Nem cloroquina nem remdesivir. OMS diz que nenhum desses medicamentos salvou vidas contra a covid-19
Dados do ensaio Solidarity, o maior estudo feito até agora com quatro drogas em 32 países, confirmam que esses tratamentos não reduzem a mortalidade em pacientes hospitalizados
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Desde os primeiros dias da pandemia, a urgência em dar alguma coisa aos pacientes levou médicos a usarem fármacos concebidos para outras doenças, na esperança de que pudessem também funcionar contra a enfermidade provocada pelo novo coronavírus, o SARS-CoV-2. Mas o maior estudo feito até agora sobre quatro destes tratamentos acaba de demonstrar que nenhum deles salva vidas de pacientes com covid-19, anunciou a Organização Mundial da Saúde (OMS) na noite desta quinta-feira.
O ensaio Solidarity da OMS tratava de provar a eficácia contra o SARS-CoV-2 dos antimaláricos cloroquina e hidroxicloroquina, o coquetel antiviral remdesivir, lopinavir e ritonavir, usados contra o HIV, e o interferon. Nenhum desses produtos demonstrou efeitos significativos na redução da mortalidade dos pacientes hospitalizados após 28 dias de tratamento, confirmou a OMS em nota.
O Solidarity foi um ensaio com pacientes, único em sua classe tanto por suas dimensões como pela rapidez com que foi feito. Analisou a evolução de mais de 11.200 pessoas em 400 hospitais de 32 países. Os doentes eram selecionados de forma aleatória para receber só os cuidados normais ou, adicionalmente, algum dos tratamentos mencionados.
“Nenhuma das drogas estudadas reduziu a mortalidade em nenhum subgrupo de pacientes nem teve efeitos na iniciação da respiração artificial ou duração da internação hospitalar”, afirma o estudo sobre o ensaio, que foi publicado na Internet e está sendo revisto por especialistas para ser incluído em uma publicação médica especializada, segundo a OMS.
Estes resultados são o último prego no caixão de tratamentos que foram alardeados por políticos apesar da ausência de provas da sua eficácia ― caso especialmente da cloroquina e da sua derivada hidroxicloroquina. Estas drogas foram qualificadas como “revolucionárias” por líderes como Donald Trump nos primeiros momentos da pandemia. Outro partidário da tese do norte-americano, o presidente Jair Bolsonaro chegou a se tratar com hidroxicloroquina quando testou positivo para covid-19, e não foram poucas as vezes em que recomendou o medicamento à população. O Ministério da Saúde, inclusive, lançou um protocolo que autoriza o Sistema Único de Saúde (SUS) a oferecer estes remédios para casos leves da doença. O estudo demonstra, porém, que estas drogas não oferecem nenhum efeito positivo, e inclusive é possível que sejam contraproducentes para muitos doentes.
A OMS já teve que interromper em junho o uso destes fármacos no ensaio por suspeitas de que aumentava a mortalidade, embora tenha retomado a pesquisa após uma revisão mais detalhada, pois os dados preocupantes vinham de um estudo que resultou ser uma fraude. Um mês depois, a organização voltou a retirar esses dois fármacos do ensaio, desta vez já com base em dados próprios. Agora, os resultados definitivos do Solidarity mostram não só que não há eficácia como também que é ligeiramente maior o número de mortos no grupo de doentes que receberam estes fármacos, em relação ao grupo de controle.
No caso do remdesivir, um antiviral desenvolvido contra o ebola pelo laboratório farmacêutico Gilead, os resultados abrem uma importante incógnita, pois o fármaco foi aprovado para seu uso tanto nos Estados Unidos como na Europa de forma temporária enquanto eram pesquisados dados sólidos sobre sua eficácia.
O ensaio da OMS demonstra que em temos globais esta droga não é efetiva. Mas um estudo publicado na semana passada na prestigiosa revista médica NEJM apontava que esta droga consegue que os pacientes se recuperem aproximadamente cinco dias antes dos que não a tomam. Neste estudo ― que analisou a 1.062 pacientes ― foi detectada uma redução da mortalidade em um tipo muito concreto de pacientes: aqueles que haviam acabado de começar a receber oxigênio, mas ainda não estavam em situação grave nem exigiam respiração assistida. A Gilead está fazendo outro ensaio clínico para provar se o remdesivir administrado junto com um fármaco contra a artrite reumatoide, chamado baricitinib, aumenta os efeitos positivos observados.
Com estes resultados, os únicos medicamentos que demonstraram eficácia contra a covid-19 até agora são a dexametasona e outros corticoides, que reduzem a mortalidade dos pacientes em estado grave. A OMS explica que os mais de 400 hospitais do ensaio Solidarity já estão provando a eficácia de novos antivirais, imunomoduladores e anticorpos monoclonais.
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