Morte por coronavírus na periferia de São Paulo acende alerta para quarentena em áreas mais pobres
Estado, com 745 casos da doença, registra o primeiro óbito nas franjas da capital, onde isolamento não faz parte do cotidiano da maior parte das pessoas
O Estado de São Paulo registrou nesta segunda-feira 745 casos do novo coronavírus e 30 mortes por Covid-19. Com uma taxa de mortalidade similar à registrada na Espanha no último sábado —de 4%, segundo o Ministério da Saúde—, São Paulo mais do que dobra a letalidade por coronavírus no país: o Brasil tem 1.891 casos confirmados e 34 mortes (as outras quatro são no Rio de Janeiro) —tudo sempre considerando que os números não refletem todo o quadro, uma vez que só os casos graves estão sendo submetidos a testes. São Paulo começou a semana registrando o caso da vítima mais jovem da doença: um rapaz de 33 anos, com doenças pré-existentes, e o primeiro óbito por Covid-19 na periferia paulistana: um paciente (cujo gênero e idade não foram revelados) que deu entrada no domingo com fortes sintomas de infecção faleceu nesta segunda-feira na UPA do Hospital do Campo Limpo, zona sul da cidade. O hospital atende, no momento, cinco casos confirmados (dois deles na UTI) e 13 casos suspeitos.
“A população do Campo Limpo ainda não está adotando as medidas necessárias para prevenir o contágio. Durante o final de semana, teve um pancadão no bairro e a rua estava cheia”, lamenta Douglas Cardoso, auxiliar de enfermagem que trabalha no Hospital do Campo Limpo. Segundo ele, outro indício de movimentação no distrito foi o grande número de pessoas acidentadas que deram entrada no local durante o plantão de sábado e domingo. Para além da festa, as franjas da cidade concentram a maior parte dos trabalhadores que não conseguem parar por conta do coronavírus, dificultando a quarentena considerada necessária para barrar a propagação da doença.
No sábado (21/03), João Doria (PSDB), governador de São Paulo, anunciou que irá punir aqueles que descumprirem a determinação de suspender festas e bailes funk no Estado durante os próximos 15 dias. Nesta segunda-feira, ele reforçou, durante coletiva de imprensa, que as Polícias Militar e Civil já receberam orientações para atuar em caso de aglomerações. “Vamos adotar medidas policiais para evitar aglomerações e festas de qualquer natureza na capital e em todo o Estado. Querem sobrepor interesses pessoais e econômicos aos interesses da saúde da população”, afirmou.
David Uip infectado
O governador também anunciou que a partir de quarta-feira (25), o Estado realizará até 2.000 exames de coronavírus por dia e, a partir de sexta (27/03), 900 novos leitos serão abertos no Hospital das Clínicas para tratar pacientes de Covid-19. Um dos últimos pacientes confirmados é precisamente o médico infectologista David Uip, de 67 anos, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus do Governo do Estado de São Paulo. O resultado do teste de Uip foi divulgado nesta segunda, e ele ficará em isolamento domiciliar pelos próximos 14 dias.
“Acabo de saber que meu exame deu positivo. Estou bem, febre baixa, tosse e repouso. Ficarei em quarentena por 14 dias. Espero voltar rápido as minhas atividades. Agradeço a solidariedade. Obrigado”, disse Uip em vídeo. Doria disse que também fez o teste para coronavírus e que divulgará o resultado assim que recebê-lo.
A Prefeitura de São Paulo iniciou a montagem dos 2.000 leitos de baixa complexidade no estádio do Pacaembu (200) e no Anhembi (1.800) que serão utilizados para atender pacientes com suspeita de infecção pelo novo coronavírus. De acordo com o prefeito Bruno Covas (PSDB), é possível que as obras do Pacaembu fiquem prontas até sexta-feira e o espaço comece a funcionar na terça-feira (31/03) com a administração da organização social do Hospital Albert Einstein. As vagas nesses locais serão reguladas e disponibilizadas para pessoas que estão sendo atendidas em UBS e em hospitais.
Quarentena e vacinação
O Estado de São Paulo, que começa nesta terça um regime de quarentena com proibição de comércio não essencial por 15 dias, tem como uma das principais estratégias do Governo e da Prefeitura de São Paulo para aumentar a imunidade da população nesse período de pandemia é a campanha de vacinação contra o vírus Influenza, que começou em todo o país. Na capital paulista, além das 486 Unidades Básicas de Saúde (UBS), outros esquemas foram pensados para aumentar o alcance da imunização. As UBS poderão montar estruturas que agilizem a aplicação da vacina, onde os motoristas encostam o carro, passam por uma triagem e são vacinados, tudo sem sair do carro, como em um drive-thru.
Além disso, serão montadas tendas pela cidade para a aplicação de vacinas, que também serão oferecidas em 450 escolas municipais e em 600 instituições (associações de moradores, organizações sociais, casas de repouso, Instituições de Longa Permanência para Idosos, igrejas, templos, casas de oração, escolas de samba, entre outras). A partir do dia 13 de abril, as redes de farmácia também estarão aptas a aplicar gratuitamente a vacina. A expectativa da Prefeitura é imunizar 90% da população da cidade.
Tentativa de trégua
O Governo de Jair Bolsonaro anunciou na tarde desta segunda-feira um pacote de 88,2 bilhões de reais —entre medidas de suspensão de dívidas e transferências diretas do Fundo Nacional da Saúde— para ajudar Estados e municípios no combate ao coronavírus. Em mudança de tom, o presidente, que criticou, nos últimos dias, o modo como governadores reagiram à pandemia, saiu “bastante otimista” da reunião por videoconferência com governadores dos estados das regiões Norte e Nordeste na tarde desta segunda-feira. Bolsonaro usou as palavras “cooperação” e entendimento" para definir as conversas e disse que todos combatem “um inimigo comum”.
Em coletiva de imprensa após a reunião, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta tentou tranquilizar a população ao mencionar avanços em pesquisas sobre o coronavírus e celebrar a capacidade dos cientistas brasileiros e a “criatividade” dos brasileiros. "O SUS já começa a alargar seu sistema. Nosso esforço de produção de equipamentos de proteção individual e de ventiladores vai crescendo. Já conseguimos falar em 300 ou 400 respiradores por semana, só na produção interna para o SUS, o que já nos dá fôlego para acompanhar [a pandemia] com autossuficiência”, afirmou.
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