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Bolsonaro sela sua reconciliação com a China com propostas de investimento

Em viagem a Pequim, presidente brasileiro se reuniu com seu homólogo chinês, Xi Jinping, e convidou o país asiático a participar do grande leilão de gás e petróleo marcado para novembro

El presidente chino, Xi Jinping, recibe como regalo de parte de Jair Bolsonaro, presidente de Brasil
Presidente chinês Xi Jinping recebe de presente de Jair Bolsonaro uma camiseta rubro-negra do Flamengo em encontro na China.POOL

“Uma parte considerável do Brasil precisa da China, e a China também precisa do Brasil. O Brasil é um mar de oportunidades, e queremos compartilhá-las com a China.” Com estas palavras, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, concluiu sua visita de três dias a Pequim, que marcou uma guinada radical em sua postura com relação à segunda maior economia mundial – de acusá-la durante a campanha eleitoral de “querer comprar o Brasil” a descrevê-lo, ao desembarcar nesta capital, como um país “capitalista”.

A visita do ultradireitista presidente brasileiro à China é um claro exercício de contorcionismo: Bolsonaro é um orgulhoso anticomunista, que na campanha eleitoral não só acusou a China de “querer comprar o Brasil” como também ousou visitar a ilha de Taiwan, para desgosto de seu principal sócio comercial. Mas, desde que ganhou a eleição, o pragmatismo se impôs, perante a realidade de uma relação bilateral que foi de quase 99 bilhões de dólares em 2018 (quase 400 bilhões de reais, pelo câmbio atual), com um superávit de quase 30 bilhões para o Brasil, segundo as cifras oficiais. Nos nove primeiros meses deste ano, o comércio bilateral soma 72,8 bilhões de dólares, com um superávit favorável ao Brasil de 19,6 bilhões – o dobro do que com seu segundo principal sócio e agora aliado preferencial, os Estados Unidos.

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Bolsonaro lançou uma ofensiva para tentar seduzir a China. O Brasil está interessado em aumentar suas exportações a China, especialmente no âmbito dos produtos agrícolas, e também em captar investidores para as privatizações de empresas públicas e no setor de infraestruturas. A China é o nono maior investidor no Brasil, com um interesse destacado em infraestrutura e energia, o qual a torna teoricamente ainda mais interessante para este Governo que promoveu licitações em ambos os setores.

Em sua reunião com o presidente Xi Jinping no Grande Palácio do Povo, convidou a China a participar do grande leilão de gás e petróleo marcado para 6 de novembro, o primeiro de seu governo, com o qual espera gerar mais de cem bilhões de dólares. “A China não pode deixar de estar lá”, insistiu. Os dois mandatários assinaram um total de oito acordos de cooperação, em áreas que vão da carne bovina processada às energias renováveis. Visam também a agilizar trâmites alfandegários mútuos, facilitar os contatos entre suas respectivas chancelarias e incentivar intercâmbios estudantis.

Os dois países poderiam assinar outros acordos quando Xi devolver a visita ao Brasil, no mês que vem, durante uma vigem pela América Latina para participar da cúpula anual do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) no Chile. A ministra brasileira de Agricultura, Tereza Cristina, manifestou sua esperança de que a China certifique mais unidades de processamento de carne no Brasil para que possam exportar ao gigante asiático, onde a demanda disparou devido à epidemia de gripe suína que afeta suas criações.

Bolsonaro, torcedor do Palmeiras, surpreendeu na hora dos presentes: uma camiseta rubro-negra do Flamengo para um Xi que é muito ligado em futebol. “Agora, todo o Brasil é Flamengo”, disse, referindo-se à classificação do time carioca para a final da Libertadores. “Com toda segurança, 1,3 bilhão de cidadãos chineses também serão Flamengo”, disse ele, sorrindo, enquanto entregava a camiseta ao seu homólogo, visivelmente grato. Xi correspondeu ao presente num tom similar: uma gravura de tema futebolístico.

Sempre pragmática, a China tinha se desdobrado em atenções com o presidente brasileiro. No passado, o Governo chinês já havia deixado claro seu mal-estar com os gestos do Bolsonaro candidato, ou com o encontro bilateral frustrado ao final da cúpula do G20 em Osaka (Japão) – o brasileiro cancelou alegando que estava atrasado para pegar o avião. Ninharias ao mar. Para Pequim, a relação com o Brasil também é importante: é seu principal sócio na América Latina, aliado dentro dos BRICs, pendente ainda de decidir suas alianças para a construção de suas redes 5G, e importante alternativa para o fornecimento de produtos como soja e carne em meio à guerra comercial com os Estados Unidos.

A reunião dos dois presidentes foi precedida por uma pitoresca cerimônia de boas-vindas no exterior do Palácio do Povo. Os dois presidentes escutaram os hinos nacionais e passaram em revista uma impecável formação de gala de tropas chinesas. Perante um grupo de alunos de primário que agitava bandeiras dos dois países e ramos de flores, Bolsonaro se pôs a apertar mãos e trocar algumas palavras com os pequenos. Xi se limitou a acenar, sem se aproximar.

A jornada havia começado com a confirmação de que o Brasil isentará turistas chineses da necessidade de visto. O país aspira a que o turismo passe a representar 10% de seu PIB, frente aos 6% atuais, e a China é fundamental para isso. Embora seja o país que mais visitantes envia ao exterior – 150 milhões de cidadãos viajaram neste ano –, até agora só 60.000 deles chegam ao Brasil, uma cifra claramente melhorável.

A agenda do presidente brasileiro, que embarca no sábado de Pequim para continuar sua viagem no Oriente Médio, completou-se com reuniões com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e o presidente da Assembleia Nacional Popular e número três da hierarquia desse país, Li Zhanshu.

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