_
_
_
_

Educação sexual pode virar crime passível de até cinco anos de prisão na Polônia

Projeto impulsionado no Parlamento por partido ultraconservador visa impedir a “promoção da pedofilia” e “proteger crianças e jovens de depravação”

Jaroslaw Kaczynski, à esquerda, sentado sentado ao lado do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki no Congreso.
Jaroslaw Kaczynski, à esquerda, sentado sentado ao lado do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki no Congreso.WOJCIECH OLKUSNIK (EFE)
Paula Chouza

A educação sexual pode se tornar crime passível de até cinco anos de prisão na Polônia se o Parlamento aprovar uma lei que criminaliza a “promoção da atividade sexual entre menores de idade”. A iniciativa, promovida por uma associação pró-vida que, em seu enunciado, afirma que busca impedir a “promoção da pedofilia” e “proteger crianças e jovens da depravação sexual”, foi criticada pela oposição ao Governo ultraconservador do partido Lei e Justiça (PiS), organizações civis e o próprio Parlamento Europeu, que consideram que, na prática, a norma persegue aqueles que transmitirem noções de educação sexual.

Leia mais sobre guerra ideológica
Antonio Scurati: “Ridicularizamos Trump por seu físico, e agora pensam que os imbecis somos nós”
Carolin Emcke en Barcelona en 2019.
“A extrema direita tem uma utopia. Conservadores e sociais-democratas não têm nenhuma”

O PiS, que votou em outubro pela tramitação do projeto de lei conhecido como Stop Pedofilia, ponderou na ocasião que o medo de que os educadores possam acabar na prisão se deve, nas palavras do deputado Marcin Ociepa citadas pela agência Reuters, a uma “sobreinterpretação da lei”.

A normativa, no entanto, colocou em estado de alerta a sociedade civil —mobilizada nas ruas— e as instituições europeias. A Federação Internacional de Planejamento Familiar na Europa, em um texto divulgado no último trimestre do ano, instou o Parlamento polonês a “defender a saúde e o bem-estar de meninas e meninos em vez de eliminar as proteções essenciais”. Guillermo González, presidente da federação estatal, afirma em uma entrevista por telefone que a iniciativa é “um ataque frontal aos direitos sexuais e reprodutivos” e a compara com “outras que estamos vendo na Espanha, como o pin parental do Vox, uma medidaque obriga a administração dos centros educacionais a solicitar autorização dos pais para dar às crianças palestras, oficinas ou atividades com carga ideológica contrária às suas convicções. González também aponta que a iniciativa polonesa se assemelha a uma lei russa de 2012 que proíbe a educação sexual.

O Parlamento Europeu aprovou em novembro uma resolução condenando a iniciativa. Considera que as disposições do projeto penalizariam “o fornecimento de educação sexual integral a menores sob o pretexto de prevenir a pedofilia, o que teria um impacto sobre, entre outros, educadores, ativistas, pessoal de saúde, psicólogos, editores, jornalistas e inclusive pais ou responsáveis legais”. A Câmara Europeia lembra que “a saúde sexual é fundamental para a saúde e o bem-estar geral das pessoas, casais e famílias, além do desenvolvimento social e econômico das comunidades e países, e que o acesso à saúde, inclusive a saúde sexual e reprodutiva, é um direito humano”.

No texto aprovado, o Parlamento Europeu “expressa sua profunda preocupação com as disposições extremamente vagas, amplas e desproporcionais” da normativa e “solicita ao Parlamento polonês que se abstenha de adotar o anteprojeto de lei e garanta que os jovens tenham acesso a uma educação integral em sexualidade e que aqueles que fornecem tal educação e informação recebam apoio de maneira objetiva”.

Klementyna Suchanow, escritora, jornalista e integrante do movimento feminista Greve Nacional da Mulher, explica ao EL PAÍS em um email que o projeto de lei está em uma comissão parlamentar. “Foi muito criticado e agora o Governo faz silêncio”, acrescenta a ativista. Em 2018, a pressão social fez o Executivo ultracatólico recuar de uma reforma que visava restringir ainda mais a interrupção legal da gravidez, permitida apenas se fosse resultado de estupro ou incesto, se a vida da mulher estivesse em perigo ou se o feto sofresse de malformações ou doença irreversível.

O PiS revalidou sua maioria absoluta na Câmara baixa em outubro. Desde então, o partido liderado pelo ex-primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski conseguiu aprovar no Congresso um projeto de lei que contempla a exoneração de juízes críticos das reformas. Uma medida questionada por Bruxelas, que em dezembro pediu ao Parlamento que interrompesse a tramitação do projeto até que a Comissão de Veneza —órgão consultivo que depende do Conselho da Europa e é formado por especialistas constitucionalistas independentes— se pronunciasse sobre o assunto, o que provavelmente acontecerá nesta semana. Os deputados conservadores, no entanto, deram luz verde ao texto horas depois e o enviaram ao Senado.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

¿Tienes una suscripción de empresa? Accede aquí para contratar más cuentas.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_