_
_
_
_

Brasil supera 20 mil mortes por covid-19 e admite que não tem como checar causa de outros 11.000 óbitos suspeitos

Falta de testes ou falha na coleta das amostras impede averiguar o que provocou falecimentos por síndrome respiratória aguda grave, um quadro comum na infecção por coronavírus

Agentes funerários carregam o corpo de Avelino Fernandes Filho, 74, que morreu por covid-19, no Rio de Janeiro.
Agentes funerários carregam o corpo de Avelino Fernandes Filho, 74, que morreu por covid-19, no Rio de Janeiro.RICARDO MORAES (Reuters)

O Brasil alcançou, nesta quinta-feira, a triste marca de 20.047 pessoas que perderam a vida pela covid-19 (com um recorde de 1.188 mortes registradas em 24 horas). O Ministério da Saúde investiga, até o momento, outros 3.534 mil óbitos suspeitos de terem sido provocada pela doença. Há ainda um número ainda mais expressivo que não entrou e não vai entrar nessa conta por questões técnicas e de falta de testes: desde o começo da pandemia, o país registrou outras 11.730 mortes por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) —uma condição provocada pela covid-19, mas também por outras doenças—, mas jamais saberá quantas delas foram causadas pelo novo coronavírus. O Ministério da Saúde admite que isso se deve ao fato de esses pacientes não terem sido testados ou de que a amostra não tenha sido colhida de forma correta ou no tempo adequado para a análise.

Mais informações
Un grupo de personas asiste a un sepelio en una tumba colectiva, el 23 de abril de 2020, en un área abierta en el cementerio Nossa Senhora Aparecida, en la ciudad de Manaos, Amazonas.
Brasil falha em distribuir testes da covid-19 e não tem ideia de quantos exames já realizou
Workers of a funeral parlour, wearing protective clothing, place in a casket the body of Valnir Mendes da Silva, 62, that was laying on a sidewalk of Arara community, where he died after residents requested help from the emergency service as he was suffering from breathing problems, during the coronavirus disease (COVID-19) outbreak, in Rio de Janeiro, Brazil, May 17, 2020. According to the residents, the body took about 30 hours to be removed. REUTERS/Ricardo Moraes
Com gestão caótica, Brasil se torna o terceiro país do mundo com mais infectados
A intensidade da pandemia que o Brasil (quase) não contabiliza

“Como não há, no país, outra epidemia relevante neste momento, certamente grande porcentagens dessas mais de 11.000 mortes são por covid-19”, explica o epidemiologista Antonio Silva Lima Neto, membro do Comitê Científico do Consórcio Nordeste para enfrentamento da pandemia.

Outros dados que comparam a síndrome respiratória aguda grave de 2020 com a incidência em anos anteriores ajudam a mostrar a agressividade da covid-19 e reforçam a hipótese de que boa parte dos óbitos deixados fora da conta sejam, na verdade, fruto da pandemia. Em 2020, as internações por esse quadro grave de insuficiência repiratória foram 637% maiores do que no mesmo período do ano passado, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no ano de 2019 inteiro morreram cerca de 3.800 por causa da SRAG.

Oficialmente, o Brasil contabiliza 310.087 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus, com 18.508 novas notificações em 24 horas. Eduardo Macário, diretor do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de doenças não transmissíveis do Ministério da Saúde, afirmou nesta quinta-feira que o país está em uma fase de aceleração na quantidade de casos e que ainda não é possível dizer quando será o pico da doença. “Começamos a perceber que em alguns Estados do Norte e Nordeste há uma estabilização nos números, mas, em relação ao Brasil como um todo, ainda é prematuro falar em desaceleração”, afirmou. Macário atribuiu em partes o aumento no número de casos a uma maior capacidade de testagem no país, mas a verdade é que o Brasil realiza sete mil testes por dia, quando outros países muito afetados, como Estados Unidos e Itália, realizam entre 30 mil e 50 mil testes diários. Esse gargalo é que o explica, pelo menos em parte, as mortes que não entram na conta oficial da pandemia no país.

Os dados divulgados pelo ministério nesta quinta-feira apontam a expansão do novo coronavírus pelo interior do território brasileiro. Se no final de março 297 municípios brasileiros tinham casos de covid-19, hoje são 3.488 cidades com pessoas infectadas. Os aumentos mais significativos ocorreram nas regiões Norte e Nordeste, onde 79% e 74% dos municípios têm casos confirmados. Durante a manhã, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, disse ver uma “redução significativa de casos” em grandes cidades dessas regiões, mas que são as cidades do interior que preocupam. “A progressão para o interior desses estados é inevitável. Vai acontecer. Temos que estar preparados, aumentando a capacidade ainda dessas capitais e cidades maiores, porque elas serão o destino das pessoas que vão buscar o tratamento. Precisamos investir na capacidade de transporte, respiradores de transporte, estrutura para fazer as evacuações, que nos permitam que a gente traga das cidades do interior para tratamento”, afirmou Pazuello na abertura da reunião da Comissão Intergestores Tripartite, instância do Sistema Único de Saúde (SUS) que reúne a União, estados, municípios e a Organização Panamericana de Saúde.

“Claro que hospitais do interior que permitam ter uma progressão para rede de UTI e outros tipos de estrutura devem ser trabalhados”, acrescentou o ministro interino. Mais tarde, durante uma coletiva de imprensa, Eduardo Macário comentou que essa “interiorização” do novo coronavírus teria também a ver com a sazonalidade climática do Norte e Nordeste brasileiros, com a proximidade dos meses de inverno. O epidemiologista Antonio Neto discorda. “Trata-se de uma progressão tradicional de qualquer vírus respiratório. À medida em que o tempo passa, ele vai chegando a outras cidades. Geralmente, concentra-se nas capitais e depois espalha-se nas cidades menores”, diz. Ele dá como exemplo seu estado, o Ceará, onde, inicialmente, os casos de covid-19 concentraram-se em Fortaleza —"A capital tornou-se uma espécie de hub aéreo, com a chegada de muita gente contaminada no exterior"— e agora assustam o interior. “Esse padrão de deslocamento deve se repetir nos Estados vizinhos”, conclui.

Informações sobre o coronavírus:

- Clique para seguir a cobertura em tempo real, minuto a minuto, da crise da Covid-19;

- O mapa do coronavírus no Brasil e no mundo: assim crescem os casos dia a dia, país por país;

- O que fazer para se proteger? Perguntas e respostas sobre o coronavírus;

- Guia para viver com uma pessoa infectada pelo coronavírus;

- Clique para assinar a newsletter e seguir a cobertura diária.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_