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Amazônia registra em junho o maior número de focos de incêndio dos últimos 13 anos

De acordo com o INPE, o último mês registrou 2.248 queimadas no bioma que fica em território brasileiro. Desde 2007 o índice não ultrapassava a marca de 2.000 incidências de fogo

Incêndio em uma área de floresta amazônica em Porto Velho, Rondônia, no dia 9 de setembro de 2019.
Incêndio em uma área de floresta amazônica em Porto Velho, Rondônia, no dia 9 de setembro de 2019.Fernando Bizerra (EFE)
Felipe Betim

A Amazônia brasileira registrou, apenas no último mês de junho, 2.248 focos ativos de incêndio, segundo informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgadas nesta quarta-feira. O dado aponta que a quantidade de queimadas aumentou 19,6% em comparação a junho de 2019, quando a instituição registrou 1.880 focos. Também significa que pela primeira vez desde 2007 o mês de junho ultrapassou a marca de 2.000 incidências de fogo. Naquele ano, o INPE havia registrado 3.519 focos de incêndio.

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Ao considerar o período que vai de janeiro a junho, o INPE detectou um total de 7.903 focos de incêndio na Amazônia neste ano, enquanto que no mesmo período do ano passado foram 10.606 focos de queimadas. Até o momento, houve, portanto, uma queda de 25,5% em relação a 2019. Por isso, os dados de junho preocupam, porque apontam para uma possível piora da situação.

Considerando a área da Amazônia Legal, composta pela totalidade dos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Maranhão, o mês de junho de 2020 registrou 4.596 focos de incêndio. No mesmo mês do ano anterior, quando já se registrou um valor acima dos anos anteriores, foram 4.838 focos (5% a menos que agora).

Junho marca o início da temporada de seca na Amazônia, período que se estende até outubro e que habitualmente registra maiores aumentos no número de queimadas. Os holofotes de cientistas e ambientalistas se voltam para a bioma devido à pressão da grilagem. As queimadas ilegais vêm aumentando nos últimos anos, atingindo sobretudo áreas de reserva ambiental e indígena. Após o desmatamento e retirada de madeira valiosa, o fogo serve para limpar áreas de floresta para a formação de imensas áreas de pasto, além da apropriação ilegal do território protegido.

De acordo com uma nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) publicada no início de junho, a Amazônia possui uma área de ao menos 4.500 quilômetros quadrados pronta para queimar. Isso equivale a três vezes o tamanho do município de São Paulo. O número é resultado da soma do que foi derrubado no ano passado e nos primeiros quatro meses de 2020. Ainda de acordo com o IPAM, “essa vegetação no chão pode virar fumaça com a estação seca que começa em junho em mais uma temporada de fogo intensa como observamos em 2019″.

A entidade ainda destacou que, pelos cálculos dos cientistas, o ritmo acelerado de desmatamento pode ainda derrubar 9.000 quilômetros quadrados de floresta nos próximos meses. Tudo isso também poderá virar cinzas durante a temporada mais seca da região. O IPAM ainda afirma que “o número de internações por problemas respiratórios pode aumentar expressivamente, pressionando ainda mais o sistema de saúde da região, já duramente afetado pela covid-19″.

A chegada de Jair Bolsonaro ao poder representou um desafio ainda maior para o combate ao incêndio ilegal na Amazônia. Especialistas acreditam que a retórica permissiva de Bolsonaro vem estimulando a grilagem e o garimpo ilegal na região. No ano passado, o número de focos de queimada aumentou 30% com relação a 2018 no bioma. O auge da crise foi em agosto, quando foram registrados 30.901 focos de incêndio, a maior cifra desde 2006. Ex-ministros do meio ambiente passaram a acusar Bolsonaro e o atual titular da pasta, Ricardo Salles, de desmontar a política ambiental brasileira. O país também passou a ser pressionado por lideranças e entidades internacionais, como o presidente francês Emmanuel Macron.

Bolsonaro tentou aplacar a pressão internacional alocando o vice-presidente Hamilton Mourão na coordenação do Conselho da Amazônia e colocando o Exército para auxiliar na fiscalização da floresta. Ainda assim, investidores vem se afastando do país e fontes diplomáticas europeias consultadas pelo EL PAÍS recentemente disseram que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia corre o risco de não ser implementado.

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