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Pazuello vai a TV prometer vacinação em janeiro e compras mesmo sem aval da Anvisa

Ministro anuncia MP para compra de insumos e cita que, em 2021, o Brasil terá 354 milhões de doses de imunizantes, mas, por ora, só 98 milhões de seringas e agulhas para aplicá-los

O ministro Pazuello e o presidente Bolsonaro no dia 16 de dezembro, em Brasília.
O ministro Pazuello e o presidente Bolsonaro no dia 16 de dezembro, em Brasília.EVARISTO SA (AFP)

Em meio a uma nova escalada da covid-19 em várias cidades do Brasil e quando país está prestes a bater 200.000 mortes provocadas pela pandemia, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, usou uma cadeia de rádio e TV nesta quarta-feira para responder as críticas e dizer que o país está preparado para começar a vacinar a população contra a covid-19 ainda em janeiro, ainda que faltem ainda vários elementos do plano nacional de imunização. Afirmou que, em breve, o Brasil até exportará os imunizantes. No pronunciamento, o ministro anunciou disse que a Medida Provisória da Vacina, assinada nesta quarta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro, permitirá a compra do imunizante contra o novo coronavírus antes mesmo de sua aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Foi a primeira vez que Pazuello, um general que assumiu o posto em meio à uma crise no Ministério da Saúde, usou uma cadeia nacional de rádio e televisão. A data chama atenção, já que nesta quinta-feira, o Instituto Butantan, ligado ao Governo do paulista João Doria (PSDB), adversário de Bolsonaro, deve apresentar dados técnicos sobre a a Coronavac, a vacina que está produzindo em parceria com um laboratório chinês e está em última fase de testes.

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A ansiedade pela vacina, quando alguns países do mundo já começa a imunizar grupos prioritários, acontece quando o Brasil volta a apresentar cifras sombrias na pandemia. Nesta quarta, o Brasil registrou 1.242 novas mortes pela covid-19 e soma 198.974 vidas perdidas desde o começo da crise sanitária, segundo o Ministério da Saúde. A cifra é a mais alta desde o dia 25 de agosto, quando foram registrados 1.271 óbitos em um dia.

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Durante sua fala, o ministro ainda citou que o país terá ainda neste ano 354 milhões de doses do imunizante, na conta, incluiu 254 milhões que estão sendo produzidos pela Fiocruz em parceria com a Astrazeneca/Oxford e 100 milhões feitas pelo Butantan em parceria com a Sinovac. Essa é mais uma reviravolta na batalha político-ideológica sobre a vacinação. Bolsonaro e Doria já foram aliados. Agora, são adversários e estão numa corrida contra o tempo para ver quem será o responsável por entregar as primeiras vacinas para a população. O presidente já havia dito que não compraria a vacina produzida pelo Butantan em parceria com o laboratório chinês. Agora, voltou atrás.

Segundo o ministro, ainda estão sendo negociados acordos de aquisição com os laboratórios Gamaleya, da Rússia; Janssen, Pfizer e Moderna, dos Estados Unidos; e Barat Biotech, da Índia. Sobre a Pfizer, que foi uma das primeiras farmacêuticas a vacinar no mundo, Pazuello disse que o governo tenta resolver “imposições que não encontram amparo na legislação brasileira”. Citou a isenção de responsabilização civil por efeitos colaterais advindos da vacinação, a transferência do foro de julgamento de possíveis ações judiciais para fora do Brasil, além da disponibilização permanente de ativos brasileiros no exterior para criação de um fundo caução para custear possíveis ações judiciais.

Diante de seguidas críticas acerca da falta de empenho na compra de seringas e agulhas, o ministro ainda afirmou que o país já dispõe ou irá dispor ainda no início deste ano de 98 milhões delas – 60 milhões que já estariam com Estados e Municípios, 8 milhões que seriam entregues pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) e 30 milhões negociadas com as indústrias brasileiras. Ainda faltariam 256 milhões para contemplar todas as doses adquiridas. Essa quantidade ele não detalhou de onde viria.

Pazuello, ainda afirmou que, no “que depender do Ministério da Saúde e do Presidente da República, a vacina será gratuita e não obrigatória”. Algo que contraria recente decisão do Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro já disse mais de uma vez que ele não se vacinará, o que tem estimulado movimentos antivacinação pelo país.

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