O novo herói americano é um cachorro
Cão que participou e foi ferido na operação contra o terrorista Al-Baghdadi recebe os elogios do presidente Trump, que publicou sua foto no Twitter e o convidou à Casa Branca
![Foto do cão militar que participou da captura de Abubaker al Bagdadi, compartilhada pelo presidente Trump.](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/E5AUHUJAGMBO6SULVV7WI4ZOQQ.jpg?auth=1ae8afab7eee864ecedf4819bc3aa5cc85979c050e9f54d0889766d77a3b6073&width=414)
![Pablo Guimón](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/https%3A%2F%2Fs3.amazonaws.com%2Farc-authors%2Fprisa%2Fa00af343-f7c5-486c-a36f-64d793d68cb2.jpg?auth=2090fde44dc3ebde7bf0c8161790a138d14fe6ac1aa7e387dbc197fc9f4fc50b&width=100&height=100&smart=true)
O mais novo herói americano é “belo” e “talentoso”. No subsolo de uma remota casa na região síria de Idlib, perseguiu por um túnel Abubaker Al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico (EI), o terrorista mais procurado pelos Estados Unidos, até que este, encurralado, detonou seu colete explosivo tirando a própria vida. O herói foi ferido, mas sobreviveu. Seu nome ainda está sob segredo de Estado. Sua idade é desconhecida. E, com a documentação gráfica disponível, um leigo na matéria não consegue distinguir seu sexo. Mas já recebeu um convite à Casa Branca, como informa pelo Twitter a correspondente do The New York Times Katie Rogers. O presidente quer conhecê-lo em pessoa. Ou, mais exatamente, em cachorro.
“Ele é chamado de K-9”, disse Trump no domingo em seu discurso à nação, em referência ao termo técnico pelo qual os cães do Exército são conhecidos. “Eu o chamo de cão. Um belo cão, um cachorro talentoso, que foi ferido e foi resgatado”.
O cachorro é um pastor belga malinois, raça de cães ágeis e inteligentes, comum entre os animais adestrados pelas forças de segurança. A confirmação veio do Clube Norte-americano de Pastores Belgas Malinois. Cairo, o cachorro que participou do ataque que matou Osama bin Laden em 2011, era da mesma raça. A identidade do cachorro, à época, despertou curiosidade ainda maior do que a dos 80 militares que participaram da operação.
Na solene entrevista coletiva feita na segunda-feira no Pentágono pelo secretário de Defesa, Mark Esper, e o general Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto, para dar detalhes da operação realizada na noite de sábado, a pergunta pelo estado de saúde e identidade do cachorro não demorou a vir. O general Miller afirmou que o cão “foi levemente ferido e se recupera totalmente”. Por ter voltado ao serviço como parte de uma unidade militar confidencial, acrescentou, não iria revelar sua identidade. Ele também pronunciou palavras elogiosas ao herói quadrúpede: “O cachorro, o canino, o cão militar realizou um serviço espetacular, como todos o fazem em diversas situações”.
Pouco depois, o presidente Trump publicou no Twitter uma foto do cão, com um fundo de tela branca, próprio de um estúdio fotográfico improvisado. Sentado (ou sentada), de olhar vivo, com a língua de fora, veste um arreio militar camuflado, e não apresenta feridas visíveis. Não foi dito onde a foto foi tirada, e se é de antes ou depois do ataque.
“Publicamos uma fotografia do maravilhoso cachorro (nome ainda sob segredo) que realizou trabalho tão bom na captura e execução do líder do EI, Abubaker al Bagdadi”, escreveu o presidente. Alguns jornalistas, ansiosos pelo furo de reportagem, afirmam que se chama Conan. Há a proposta de, até que se retire o sigilo sobre seu nome, que o mundo se refira a ele como Classy, abreviatura livre de classified (confidencial em inglês), que também significa elegante.
O Pentágono e a Casa Branca não deram maiores detalhes além dos fornecidos pelo presidente em seu discurso à nação sobre o papel do cachorro na operação militar. Mas Ron Aiello, especialista no assunto citado pelo The New York Times, dá algumas pistas. “Se estão liderando a patrulha, querem um cachorro que não seja somente um detector de explosivos, e sim um que possa ser agressivo quando ordenado”, diz. A demanda no Exército desses cães especialistas em encontrar explosivos, afirma o prestigioso jornal, cresceu nos últimos anos pela proliferação de ataques terroristas em aeroportos, shoppings e outros espaços públicos. Os especialistas alertam, acrescenta o Times, que há escassez na oferta. O preço de um cachorro totalmente adestrado pode chegar, de acordo com a Bloomberg, aos 283.000 dólares (1,13 milhão de reais).
Chama a atenção, de qualquer modo, o duplo sentido utilizado pelo presidente Trump durante seu inflamado discurso à nação no domingo em relação a esses animais. Ele descreveu, em termos sub-humanos, os últimos momentos da vida de Al Bagdadi. “Morreu como um cão. Morreu como um covarde”, disse. Mas nada teve de covarde, como ele mesmo quis destacar, o comportamento do cachorro envolvido na captura do terrorista.
Mais informações
![Três filhos de jihadistas do Estado Islâmico num hospital curdo do nordeste da Síria.](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/DU24P4XHL5JDYOSHDQDTDIR7HY.jpg?auth=ab8bd387963b3bda56cccaeb4e20d7ce8b411a0ef1ce9e87f785ae8eb8e619f1&width=414&height=311&smart=true)