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Em reunião com ministros, Bolsonaro falou de Polícia Federal e disse que não esperaria alguém"f." sua família

Transcrição de encontro, entregue pela Advocacia-Geral da União, contraria versão de presidente, que havia dito que não tinha falado sobre PF. “Vai trocar. Não pode trocar o chefe? Troca o ministro”, afirmou

Bolsonaro em Brasília, na última quarta-feira.
Bolsonaro em Brasília, na última quarta-feira.Joédson Alves (EFE)
Gil Alessi

A transcrição do áudio de uma reunião ministerial ocorrida em abril e divulgada nesta quinta-feira fortalece a tese levantada pelo ex-ministro Sergio Moro de que o presidente Jair Bolsonaro agiu politicamente para proteger seus filhos e outros familiares de investigações da Polícia Federal no Rio. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança da ponta de linha que pertence à estrutura”, afirmou o mandatário, segundo transcrição feita pela Advocacia-Geral da União e entregue ao Supremo Tribunal Federal, que ocultou o palavrão falado pelo mandatário, segundo interlocutores. Em seguida, ainda de acordo com o documento da AGU, Bolsonaro afirma que trocaria até ministro para que sua vontade seja atendida: "Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Não pode trocar o chefe? Troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”.

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A transcrição do áudio da reunião foi entregue ao STF a pedido do ministro Celso de Mello, responsável pelo inquérito que investiga as acusações de Moro envolvendo Bolsonaro e a PF. Ao pedir demissão em 24 de abril, o ex-juiz disse que o presidente queria interferir politicamente na polícia, e que a gravação desta reunião ocorrida no dia 22 (ou seja, dois dias antes de seu desembarque do Governo) feita pelo próprio Planalto comprovaria sua tese. O mandatário teria, segundo Moro, demonstrado interesse na troca do então diretor-geral da entidade, Maurício Valeixo, e do superintendente do Rio: ambas as substituições se concretizaram nos dias seguintes à saída de Moro. Especula-se que Bolsonaro temia que a PF avançasse sobre seus filhos Carlos e Eduardo, envolvidos em um esquema de divulgação de notícias falsas, e Flávio, que teve parentes de milicianos lotados em seu gabinete quando deputado estadual pelo Rio. Além disso, o primogênito do clã se viu envolvido em investigações da Polícia Civil sobre um possível esquema de rachadinha, ou cobrança de parte do salário de funcionários.

No mesmo trecho da reunião transcrito pela AGU, Bolsonaro também dá a entender que buscava contar com a PF para obter informações sensíveis. "A PF que não me dá informações, eu tenho a inteligência das Forças Armadas que não tem informações; a ABIN tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente. Temos problemas (...) a gente não pode viver sem informação”, disse. Este trecho da transcrição —feita pela própria AGU— contradiz o que o presidente afirmou na terça-feira, quando disse à imprensa que não havia no vídeo “a palavra Polícia Federal e nem superintendente”. “Não tem investigação, e não tem família”, complementou, apelando para a literalidade de sua fala, posteriormente desmentida pelo documento enviado pela AGU ao STF.

Inicialmente a AGU recorreu ao STF para evitar que o Governo tivesse que entregar o vídeo —que segue sob sigilo de Justiça temporariamente. Em seguida, pediram para enviar apenas o trecho da reunião na qual Bolsonaro fala sobre a demissão de Moro, o que foi negado pela Corte, que exigiu a íntegra do material.

No inquérito que envolve Moro e Bolsonaro, o presidente pode ter cometido os crimes de falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de justiça, enquanto sob Moro pesam os possíveis delitos de corrupção passiva privilegiada, denunciação caluniosa e crime contra a honra. Terminada esta etapa inicial do inquérito, que envolve oitivas e análise de provas, a Procuradoria-Geral da República pode optar por apresentar denúncia contra o presidente. A matéria então iria para a Câmara dos Deputados, que votaria por autorizar ou não o recebimento da mesma pelo STF. Caso os parlamentares não deem aval para o seguimento do caso, a denúncia fica suspensa até o término do mandato de Bolsonaro. Se eles autorizarem, o mandatário é afastado e julgado pela Corte, podendo até perder o cargo.

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