Ministério da Saúde exclui Coronavac de possível acordo de compra e diz não ter dados para admitir segunda onda
Ministério da Saúde iniciou uma série de diálogos com farmacêuticas. Secretário diz que, por causa de ataque hacker, ainda não é possível saber se casos de coronavírus voltaram a subir no Brasil
O Ministério da Saúde iniciou uma série de reuniões com representantes de farmacêuticas que têm feito estudos clínicos para produzir vacinas contra o coronavírus. Cinco foram selecionadas para as conversas. Até o momento, não foi incluída neste grupo a chinesa Sinovac, que produz uma vacina em parceria com o Instituto Butantan, um órgão do governo do Estado de São Paulo. A razão da exclusão não foi explicada pelos técnicos da pasta que concederam uma entrevista coletiva nesta quinta-feira. Na semana passada a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) iniciou uma guerra de versões com o Butantan e paralisou, por dois dias os testes por conta da morte de um voluntário. A morte não teve relação com a vacina, como se soube na sequência – foi um suicídio.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é atualmente um dos adversários políticos do governador paulista, João Doria (PSDB). Eles estiveram juntos nas eleições de 2018, quando foram eleitos para seus respectivos cargos em segundo turno. Agora, um acusa o outro de querer politizar o tema da imunização. Bolsonaro já desautorizou o Ministério da Saúde de assinar qualquer acordo com a farmacêutica chinesa, que nesta semana enviou as primeiras 120.000 doses de sua Coronavac. O tema irritou Doria.
“É hora do governo federal se concentrar no trabalho da vacina, sem excluir nenhuma. Diante de uma pandemia, é triste ver o descalabro do Ministério da Saúde em relação ao que deveria ser a prioridade neste momento”, disse o governador nesta quinta. Na ocasião, Doria anunciava a chegada das primeiras doses. O Butantan pretende produzir 46 milhões de vacinas. As primeiras ficariam prontas daqui a 40 dias. O presidente do instituto, Dimas Covas, diz que se tivesse apoio do Governo Bolsonaro, o órgão teria condições de produzir 100 milhões de doses até maio de 2021.
Segundo o secretário-executivo do ministério, o coronel Élcio Franco, ao fim dos debates há a possibilidade de se firmar “memorandos de entendimento, não vinculantes, para possíveis futuras aquisições”. Até o momento, ocorreram encontros com representantes da germano-americana Pfizer/Biontech, da americana Janssen, da russa Sputinik V e da euro-americana Moderna. Na sexta-feira, será a vez de se reunir com técnicos da indiana Covaxin. Além desse grupo, o Governo tem acordos firmados com a Astra Zeneca, que faz testes para a produção em parceria com as Universidades de Oxford e a Federal de São Paulo (Unifesp).
Conforme Franco, não está prevista a compra imediata de vacinas porque nenhuma delas ainda teve sua terceira fase de estudos concluída. Ele diz que o país só fará compras quando o imunizante tiver registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária e ficar comprovado que oferece segurança, que é eficaz, que o laboratório consegue produção em escala e atenda as condições logísticas características do Brasil. O Governo tem monitorado testes de 270 vacinas contra o coronavírus pelo mundo. Dessas, 51 estão em fase clínica e nove na última etapa.
Sistema sob ataque
Nos últimos cinco dias, 18 Estados brasileiros registram altas em casos e mortes por covid-19. Ainda assim, o governo diz que não sabe se esse aumento seria uma segunda onda, como a que a Europa tem enfrentado, porque os sistemas do ministério sofreram um ataque hacker há duas semanas, o que impossibilitou a atualização dos dados da maneira como vinha ocorrendo. “Devido a essa instabilidade, não temos dados para afirmar que estamos vivendo uma segunda onda ou um recrudescimento dos casos no país”, disse o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros.
Nas últimas semanas, o país viu saltar o número de mortos por covid-19 de cerca de 200 ao dia para aproximadamente 600 ao dia. No entanto, houve dias que vários Estados não conseguiram atualizar os dados por falha na comunicação com os sistemas do ministério. O problema, conforme a pasta, foi resolvido. Mas como essa alimentação diária ficou defasada, ainda não é possível estabelecer uma média semanal, um dos instrumentos usados para apontar curvas de crescimento de óbitos e casos. Nesta quinta-feira, o Brasil registrou 35.918 novos casos e 606 óbitos. Desde o início da pandemia, em março, já foram 5,9 milhões de infectados e 168.061 mortos pela covid-19.
A pressão política sobre a atuação do Governo diante do aumento de casos já começou. O Conselho Nacional de Secretário de Saúde solicitou uma reunião com o ministro Eduardo Pazuello, na qual pretende pedir 3 bilhões de reais em recursos para ajudar no enfrentamento de um repique nos casos e a disponibilização de 20 milhões de testes rápidos, de acordo com o jornal O Globo. “Qualquer expressão de negação do risco de uma nova expansão da doença em território nacional poderá levar a um cenário de tragédia epidemiológica de proporções piores aos vividos na primeira expansão de casos. As vidas perdidas até aqui para o coronavírus não podem ser ignoradas. A melhor resposta que o poder público pode dar, em nome do luto de milhares de famílias brasileiras, é uma ação à altura da situação gravíssima que temos”, afirmou o presidente do Conass e secretário de Saúde no Maranhão, Carlos Eduardo Lula, no ofício em que enviou ao ministro Pazuello.
Indagado se o Ministério da Saúde poderia defender uma política de isolamento da população, diante de uma possível segunda onda, o secretário Franco não respondeu diretamente. Afirmou apenas que as orientações da pasta continuam sendo a de higienização das mãos, o uso de máscaras e álcool em gel, a ventilação de ambientes fechados e o não compartilhamento de equipamentos de usos individuais, como talheres e copos.
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