“Vesti a camisa 24 com muito orgulho”, diz jogador do Bahia após usar ‘número proibido’ pela homofobia

Em ação do clube contra preconceito e em homenagem a Kobe Bryant, volante adota uniforme rejeitado pela maioria dos times brasileiros

Flávio entra em campo com a camisa 24, pelo Bahia.Felipe Oliveira (Divulgação)
São Paulo -
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Cada vez mais profissional, o mercado do futebol, que movimenta cerca de 50 bilhões de reais por ano e corresponde a quase 1% do PIB nacional, ainda conserva práticas arcaicas na gestão dos clubes. Uma delas é a rejeição praticamente unânime ao número 24, que só costuma ser utilizado pelos jogadores —via de regra, goleiros reservas— por imposição de regulamentos em competições internacionais. Porém, em nova campanha lançada por seu núcleo de ações afirmativas, o Bahia pretende romper com o tabu ao redor do 24, historicamente associado à homossexualidade, de maneira pejorativa, pelo fato de remeter ao veado no jogo do bicho.

Nesta terça-feira, o volante Flávio foi o escolhido para entrar em campo vestindo a camisa, em uma ação contra a homofobia e, ao mesmo tempo, em homenagem ao ex-jogador de basquete Kobe Bryant, morto em um acidente de helicóptero no último domingo, que usou o número por mais de uma década no Los Angeles Lakers. “Vesti a camisa 24 com muito orgulho”, conta o titular da equipe baiana, que venceu o Imperatriz por 2 a 0 pela Copa do Nordeste. “Me sinto feliz e honrado por ser o representante do Bahia nessa causa. A ideia é mostrar que o respeito às diferenças sempre deve prevalecer. E que, independentemente da orientação sexual, toda pessoa pode usar o número que quiser.”

Antes mesmo da morte de Kobe, o Bahia, que tem se notabilizado por posicionamentos em temas que extrapolam os gramados, já havia pensado a campanha para quebrar o estigma homofóbico do número. No início do mês, o diretor do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, afirmou “24 aqui, não” ao vetar o uniforme para o reforço colombiano Victor Cantillo, que usava o número em seu antigo clube, o Junior Barranquilla. O dirigente se desculpou pela fala, mas o volante vestirá a 8 durante sua passagem pelo time paulista.

“O futebol é um canal que pode servir para acentuar o que há de pior na nossa sociedade, como o racismo, as agressões, a violência e a intolerância, mas também pode servir de uma forma diferente”, explica Guilherme Bellintani, presidente do Bahia. “Para espalhar cultura, afeto, sensibilidade, melhoria das relações humanas. Achamos que os clubes têm de escolher se serão canais de amor ou ódio. Nós escolhemos o amor.”

Ao divulgar a ação, o departamento de ações afirmativas do clube lembra que o 24 é tratado como “número proibido” e “gatilho para a homofobia” não apenas no contexto do esporte, citando, por exemplo, a manifestação implícita de preconceito no Senado, que excluiu os algarismos da numeração dos gabinetes entre 2015 e 2019.

Flávio, um dos líderes do elenco do Bahia, dono da camisa 5, planeja utilizar a 24 no restante da temporada. “Número de camisa não afeta em nada minha masculinidade nem meu desempenho dentro de campo. Infelizmente, existe essa conotação negativa em torno do 24. Mas me deu sorte, saímos com a vitória e quero que seja meu número daqui pra frente.”

Católico, o volante diz seguir ensinamentos religiosos ao pregar tolerância por meio de sua profissão e valoriza o Tricolor de Aço por se engajar em questões sociais. “Respeitar o próximo é fundamental para termos um mundo melhor. O futebol do Bahia cresce a cada ano, mas o mais importante é o que está acontecendo por trás, como essa luta contra a homofobia. Não podemos mais aceitar o preconceito.”

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