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Moraes amplia cerco contra ‘fake news’ bolsonarista ao acionar Interpol pelo blogueiro Allan dos Santos

Alvo de dois inquéritos no STF, criador do site ‘Terça Livre’ está com visto vencido no EUA e mantém conduta criminosa, segundo o ministro do STF

O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.
O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.ADRIANO MACHADO (Reuters)

A pacificação esperada por alguns bolsonaristas com o Supremo Tribunal Federal (STF) não veio. O ministro Alexandre de Moraes determinou nesta quinta-feira (21) a prisão preventiva e a extradição do blogueiro conservador Allan dos Santos. Conhecido aliado do presidente Jair Bolsonaro, Santos atualmente vive nos Estados Unidos, onde estaria com o visto vencido. Mesmo longe, o bolsonarista segue como um dos principais nomes da rede virtual de apoio ao Governo, com destaque para conteúdos negacionistas que questionam a democracia e medidas de prevenção contra a covid-19. Além da ordem de prisão e extradição, Moraes também solicitou com a Polícia Federal a inclusão do nome do bolsonarista na lista de Difusão Vermelha da Interpol e o bloqueio de todas suas contas bancárias. A embaixada brasileira nos EUA também foi acionada.

Santos é alvo de dois inquéritos do mesmo STF, que apuram a disseminação de fake news e a existência de milícias digitais coordenadas por figuras próximas ao Governo —o criador do site Terça Livre é um dos nomes mais conhecidos desse círculo. Em maio de 2020, também por ordens judicias que partiram de Moraes, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na casa do dono do site de extrema direita. Agora, de acordo com o texto do despacho do ministro, o blogueiro mantinha “condutas criminosas” mesmo após se mudar para os EUA, utilizando seus canais de conteúdo para práticas de difamação.

A decisão desta quinta-feira dialoga com a CPI da Pandemia, cujo relatório final foi apresentado na quarta-feira. Pelas redes sociais, o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), disse que apoia o cerco ao blogueiro, “a primeira prisão” entre as 68 sugestões de indiciamento listadas no documento final da CPI. “Fake News, como sustentamos no relatório, também matou muitos brasileiros”, disse. Em seu parecer, Calheiros aponta uma “organização oculta e complexa” responsável por propagar conteúdos maliciosos no país. Santos estaria entre os principais responsáveis pelo núcleo de produção desses materiais. Em sintonia com a decisão do STF, a Polícia Federal afirma que a conduta do apoiador do presidente, “a pretexto de atuar como jornalista”, pode configurar ato criminoso, com práticas de organização criminosa, ameaça, crime contra a honra e incitação à prática de crimes.

Sem trégua

A esperança de trégua entre Jair Bolsonaro e o STF, com destaque para Alexandre de Moraes, não durou muito. Após semanas de impropérios públicos do presidente contra o ministro, que culminaram na promessa de não acatar a suas decisões no discurso de 7 de Setembro, Bolsonaro recuou em carta à nação —redigida pelo ex-presidente Michel Temer—, dando esperança a bolsonaristas de que se firmava ali um pacto mútuo de não agressão. Se a expectativa era de que isso significaria a interrupção do inquérito das fake news, Moraes jogou seu balde de água fria nesta quinta-feira.

Até esta noite, Bolsonaro não havia se pronunciado sobre a nova investida de Moraes. A insatisfação no submundo bolsonarista das redes sociais já é clara desde que a decisão foi noticiada, contudo. Liderada por Augusto Aras, a Procuradoria Geral da República (PGR) também se manifestou contrária à prisão do blogueiro.

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