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Piñera reage a protestos no Chile: “Estamos em guerra”

Presidente chileno, que decretou toque de recolher pela primeira vez desde Pinochet, põe o foco nos incidentes de vandalismo e não nas reivindicações sociais que motivaram o levante que já deixou ao menos 11 mortos

R. Montes
Policiais chilenos disparam bombas de gás lacrimogêneo em Santiago.
Policiais chilenos disparam bombas de gás lacrimogêneo em Santiago.Alberto Peña (EFE)

Após três jornadas de intensos protestos em diferentes lugares do Chile, que até agora deixaram pelo menos 11 mortos, o presidente Sebastián Piñera pronunciou-se sobre a atual situação do seu país. “Estamos em guerra contra um inimigo poderoso, que está disposto a usar a violência sem nenhum limite”, afirmou o mandatário, referindo-se aos manifestantes violentos que destruíram boa parte da rede de metrô de Santiago, saquearam dezenas de supermercados e estabelecimentos comerciais ou incendiaram veículos. Pondo o foco nos incidentes de vandalismo que marcaram estas jornadas, e não nas reivindicações sociais que motivaram paralelamente os protestos pacíficos, o mandatário acrescentou: “Amanhã teremos um dia difícil. Estamos muito conscientes de que [os autores dos distúrbios] têm um grau de organização e de logística próprios de uma organização criminosa”.

Apesar de o Governo ter revogado o aumento das passagens de metrô, medida que havia desencadeado os protestos, a violência não cessou. A capital chilena e outras quatro regiões continuam sob toque de recolher, que proíbe o trânsito livre entre 19h e 6h. Piñera se reuniu com os militares que controlam cinco regiões do país, depois de decretar estado de emergência na sexta-feira (18). Acompanhado do ministro da Defesa, Alberto Espina, e do chefe da Defesa Nacional, general Javier Iturriaga, o presidente qualificou o inimigo como "disposto a queimar os hospitais, o metrô, os supermercados, com o único propósito de produzir o maior estrago possível”. Como o Governo parece convencido de que se trata de grupos organizados para semear o caos, Piñera afirmou: “Estão em guerra contra todos os chilenos que querem viver em democracia”.

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O presidente, que neste domingo recebeu representantes do Poder Legislativo e Judiciário no palácio de La Moneda para romper o isolamento do Executivo, fez uma distinção entre o protesto pacífico e a violência. Em meio à situação de colapso em que se encontra o país, entretanto, seu discurso centrado unicamente na ordem pública parece insuficiente para as atuais circunstâncias. A eclosão chilena foi desencadeada pela alta da tarifa do metrô, mas se trata apenas da expressão de um descontentamento maior por uma série de carências sociais. Nesse cenário, o governante conservador apostou novamente em instigar a desavença entre seus compatriotas: “O general Iturriaga está encarregado deste estado de emergência, e pôde dispor de 9.500 homens para resguardar a paz, a tranquilidade e seus direitos e suas liberdades”, afirmou.

O senador oposicionista Ricardo Lagos Weber reagiu, ainda na noite de domingo, fazendo um apelo ao mandatário: "Presidente Sebastián Piñera, não assuste os cidadãos! Não estamos em guerra. Enfrentamos uma crise política, mal gerida pelo Governo, cujo pano de fundo é a desigualdade. Estas declarações não ajudam a criar um clima de entendimento".

As palavras de Piñera sobre uma situação de “guerra” são especialmente complexas para um presidente que, dentro das próximas semanas, será anfitrião de duas importantes cúpulas mundiais: o Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), em novembro, e a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP25), em dezembro.

Enquanto o Parlamento aprovava durante a tarde o projeto de lei que suspende a alta das tarifas de metrô – anunciado por Piñera na véspera –, o ministro do Interior, Andrés Chadwick, informou que só neste domingo houve 70 incidentes graves de violência, com 152 detidos ao longo da jornada.

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