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PIB anda de lado e cai 0,1% no segundo trimestre com queda na indústria e no agronegócio

Economia brasileira tem alta de 6,4% no acumulado do ano e de 1,8% em 12 meses. Consumo das famílias empata com o trimestre anterior, e investimentos caem

Colheita de soja em Santa Cruz do Rio Pardo (Brasil), em março deste ano.
Colheita de soja em Santa Cruz do Rio Pardo (Brasil), em março deste ano.patricia monteiro (Bloomberg)
Carla Jiménez

A economia no Brasil andou de lado no segundo trimestre deste ano, e o Produto Interno Bruto (PIB) registrou um resultado de -0,1% entre abril e junho, na comparação com o trimestre anterior, segundo dados divulgados nesta quarta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao segundo trimestre do ano passado houve uma alta de 12,4%. A base de comparação, no entanto, leva em conta justamente o período mais complicado da pandemia de coronavírus em 2020.

As maiores quedas registradas no trimestre foram no setor de agropecuária, com recuo de 2,8% no trimestre, e na indústria (-0,2%). Esta última foi afetada pela alta nos custos de energia elétrica, por causa dos efeitos da crise hídrica, compensada com o uso de termoelétricas, mais caras que a energia limpa. Há registro, também, da falta de insumos no setor industrial, como no caso do segmento automotivo. A indústria extrativa, por sua vez, teve alta de 5,3%, e a de construção, 2,7%.

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“Foi o trimestre mais trágico, quando a pandemia abateu mais brasileiros”, classificou nesta quarta o ministro da Economia, Paulo Guedes. “Foi abril, maio e junho deste ano, com a segunda onda. Foi justamente quando entrou de novo o auxílio emergencial, a expansão dos programas de assistência. Nós mantivemos a responsabilidade fiscal de um lado e o compromisso da saúde dos brasileiros de outro lado”, declarou, segundo o jornal O Globo.

Os números do IBGE destacam a alta da balança comercial de 9,4% das exportações, especialmente a safra de soja, beneficiadas pela alta das commodities no mercado internacional. Mas projeções apontam para uma menor produção do agronegócio nos próximos meses.

O consumo das famílias, por sua vez, empatou com o primeiro trimestre, o que aponta para um efeito limitado do auxílio emergencial do Governo neste ano, apesar da leve melhora no mercado de trabalho registrada no segundo semestre. A renda não avançou ao mesmo tempo, o aumento dos preços afeta o poder de compra. “A alta da inflação prejudicou a massa salarial real disponível na mãos da famílias para o gasto e a taxa de juro aumentou nesse período”, explicou Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE.

O Banco Central tem aumentado a Selic para domar a inflação, o que mostra um efeito colateral para o setor produtivo, como o crédito mais caro para investir. A Selic passou de 2% em janeiro deste ano para 5,25% este mês. Do lado da oferta, os investimentos produtivos feitos por empresas (em novos negócios ou bens de capital) recuaram 3,6% em comparação com o trimestre anterior.

O setor de serviços, por sua vez, teve alta, com resultados positivos especialmente em atividade de informação (5,6%), serviço (2,1%), e comércio (0,5%). O avanço da vacinação projeta uma melhora ainda mais consistente nos próximos meses.

Em nota, o Ministério da Economia lembra que o resultado negativo no trimestre refletiu o efeito do pico de mortes por covid-19 “e com efeitos setoriais relevantes”. Abril foi o mês mais trágico da covid-19, no auge da segunda onda, com 82.866 mortes, superando o mês de março, com 66.573 óbitos. Foram os meses mais mortais da pandemia no Brasil, com picos acima de 4.000 mortes num só dia. A pasta destaca, ainda, que o resultado aponta para uma recuperação mais rápida do Brasil em comparação com outros países. “Na amostra de 30 países e grupos da OCDE que já divulgaram seus resultados trimestrais, o Brasil apresentou desemprenho de PIB acima da média no resultado interanual e no acumulado em quatro trimestres”. O ministério acredita que o país fechará com PIB acima de 5% neste ano, sem cravar exatamente quanto.

Entre janeiro e março, a atividade econômica havia crescido 1% na comparação com o mesmo trimestre de 2020, e 1,2% em comparação aos três meses anteriores (outubro a dezembro do ano passado). No acumulado do semestre, o PIB avançou 6,4% — ou 1,8% em 12 meses, que levam em conta a base deprimida de 2020. A pesquisa Focus, do Banco Central, com as projeções de uma centena de instituições financeiras, projeta que a atividade econômica deve avançar 5,22% em 2021, abaixo do que estava sendo projetado no início deste mês (5,30%).

Segundo o economista André Perfeito, da Necton Investimentos, basta que o país cresça 0,5% nos próximos trimestres para que o país feche com um crescimento na média de 5%. O recuo dos investimentos produtivos, porém, preocupa. Segundo ele, faltam componentes dinâmicos para um PIB mais robusto, e há problemas reais que batem à porta do país. Entre elas, a taxa de juro alta, a inflação que afeta projeções de lucros, e a perspectiva de racionamento de energia devido à crise hídrica. “Ela afeta a inflação e o agronegócio, sem contar o custo da energia elétrica”, diz. A Necton projetava uma alta de 0,2% para este trimestre, que não se realizou. Perfeito chama a atenção, ainda, para a inflação do setor produtivo, maior do que a alta registrada ao consumidor. “Isso mostra que o empresário vai acabar fazendo ajustes”, o que deve impactar a taxa de investimento.

Ao mesmo tempo, a queda do consumo das famílias, que representa mais de 60% do PIB, preocupa no curto prazo. Além do efeito menor do auxílio emergencial, a falta de crescimento no segundo semestre reflete também a queda da massa salarial, apontada pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada nesta terça. O rendimento médio dos trabalhadores caiu 6,6% no segundo trimestre, quando comparado ao mesmo período do ano passado. “É um cenário desfavorável para o resto de 2021 e 2022. E os ruídos políticos geram prêmio de risco em juros mais longos, o que segura o consumo de bens duráveis, e também o investimento”, alerta.

Os dados do PIB chegam num momento de enorme tensão política no Brasil, que respinga na economia e mobilizou esta semana o empresariado a se manifestar pela estabilidade em prol dos negócios —incluindo os bancos, através da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Enquanto o presidente Jair Bolsonaro joga com arroubos autoritários, o Governo vem perdendo a confiança do mercado com a inflação em alta, crise hídrica e a falta de uma política fiscal consistente. A Focus já aponta para uma inflação de 7,27% este ano, 2 pontos percentuais acima do teto da meta do BC, o que deve impactar também no PIB.

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