PIB anda de lado e cai 0,1% no segundo trimestre com queda na indústria e no agronegócio
Economia brasileira tem alta de 6,4% no acumulado do ano e de 1,8% em 12 meses. Consumo das famílias empata com o trimestre anterior, e investimentos caem
A economia no Brasil andou de lado no segundo trimestre deste ano, e o Produto Interno Bruto (PIB) registrou um resultado de -0,1% entre abril e junho, na comparação com o trimestre anterior, segundo dados divulgados nesta quarta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao segundo trimestre do ano passado houve uma alta de 12,4%. A base de comparação, no entanto, leva em conta justamente o período mais complicado da pandemia de coronavírus em 2020.
As maiores quedas registradas no trimestre foram no setor de agropecuária, com recuo de 2,8% no trimestre, e na indústria (-0,2%). Esta última foi afetada pela alta nos custos de energia elétrica, por causa dos efeitos da crise hídrica, compensada com o uso de termoelétricas, mais caras que a energia limpa. Há registro, também, da falta de insumos no setor industrial, como no caso do segmento automotivo. A indústria extrativa, por sua vez, teve alta de 5,3%, e a de construção, 2,7%.
“Foi o trimestre mais trágico, quando a pandemia abateu mais brasileiros”, classificou nesta quarta o ministro da Economia, Paulo Guedes. “Foi abril, maio e junho deste ano, com a segunda onda. Foi justamente quando entrou de novo o auxílio emergencial, a expansão dos programas de assistência. Nós mantivemos a responsabilidade fiscal de um lado e o compromisso da saúde dos brasileiros de outro lado”, declarou, segundo o jornal O Globo.
Os números do IBGE destacam a alta da balança comercial de 9,4% das exportações, especialmente a safra de soja, beneficiadas pela alta das commodities no mercado internacional. Mas projeções apontam para uma menor produção do agronegócio nos próximos meses.
O consumo das famílias, por sua vez, empatou com o primeiro trimestre, o que aponta para um efeito limitado do auxílio emergencial do Governo neste ano, apesar da leve melhora no mercado de trabalho registrada no segundo semestre. A renda não avançou ao mesmo tempo, o aumento dos preços afeta o poder de compra. “A alta da inflação prejudicou a massa salarial real disponível na mãos da famílias para o gasto e a taxa de juro aumentou nesse período”, explicou Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE.
O Banco Central tem aumentado a Selic para domar a inflação, o que mostra um efeito colateral para o setor produtivo, como o crédito mais caro para investir. A Selic passou de 2% em janeiro deste ano para 5,25% este mês. Do lado da oferta, os investimentos produtivos feitos por empresas (em novos negócios ou bens de capital) recuaram 3,6% em comparação com o trimestre anterior.
O setor de serviços, por sua vez, teve alta, com resultados positivos especialmente em atividade de informação (5,6%), serviço (2,1%), e comércio (0,5%). O avanço da vacinação projeta uma melhora ainda mais consistente nos próximos meses.
Em nota, o Ministério da Economia lembra que o resultado negativo no trimestre refletiu o efeito do pico de mortes por covid-19 “e com efeitos setoriais relevantes”. Abril foi o mês mais trágico da covid-19, no auge da segunda onda, com 82.866 mortes, superando o mês de março, com 66.573 óbitos. Foram os meses mais mortais da pandemia no Brasil, com picos acima de 4.000 mortes num só dia. A pasta destaca, ainda, que o resultado aponta para uma recuperação mais rápida do Brasil em comparação com outros países. “Na amostra de 30 países e grupos da OCDE que já divulgaram seus resultados trimestrais, o Brasil apresentou desemprenho de PIB acima da média no resultado interanual e no acumulado em quatro trimestres”. O ministério acredita que o país fechará com PIB acima de 5% neste ano, sem cravar exatamente quanto.
Entre janeiro e março, a atividade econômica havia crescido 1% na comparação com o mesmo trimestre de 2020, e 1,2% em comparação aos três meses anteriores (outubro a dezembro do ano passado). No acumulado do semestre, o PIB avançou 6,4% — ou 1,8% em 12 meses, que levam em conta a base deprimida de 2020. A pesquisa Focus, do Banco Central, com as projeções de uma centena de instituições financeiras, projeta que a atividade econômica deve avançar 5,22% em 2021, abaixo do que estava sendo projetado no início deste mês (5,30%).
Segundo o economista André Perfeito, da Necton Investimentos, basta que o país cresça 0,5% nos próximos trimestres para que o país feche com um crescimento na média de 5%. O recuo dos investimentos produtivos, porém, preocupa. Segundo ele, faltam componentes dinâmicos para um PIB mais robusto, e há problemas reais que batem à porta do país. Entre elas, a taxa de juro alta, a inflação que afeta projeções de lucros, e a perspectiva de racionamento de energia devido à crise hídrica. “Ela afeta a inflação e o agronegócio, sem contar o custo da energia elétrica”, diz. A Necton projetava uma alta de 0,2% para este trimestre, que não se realizou. Perfeito chama a atenção, ainda, para a inflação do setor produtivo, maior do que a alta registrada ao consumidor. “Isso mostra que o empresário vai acabar fazendo ajustes”, o que deve impactar a taxa de investimento.
Ao mesmo tempo, a queda do consumo das famílias, que representa mais de 60% do PIB, preocupa no curto prazo. Além do efeito menor do auxílio emergencial, a falta de crescimento no segundo semestre reflete também a queda da massa salarial, apontada pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada nesta terça. O rendimento médio dos trabalhadores caiu 6,6% no segundo trimestre, quando comparado ao mesmo período do ano passado. “É um cenário desfavorável para o resto de 2021 e 2022. E os ruídos políticos geram prêmio de risco em juros mais longos, o que segura o consumo de bens duráveis, e também o investimento”, alerta.
Os dados do PIB chegam num momento de enorme tensão política no Brasil, que respinga na economia e mobilizou esta semana o empresariado a se manifestar pela estabilidade em prol dos negócios —incluindo os bancos, através da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Enquanto o presidente Jair Bolsonaro joga com arroubos autoritários, o Governo vem perdendo a confiança do mercado com a inflação em alta, crise hídrica e a falta de uma política fiscal consistente. A Focus já aponta para uma inflação de 7,27% este ano, 2 pontos percentuais acima do teto da meta do BC, o que deve impactar também no PIB.
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