Agressividade de Bolsonaro aos jornalistas que o interrogam é grosseria ou delito?
A reação da sociedade contra a incapacidade de responder críticas e a ameaça ao repórter começa a revelar que talvez não se trate apenas de falta de educação do presidente, mas sim de algo mais grave
As ameaças do presidente Jair Bolsonaro a um jornalista d’O Globo que o interrogava sobre suas relações com o caso Queiroz ―a quem respondeu manifestando sua vontade de “encher tua boca de porrada”―, foi qualificado como grosseira e indigna do cargo que ocupa. Só isso? Seria preciso perguntar se a vontade de agressão física ao jornalista que cumpria seu dever não é também delito e covardia.
Que Bolsonaro passou de todos os limites em seus já habituais insultos a jornalistas fica claro pela reação imediata da sociedade, que em poucas horas repetiu no Twitter mais de um milhão de vezes a mesma pergunta que lhe fizera o jornalista. Sinal de que desta vez até a voz das ruas condenou, e de forma criativa, a permanente atitude de agressão aos jornalistas e à imprensa livre por parte do Estado. Condenaram-na a rua e todas as associações democráticas do país.
Seria o caso de se perguntar por que a pergunta do jornalista ao presidente desta vez o irritou tão especialmente, levando-o a passar de seus habituais insultos à ameaça de agressão física. É que o caso Queiroz continua sendo uma espada de Dâmocles sobre Bolsonaro e sua família, que fazem o possível e o impossível por esconder o suposto escândalo de corrupção e que deixa o presidente novamente à beira de um possível impeachment.
É sabido que todos os ditadores ou aspirantes a tal sempre se incomodam com os meios de comunicação e a imprensa livre. E quando chegam a tomar o poder totalmente, a primeira coisa que fazem é fechar esses meios. Talvez por saberem que o dever elementar do jornalismo como se ensina nas faculdades de todo o mundo é informar sobre o que o poder tenta esconder. Costuma-se dizer, por isso, que no jornalismo não existem perguntas impertinentes às instituições do poder, e sim respostas inúteis ou vergonhosas.
A repercussão negativa e de condenação que a grande maioria da sociedade brasileira está manifestando nas redes sociais e a solidariedade demonstrada com as ameaças de agressão ao jornalista que lhe fez uma pergunta incômoda revelam melhor que muitas pesquisas de opinião que essa sociedade ainda não se contaminou totalmente com a nova onda dos chamados “gabinetes do ódio” implantados pelas hostes do Governo Bolsonaro. As agressões contínuas às instituições democráticas provêm de uma minoria que não representa a sociedade que começa a se cansar do clima de agressividade implantado pelo presidente de extrema direita.
A reação maciça de condenação da sociedade contra a incapacidade do Governo de aceitar a crítica e concretamente as ameaças cada vez mais duras e escandalosas do presidente aos jornalistas e às instituições democráticas começam a revelar que talvez não se trate apenas de grosserias ou falta de educação de quem deveria dar exemplo, mas sim de algo mais grave.
A ameaça de “encher de porrada” a boca do jornalista é também um lapso lacaniano do presidente que revela sua impotência e medo frente à verdade e à liberdade.
Existem muitos parâmetros para medir o grau de democracia e de liberdade de uma sociedade, mas sem dúvida um dos indiscutíveis é a capacidade de respeitar os controles que a Constituição, através da informação livre, impõe aos poderes da República. Tudo indica que o presidente do Brasil está ultrapassando todos os limites que o colocam à beira da incompatibilidade com o cargo que lhe foi dado pelas urnas e que ele parece pretender transformar em um poder absoluto e punitivo. Até quando?
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.