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Com projeção oficial de até triplicar mortes nos próximos 10 dias, São Paulo se prepara para reabertura econômica

Pressionado por setores da indústria e do comércio, Doria anuncia plano para retomada das atividades não essenciais a partir de 11 de maio. 8 Estados relaxam quarentena

Homem passeia com cachorros em uma rua de São Paulo no último dia 17.
Homem passeia com cachorros em uma rua de São Paulo no último dia 17.Fernando Bizerra (EFE)
Marina Rossi

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta quarta-feira o “Plano São Paulo” de reabertura das atividades econômicas após o período de isolamento social para conter o coronavírus que vigora desde 21 de março. O anúncio no entanto, não foi seguido de nenhum detalhamento além de uma data para acontecer: a partir de 11 de maio, quando a quarentena termina no Estado. Embora Doria diga que trata-se de um plano com “base na ciência”, as projeções, por si só, não apontariam para este caminho. Até o dia 3 de maio, São Paulo pode saltar dos atuais 1.134 mortos para 2.900, segundo as projeções oficiais. Isso se o isolamento social for mantido. Do contrário, números do próprio Governo apontam para 3.200 mortes, ou três vezes mais do que agora.

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Pressionado por entidades empresariais, da indústria e do comércio, com quem se reuniu na semana passada, o governador disse que trará mais informações sobre a reabertura no próximo dia 8. Com isso, Doria ganha tempo com o setor, que, no caso dos comerciantes, já pede para abrir as portas no dia 1º de maio. Mas a decisão, garante o Governo, será tomada colocando a saúde, e não a economia, em primeiro lugar. “Aqui em São Paulo nem a economia nem a política se sobrepõem à instrução e à orientação da saúde e da medicina”, disse Doria. “Numa pandemia como essa, quem determina nossos passos são a saúde e a medicina”.

Os passos do Governo paulista devem ser seguidos por conta de um “ligeiro achatamento” mencionado pelo secretário da Saúde José Henrique Germann sobre a curva de crescimento dos casos confirmados da doença no Estado, que nesta quarta chegaram a 15.014. E esse é um dos critérios que será levado em conta para que o Governo anuncie a retomada dos serviços não essenciais. “É uma decisão epidemiológica”, disse o infectologista David Uip, coordenador do centro de contingência para o coronavírus em São Paulo. “Existe um plano que depende da evolução do vírus e das curvas epidemiológicas”.

8 Estados e interior de São Paulo

Os movimentos de São Paulo, epicentro da pandemia que já matou quase 3.000 pessoas no Brasil oficialmente, também acontecem quando o relaxamento das medidas de isolamento social chega a ao menos outros oito Estados, com menos casos e mortes. Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Espírito Santo, Paraíba, Sergipe, Tocantins e Distrito Federal anunciaram algum grau de redução da quarentena. Na capital catarinense, Florianópolis, foi liberado o comércio e shoppings em geral. No Rio, segundo Estado no ranking de mortes pela doença, o Governo também estuda medidas de flexibilização a partir de 11 de maio.

De acordo com o Governo paulista, a “nova quarentena”, como está sendo chamado o plano de retomada em quase 20 dias, só poderá ser estabelecida caso alguns critérios econômicos e do sistema de saúde forem considerados. Na saúde estão o cenário de evolução da pandemia, leitos disponíveis e capacidade de testagem. Nesta quarta, Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, afirmou que a fila de 17.000 exames que aguardavam por análise até a semana passada, agora está zerada. A gestão Doria garantiu que tem condições de acompanhar a evolução da ocupação de leitos em cada cidade, de monitorar o vírus por meio de testagem em massa e que a rede pública de saúde dá conta da demanda por hospitais, de acordo com as projeções feitas.

Projeção do Governo de São Paulo para o número de mortes por coronavírus nos próximos dias. Fonte: Governo do Estado de São Paulo.
Projeção do Governo de São Paulo para o número de mortes por coronavírus nos próximos dias. Fonte: Governo do Estado de São Paulo.

Já no cenário econômico, os critérios estabelecidos para a reabertura do setor serão a adesão às restrições no decorrer da quarentena, protocolos de saúde e higiene no trabalho e a definição regionalizada das medidas de retomada. Ou seja, um mapeamento do Estado que aponte a situação dos municípios —à revelia das regras atuais, algumas cidades, como o Guarujá, já decidiram por conta própria alterar as regras. São Paulo nunca chegou a atingir os 70% de isolamento social considerados ideal pelo Governo, oscilando sempre próximo aos 50%. Já há alguns dias, David Uip vem afirmando que 50% é um “bom número”, uma suavizada no discurso até então cravado na idealização dos 70%, que foi compartilhada pelo governador nesta quarta. “O temor das pessoas é claro. Por isso mais de 50% delas estão em casa”, disse Doria.

Na semana passada, reportagem do EL PAÍS detalhou que o número de óbitos tanto suspeitos quanto confirmados em decorrência da covid-19 é muito maior nas periferias da capital. No entanto, até o momento, o plano de retomada não sinalizou para nenhuma medida específica a ser tomada nas franjas da cidade, onde o isolamento social vem se mostrando ainda menor do que no restante do município.

“São Paulo não parou”

Diante dos números sombrios previstos para a economia —de acordo com analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central o PIB brasileiro deve recuar quase 3% neste ano, Doria fez questão de afirmar que 74% de toda a estrutura da economia do Estado seguiram suas atividades durante o isolamento social, que teve início em 24 de março, mencionando um a um os setores que continuaram na ativa. “Assim podemos calar todas as críticas injustas”, afirmou. “São Paulo não parou.” Fundador do Grupo dos Líderes Empresariais, o LIDE, o governador veio, ao longo desses quase 30 dias de quarentena no Estado, anunciado parcerias e doações milionárias do setor empresarial para o Estado.

O temor do governador é que sua nova política seja comparada à do ex-aliado e atual rival, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), contrário desde sempre às medidas de isolamento social devido aos seus impactos econômicos. Neste domingo, Bolsonaro esteve novamente nas ruas e participou de um ato pró-intervenção militar. Em São Paulo, apoiadores do presidente também foram às ruas, na avenida Paulista, pedindo pelo fim da quarentena. Nesta quarta, data da primeira entrevista coletiva desde a semana passada, Doria afirmou que manifestações devem ser feitas pelas redes sociais e não nas ruas. De acordo com ele, o setor de segurança pública do Estado está orientado para impedir qualquer fechamento de rua ou avenida na cidade.

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