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A quarentena de cinco dias no país em que “liberdade” vale mais que a vida

Governo Bolsonaro se nega a adotar ‘passaporte da vacina’ para viajantes e vai exigir apenas teste e quarentena para não imunizados. “Prefiro morrer do que perder minha liberdade”, disse o presidente

O presidente Jair Bolsonaro discursa em evento no Palácio do Planalto nesta terça-feira, 7 de dezembro, em Brasília.
O presidente Jair Bolsonaro discursa em evento no Palácio do Planalto nesta terça-feira, 7 de dezembro, em Brasília.EVARISTO SA (AFP)
Felipe Betim

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) segue colocando o Brasil na contramão do mundo democrático com relação ao combate à pandemia de coronavírus. Em mais um capítulo de sua escalada negacionista, o Governo rejeitou adotar um passaporte da vacina para viajantes porque, segundo o mandatário, é preferível “morrer do que perder a liberdade”. Essas palavras, ditas nesta terça-feira em discurso no Palácio do Planalto, em Brasília, foram horas mais tarde respaldadas pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. “Às vezes, é melhor perder a vida do que perder a liberdade”, repetiu durante a entrevista coletiva. Até o momento, quase 615.000 vidas foram perdidas para a covid-19 no Brasil, segundo os dados computados pelo Ministério da Saúde. Uma cifra que parece não ser suficiente para que as principais autoridades brasileiras adotem medidas preventivas.

Com a chegada da variante ômicron, que colocou o mundo em alerta diante de uma cepa possivelmente mais transmissível, o Brasil preferiu deixar que viajantes estrangeiros e brasileiros continuem entrando no país mesmo sem vacina. Para esses casos de indivíduos não imunizados, será exigida uma quarentena de cinco dias, seguida de um teste RT-PCR. Caso o resultado dê negativo, o passageiro estará livre para circular em solo brasileiro.

Convém ressaltar, porém, que sem a vacina o risco de infecção e transmissão é maior e contribui para manter o vírus circulando entre a população. O presidente sabe disso, como deixou claro nesta terça em seu discurso no Palácio do Planalto. “Nós vemos uma briga enorme aqui agora sobre passaporte vacinal. Quem é favorável, não se esqueça: amanhã alguém pode impor algo para você [a] que você não seja favorável. E a gente pergunta: quem toma vacina pode contrair o vírus? Pode e contrai. Pode transmitir? Sim e transmite. Pode morrer? Sim, pode, como tem morrido muita gente, infelizmente”, afirmou. E continuou: “A gente pergunta: por que o passaporte vacinal? Por que essa coleira que querem colocar no povo brasileiro? Cadê a nossa liberdade? Eu prefiro morrer do que perder a minha liberdade”, disse Bolsonaro.

Além da quarentena de cinco dias para não vacinados, é necessário que todos os viajantes façam um teste negativo RT-PCR até 72 antes do embarque para o Brasil. Mas essa exigência já era válida, assim como a necessidade de os viajantes preencherem uma declaração de saúde informando se possuem alguma suspeita de covid-19. No dia 27 de novembro, o Governo decidiu proibir a entrada de viajantes vindos da África do Sul, Botswana, Essuatíni, Lesoto, Namíbia e Zimbábue, região onde a ômicron foi detectada.

De acordo com Queiroga, o Brasil deseja ser “o paraíso do turismo mundial”. Ele destacou o êxito da campanha de vacinação contra a covid-19 no Brasil, apesar do boicote de Bolsonaro. Atualmente, quase 65% de toda a população já tomou duas doses ou a dose única. “É necessário defender as liberdades individuais, respeitar os direitos dos brasileiros acessarem livremente as políticas públicas de saúde. E é assim, como falou o ministro [da Casa Civil] Ciro Nogueira, que já conseguimos imunizar com as duas doses cerca de 80% da população brasileira acima de 14 anos, a nossa população vacinável, mais de 175 milhões de habitantes”, afirmou o ministro. “Vamos controlar a saúde, fazer com que a nossa economia volte a gerar emprego e renda. Essa questão da vacinação, como realcei, tem dado certo porque nós respeitamos as liberdades individuais. O presidente falou agora há pouco: ‘às vezes, é melhor perder a vida do que perder a liberdade’”, concluiu.

Embate com a Anvisa

O presidente também entrou em choque com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), distorcendo suas recomendações. Em parecer enviado à Casa Civil, a agência sugeriu adotar medidas rígidas de acesso para evitar a propagação da ômicron, como o passaporte da vacina e a restrição de voos de alguns países —algo que o Brasil já fez no caso das nações do sul da África, onde a variante foi detectada. “Estamos trabalhando agora com a Anvisa, que quer fechar o espaço aéreo. De novo, porra?! De novo vai começar essa negócio”, afirmou o presidente nesta terça-feira durante um evento na Confederação Nacional das Indústrias (CNI). “Vai ter um montão de vírus pela frente, um montão de variante pela frente, talvez. Peço a Deus que esteja errado, mas temos que enfrentar”, completou. A Anvisa negou que tenha proposto fechar o espaço aéreo.

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