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João Campos: “O único preconceito que eu vi na campanha foi contra a minha juventude”

Candidato do PSB à Prefeitura do Recife nega que seja machista. Diz ainda que sua gestão não terá interferência da mãe e que não aceitará indicações do PT

O candidato à prefeitura do Recife João Campos (PSB) em evento de campanha no dia 26 de novembro de 2020.
O candidato à prefeitura do Recife João Campos (PSB) em evento de campanha no dia 26 de novembro de 2020.Alexandre Gondim

No dia em que completou 27 anos de idade, na última quinta-feira, João Campos (PSB) foi recebido por cerca de cem funcionários de uma empresa que presta serviço de assistência de saúde domiciliar no Recife, a Interne. Na ocasião, concedeu uma breve entrevista ao EL PAÍS, em que se defendeu da acusação de sexismo ao atacar sua adversária e prima de segundo grau, Marília Arraes (PT), uma inédita disputa dos herdeiros de Miguel Arraes, bastião da política pernambucana, e fundador do PSB. Ainda disse sofrer preconceito por ser jovem e afirma que não será influenciado por sua mãe, Renata Campos, caso seja eleito prefeito da capital pernambucana no próximo domingo.

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No último fim de semana, centenas de panfletos apócrifos foram entregues em portas de templos religiosos no qual há uma foto da petista e os dizeres: “Cristão de verdade não vota em Marília Arraes”. Afirma que ela defende temas caros aos religiosos, como apoio ao aborto e legalização das drogas. A reportagem tentou contato com a candidata Marília Arraes, mas ela não atendeu aos pedidos de entrevista feitos há dez dias por intermédio de sua assessoria.

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Pergunta. Por qual razão você mudou o tom nesse segundo turno e passou a atacar sua adversária?

Resposta. A campanha é de dois turnos. Fui agredido desde o início por todos os meus opositores, inclusive pela atual adversária no segundo turno, de maneira muito forte. Fui agredido de ordem pessoal. Minha família foi agredida. Isso ficou muito nítido. Eu ganhei mais de 60 decisões judiciais a meu favor porque fui vítima de fake news, injúria, de ódio. Se você somar todas as candidaturas de oposição, não chegam a esse número na Justiça. No segundo turno, é natural que se façam comparações entre as candidaturas. Jamais agredi ninguém de ordem pessoal, embora eu tenha sido agredido dessa forma. O único preconceito que eu vi na campanha foi contra a minha juventude. Jamais vou permitir uma agressão de ordem pessoal. Agora, o debate no campo das ideias, das propostas, é natural de ser feito.

P. Mas houve um ataque à sua adversária.

R. Eu questionei e continuo a questionar acusações do Ministério Público de improbidade administrativa, da ocorrência de funcionários fantasmas [no gabinete de Marília], da pouca produtividade do mandato dela. Isso é uma crítica administrativa e sempre vai ser feita porque na política é natural existir o contraditório. [ Esse processo foi arquivado pela Promotoria].

Panfletos apócrifos distribuídos em frente a templo religioso no Recife.
Panfletos apócrifos distribuídos em frente a templo religioso no Recife.Reprodução

P. Houve a distribuição de panfletos que questionam a fé religiosa dela. E também há críticos que dizem que você faz uma campanha sexista, que tem preconceito contra uma mulher.

R. Minha campanha nunca autorizou e eu jamais vou autorizar nenhuma agressão de ordem pessoal ou nenhum material apócrifo. Minha candidatura foi à Justiça pedir investigação desse material. Se alguém colocou um material apócrifo tem de ser investigado, porque isso é crime. Desafio as pessoas a encontrarem qualquer agressão minha de ordem machista ou preconceituosa contra qualquer pessoa. Agora, se você for ver da candidatura adversária, tem afirmações preconceituosas contra mim. Tem afirmações machistas contra pessoas da minha família, contra a nossa candidata à vice-prefeita [Isabella de Roldão]. Eu não posso ser responsabilizado por algo que não fiz.

P. Como ficam os elos familiares com essa disputa? Eles foram rompidos agora ou já não existem há tempos?

R. Não existe disputa familiar. Existe uma disputa política entre duas candidaturas de partidos diferentes, de frentes políticas diferentes, com programas diferentes pra cidade, com representações de caminhos completamente diferentes do que é o Recife, do que foi o PT, do que é a administração do PSB. Não existe nenhum componente de disputa familiar.

Minha campanha nunca autorizou e eu jamais vou autorizar nenhuma agressão de ordem pessoal

P. O que você mais questiona das propostas de sua adversária?

R. Eu discuto propostas. Uma delas eu levei em um debate. Ela diz que irá acabar com todas as palafitas da cidade. Eu perguntei como ela ia fazer e qual era o custo. Ela disse que era zerar e fiz a conta. São 26.000 palafitas, segundo a própria candidata. Pela faixa 1 do programa Minha Casa Minha Vida, dá 83.000 reais por casa, ao custo total de aproximadamente 2,1 bilhões de reais para zerar as palafitas. Em quatro anos, a prefeitura tem 2 bilhões de reais para investir em todas as áreas: segurança, educação, saúde, iluminação. Em tudo! Eu disse que essa proposta dela não era possível. No debate seguinte, eu repeti a pergunta. Perguntei, como ela iria zerar. Aí, ela disse que nunca havia feito essa promessa e que eu estava mentindo. Eu estou fazendo a campanha no campo das ideias. Eu fui desrespeitado na campanha inteira por ser jovem.

P. Essa questão da experiência é recorrente. Há quem diga que não é possível se tornar diretor de uma empresa sem passar por outros cargos antes, sem ter uma bagagem prévia.

R. O Facebook, o Instagram e o WhatsApp foram criados por jovens com menos de 27 anos de idade. Não estou dizendo que sou melhor do que ninguém, agora, não posso ser visto com preconceito pelo fato de ser jovem. Ser jovem não me incapacita, o que incapacita é você ser arrogante, não ter humildade.

P. Essa campanha no Recife sela um rompimento nacional de PT e PSB?

R. O PSB é um partido que está fazendo uma autorreforma, que discute com a sociedade o que deve ser construído pela frente. O PSB junto com o PDT, a Rede e o PV tem construído uma frente ampla nacional para discutir os rumos do Brasil. O PSB nunca se negou ao diálogo e sempre colocou a eleição do Recife como sua eleição prioritária entre as capitais brasileiras. O PSB fez o dever de casa. Passada as eleições, os partidos vão discutir isso novamente. O PSB terá um projeto importante para o Brasil.

P. Pelo que se está passando hoje, haverá muita ferida para lamber, não?

R. Os partidos vão discutir isso nacionalmente. Aqui, farei a minha gestão, seguindo nosso rumo. Tenho compromisso de, no meu governo, não aceitar indicação política do PT. Vai ser um governo construído de maneira técnica, eficiente que tenha condição de entregar resultados.

P. Nos bastidores, há quem diga que quem vai mandar na prefeitura caso você se eleja serão o atual prefeito, Geraldo Júlio, e sua mãe, Renata Campos. Uma das pessoas que disse isso foi seu tio Antônio Campos. Você terá independência para administrar a cidade?

R. Não vou responder sobre isso, mas eu jamais fiz qualquer agressão machista contra ninguém. Mas minha família tem sido vítima disso. Inclusive a minha mãe, que é alvo de afirmações machistas. Eu respeito as pessoas e espero que as pessoas possam também respeitar.

Quem conduz a minha campanha, sou eu

P. Qual é a participação de sua mãe na sua campanha?

R. Ela não tem participação na minha campanha. Ela é uma referência, junto com o meu pai, que eu tenho em minha vida. Acho que a relação entre mãe e filho deve ser sempre respeitada. É algo fundamental na vida, respeitar a família das pessoas. Quem conduz a minha campanha, sou eu. Quem vai montar o meu Governo, sou eu. Assim como eu montei o meu mandato. Quando eu fui escolher meu gabinete, eu fiz uma seleção pública. Eu fiz uma inovação que nenhum deputado federal no Nordeste tinha feito. Eu fiz porque tenho o compromisso de inovar e de fazer do meu jeito. Vou fazer uma gestão que será referência na inovação.

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