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O novo herói americano é um cachorro

Cão que participou e foi ferido na operação contra o terrorista Al-Baghdadi recebe os elogios do presidente Trump, que publicou sua foto no Twitter e o convidou à Casa Branca

Foto do cão militar que participou da captura de Abubaker al Bagdadi, compartilhada pelo presidente Trump.
Foto do cão militar que participou da captura de Abubaker al Bagdadi, compartilhada pelo presidente Trump.AP
Pablo Guimón

O mais novo herói americano é “belo” e “talentoso”. No subsolo de uma remota casa na região síria de Idlib, perseguiu por um túnel Abubaker Al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico (EI), o terrorista mais procurado pelos Estados Unidos, até que este, encurralado, detonou seu colete explosivo tirando a própria vida. O herói foi ferido, mas sobreviveu. Seu nome ainda está sob segredo de Estado. Sua idade é desconhecida. E, com a documentação gráfica disponível, um leigo na matéria não consegue distinguir seu sexo. Mas já recebeu um convite à Casa Branca, como informa pelo Twitter a correspondente do The New York Times Katie Rogers. O presidente quer conhecê-lo em pessoa. Ou, mais exatamente, em cachorro.

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“Ele é chamado de K-9”, disse Trump no domingo em seu discurso à nação, em referência ao termo técnico pelo qual os cães do Exército são conhecidos. “Eu o chamo de cão. Um belo cão, um cachorro talentoso, que foi ferido e foi resgatado”.

O cachorro é um pastor belga malinois, raça de cães ágeis e inteligentes, comum entre os animais adestrados pelas forças de segurança. A confirmação veio do Clube Norte-americano de Pastores Belgas Malinois. Cairo, o cachorro que participou do ataque que matou Osama bin Laden em 2011, era da mesma raça. A identidade do cachorro, à época, despertou curiosidade ainda maior do que a dos 80 militares que participaram da operação.

Na solene entrevista coletiva feita na segunda-feira no Pentágono pelo secretário de Defesa, Mark Esper, e o general Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto, para dar detalhes da operação realizada na noite de sábado, a pergunta pelo estado de saúde e identidade do cachorro não demorou a vir. O general Miller afirmou que o cão “foi levemente ferido e se recupera totalmente”. Por ter voltado ao serviço como parte de uma unidade militar confidencial, acrescentou, não iria revelar sua identidade. Ele também pronunciou palavras elogiosas ao herói quadrúpede: “O cachorro, o canino, o cão militar realizou um serviço espetacular, como todos o fazem em diversas situações”.

Pouco depois, o presidente Trump publicou no Twitter uma foto do cão, com um fundo de tela branca, próprio de um estúdio fotográfico improvisado. Sentado (ou sentada), de olhar vivo, com a língua de fora, veste um arreio militar camuflado, e não apresenta feridas visíveis. Não foi dito onde a foto foi tirada, e se é de antes ou depois do ataque.

“Publicamos uma fotografia do maravilhoso cachorro (nome ainda sob segredo) que realizou trabalho tão bom na captura e execução do líder do EI, Abubaker al Bagdadi”, escreveu o presidente. Alguns jornalistas, ansiosos pelo furo de reportagem, afirmam que se chama Conan. Há a proposta de, até que se retire o sigilo sobre seu nome, que o mundo se refira a ele como Classy, abreviatura livre de classified (confidencial em inglês), que também significa elegante.

O Pentágono e a Casa Branca não deram maiores detalhes além dos fornecidos pelo presidente em seu discurso à nação sobre o papel do cachorro na operação militar. Mas Ron Aiello, especialista no assunto citado pelo The New York Times, dá algumas pistas. “Se estão liderando a patrulha, querem um cachorro que não seja somente um detector de explosivos, e sim um que possa ser agressivo quando ordenado”, diz. A demanda no Exército desses cães especialistas em encontrar explosivos, afirma o prestigioso jornal, cresceu nos últimos anos pela proliferação de ataques terroristas em aeroportos, shoppings e outros espaços públicos. Os especialistas alertam, acrescenta o Times, que há escassez na oferta. O preço de um cachorro totalmente adestrado pode chegar, de acordo com a Bloomberg, aos 283.000 dólares (1,13 milhão de reais).

Chama a atenção, de qualquer modo, o duplo sentido utilizado pelo presidente Trump durante seu inflamado discurso à nação no domingo em relação a esses animais. Ele descreveu, em termos sub-humanos, os últimos momentos da vida de Al Bagdadi. “Morreu como um cão. Morreu como um covarde”, disse. Mas nada teve de covarde, como ele mesmo quis destacar, o comportamento do cachorro envolvido na captura do terrorista.

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