Tóquio só distribuirá preservativos aos atletas quando forem embora da Olimpíada
A pandemia obriga a modificar uma tradição existente na Vila Olímpica desde Seul 88. As regras para as delegações para o torneio, que começa nesta semana, preveem “evitar contato físico desnecessário”

A pandemia já transformou os Jogos de Tóquio em uma edição muito particular, realizada um ano depois do planejado inicialmente e sem público. Agora vai quebrar mais uma tradição: a que determinava a distribuição de preservativos aos atletas. Em vez disso, os competidores receberão os preservativos quando estiverem de partida, com a mensagem de usá-los em seus países para aumentar a conscientização sobre a luta contra a aids.
A comissão organizadora anunciou a decisão ainda em junho, ao apresentar suas regras para garantir a saúde durante a competição que começa nesta semana. Como indicou a própria comissão, desde os Jogos de Seul, em 1988, a tradição ditava que preservativos fossem distribuídos durante todo o evento para garantir o sexo seguro na Vila Olímpica, onde a convivência próxima entre atletas de 200 países costuma dar origem a intensos relacionamentos de casal entre os lençóis. Mas, desta vez, os mais de 150.000 preservativos serão entregues quando os atletas estiverem deixando o Japão. As regras preveem que os participantes da competição “evitem qualquer contato físico desnecessário”.
As medidas também obrigarão a dizer adeus às festas: não será permitida a ingestão de bebidas alcoólicas em grupo. Os atletas podem introduzir bebidas na Vila Olímpica, mas só estão autorizados a consumi-las sozinhos e em seus quartos, de 9 metros quadrados (individuais) ou 12 metros (duplos). Na residência dos esportistas em Tóquio, que tem capacidade para 18.000 pessoas durante os Jogos Olímpicos e 8.000 nos Paralímpicos, foram afixados vários cartazes alertando sobre a necessidade de manter as instalações bem ventiladas e aconselhando seus ocupantes a manter as janelas abertas. Também exortam os atletas e os demais membros das delegações a guardarem uma distância segura. Nos refeitórios será mantida uma capacidade reduzida e entregue material desinfetante aos participantes.
Há também uma clínica para os casos de febre —separada das demais instalações médicas—, que examinará e isolará os pacientes suspeitos de serem portadores do coronavírus, como também os seus contatos.
Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$
Clique aquiTakashi Kitajima, o diretor geral da Vila, declarou: “Se houver suspeita de que alguém pode estar infectado, podemos isolar essa pessoa de modo adequado”. E acrescentou: “Este é outro exemplo de como administramos estritamente qualquer coisa relacionada a possíveis infecções de covid-19”. Desde 2 de julho os organizadores relataram 58 positivos entre atletas, jornalistas e pessoal diretamente ligado aos Jogos, o que fez disparar o alarme ante a possibilidade de um surto catastrófico na Vila. Entre os ali alojados foram quatro que testaram positivo: dois jogadores de futebol da África do Sul, um jogador de vôlei de praia da República Checa e uma ginasta norte-americana, integrante da equipe reserva.
Os atletas terão que se submeter a testes diários de coronavírus e usar máscara quando não estiverem competindo, comendo ou dormindo. Só poderão entrar e alojar-se na Villa 48 horas antes do início da competição, devendo sair assim que terminar, ou antes, se forem eliminados. Se tentarem quebrar alguma das regras, correm o risco de serem expulsos.
Os Jogos começarão em meio à forte oposição da população japonesa, que teme que o evento possa se tornar um foco de contágios de coronavírus no país, que ainda tenta controlar sua última onda de infecções. Apesar de o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, e o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, terem reiterado que a edição de Tóquio será “segura e com garantias”, 68% dos ouvidos em uma pesquisa realizada no fim de semana pelo jornal japonês Asahi Shimbun têm dúvidas sobre a capacidade dos organizadores de controlar o novo coronavírus. No total, 55% dos 1.444 entrevistados por telefone se opõem à realização da Olimpíada, enquanto 76% acreditam que a decisão de proibir a presença do público é a correta.
Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.