finalmente vencesse a Frente Ampla no segundo turno, um gesto que o novo Governo retribuiu com a chancelaria. Depois de quatro meses de desgaste, Talvi apresentou a renúncia para não ser “um obstáculo” na escolha do novo ministro, de acordo com sua carta de renúncia.

Talvi já havia expressado sua intenção de voltar à arena política, como líder do Partido Colorado. Mas não se esperava que sua saída coincidisse com o início da presidência temporária do Uruguai no Mercosul, bloco que também inclui Argentina, Brasil e Paraguai. O ministro participou nesta quarta-feira da reunião de ministros das Relações Exteriores do grupo, que foi realizada virtualmente e deveria acompanhar Lacalle Pou na quinta-feira no encontro, também virtual, de chefes de Estado. “Como chanceler, é muito difícil para mim desempenhar o papel de líder político. O líder político joga em todo o campo”, disse Talvi no domingo passado, antecipando suas intenções.

Bustillo, o substituto de Talvi, tem 60 anos e é um diplomata de carreira muito próximo de Lacalle Pou. Sua presença na chancelaria também pode significar uma melhora nas relações entre Uruguai e Argentina, dois parceiros que hoje estão situados nos antípodas ideológicos. Bustillo foi embaixador em Buenos Aires entre 2005 e 2010 e forjou uma amizade com o presidente Alberto Fernández, que na época era chefe de ministros de Néstor e Cristina Kirchner. Bustillo honrou essa proximidade em setembro do ano passado, quando recebeu Fernández em sua residência em Madri durante a viagem que o argentino fez à Europa como presidente eleito.

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