Acusada de matar o marido, Flordelis é presa dois dias após perder o mandato de deputada
Sem imunidade parlamentar, a pastora evangélica chegou à Delegacia de Homicídios de Niterói por volta de 19h15. Nas redes sociais, pediu orações e disse que estava sendo presa por algo que não fez
A deputada federal cassada Flordelis dos Santos, de 60 anos, foi presa nesta sexta-feira por ser a principal suspeita de mandar matar o seu marido, o pastor Anderson do Carmo, segundo a acusação do Ministério Público do Rio. Ele foi assassinado com 30 tiros na porta de casa, em Niterói, no dia 16 de junho de 2019. A prisão preventiva, decretada pela juíza Nearis Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, ocorre dois dias depois de Flordelis ter o seu mandato cassado pela Câmara dos Deputados, e dois anos e dois meses depois do crime.
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Com a perda do mandato —por 437 votos a favor da cassação, sete contrários e 12 abstenções—, Flordelis perdeu também a imunidade parlamentar. Sua prisão se dá após um perdido dos advogados da família de Anderson e outro do Ministério Público no Rio, protocolado também nesta sexta. De acordo com o portal G1, ela foi presa em sua casa por volta de 18h40, em Niterói. A cantora e pastora deixou sua residência levando uma Bíblia e dizendo a seus familiares: “Amo vocês, fé em Deus”. Chegou à Delegacia de Homicídios de Niterói às 19h15.
Momentos antes de ser levada pelos policiais, Flordelis divulgou um vídeo em suas redes em que pede orações e diz que estava sendo presa por algo que não havia feito. “Olá gente, chegou o dia que ninguém desejaria chegar. Estou indo presa por algo que eu não fiz, por algo que eu não pratiquei. Eu não sei para quê, mas estou indo com força e com a força de vocês”, afirmou no vídeo. “Orem por mim. Orem, orem. Uma corrente de oração na internet. Busquem a deus, está bom? Um beijo, amo vocês.”
Flordelis foi formalmente acusada de mandar matar Anderson em agosto de 2020. O Ministério público denuciou outras 10 pessoas por participação no crime. Famosa desde os anos de 1990, ficou conhecida por adotar 37 crianças e adolescentes pobres sobreviventes de uma chacina. Ela e Anderson, vários anos mais jovem —e que havia chegado à família primeiro como filho adotivo—, formaram juntos uma imensa família de 55 filhos. Ambos haviam passado até então uma imagem harmoniosa de altruísmo e felicidade. Ela tinha uma longa carreira, que inspirou um filme sobre sua vida, e chegou a ganhar um disco de ouro como cantora gospel. Durante o enterro do ex-marido, em 2019, ela chorou desconsolada, enquanto vários parentes a ajudavam a se manter em pé.
Imediatamente após o assassinato, contudo, dois dos seus filhos foram presos. Um deles, detido ainda no velório do padrasto após ser acusado de apertar o gatilho, confessou o crime; o outro foi preso por conseguir a pistola. A investigação indicou um ano depois que Flordelis havia tentado matar o marido pelo menos outras quatro vezes com a cumplicidade de parte da prole. De acordo com a polícia, a então deputada federal ordenou que seus filhos matassem o pai em meio à disputa por poder e dinheiro na Igreja que ambos fundaram. Um dos investigadores chegou a afirmar na ocasião que havia “20% da família envolvida nesse crime”. Ele se referia aos 11 detidos no caso até então, entre filhos e netos.
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