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Uma pequena vitória ambiental: o adeus a um dos voos mais curtos do mundo

Qatar Airways anuncia que encerrará a polêmica rota entre Maastricht e Liège, que percorria 38 quilômetros em 9 minutos

Álvaro Sánchez
Um Boeing 777 da companhia aérea Qatar Airways Cargo.
Um Boeing 777 da companhia aérea Qatar Airways Cargo.studioEAST (getty)
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Nove minutos pode ser a duração de um banho, dos aplausos para um concerto no teatro, da espera em uma ponto de ônibus. Dá para ouvir duas ou três músicas, ler um artigo, ver dois trailers no cinema. É também a duração do voo Maastricht-Liège, a rota que atiçou os ânimos dos dois lados da fronteira entre Holanda e Bélgica pelo enorme custo ambiental de permitir uma viagem aérea tão curta, de apenas 38 quilômetros.

No centro da polêmica está a Qatar Airways. Um de seus aviões Boeing 777 transporta mercadorias de Doha até a Cidade do México, com escala na cidade belga de Liège. O problema surgiu quando um cliente holandês insistiu em receber sua encomenda no aeroporto de Maastricht, alterando assim o itinerário: de Doha para a cidade holandesa, e depois para Liège. Este último trecho, de 38 quilômetros e nove minutos de duração a uma velocidade média de apenas 300 km/h, é necessário porque o aeroporto de Maastricht não está adaptado, devido à pequena extensão da pista, para permitir a decolagem de um avião de carga desse tamanho repleto de mercadorias e combustível. Assim, o carregamento é feito na cidade belga.

As decolagens e aterrissagens representam uma parte importante das emissões de poluentes de um avião. Por isso, a pequena extensão da rota, considerada um absurdo por ONGs e deputados ambientalistas, provocou uma enxurrada de críticas. “Quem você acha que é mais rápido, Tom Dumoulin em sua bicicleta ou o voo da Qatar Airways com seus controles de segurança, embarque da tripulação e taxiamento?”, perguntaram com ironia dois deputados holandeses à ministra de Transportes, fazendo referência ao popular ciclista holandês.

Embora a Qatar Airways tenha esclarecido que não se trata de um voo regular e só é realizado ocasionalmente, na Bélgica o escândalo não foi menor. No dia 10, coincidindo com a passagem do Boeing por Liège, um grupo de ecologistas despejou 150 quilos de lixo em frente ao aeroporto para protestar contra os danos da rota para o ambiente. Depois recolheram o lixo, já que o objetivo era apenas dar visibilidade a um caso que revoltaria a jovem ativista Greta Thunberg, que se recusa a andar de avião por mais distante que seja o destino de sua viagem.

À pequena mobilização se somou a denúncia pública de um vereador ambientalista de Liège, que qualificou de “aberração ambiental” o absurdo de manter uma rota de nove minutos pelo capricho de um só cliente, levando em conta que existe a possibilidade de enviar-lhe a mercadoria por trem ou em apenas meia hora por rodovia.

As reclamações surtiram efeito: o ministro belga dos Aeroportos, o liberal Jean-Luc Crucke, reuniu-se com a Qatar Airways e a empresa concordou na semana passada em encerrar a rota... assim que vencer o contrato de seis voos atualmente em vigor.

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