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Acuado por marcha indígena, Lenín Moreno transfere Governo do Equador para Guayaquil

Mandatário defende seus ajustes econômicos diante dos protestos na capital equatoriana

Protesto pelo centro de Quito, nesta segunda-feira.
Protesto pelo centro de Quito, nesta segunda-feira.CRISTINA VEGA (AFP)

Uma grande mobilização indígena no Equador mergulhou o país em um clima de tensão política e social que deixou as autoridades em alerta. O presidente Lenín Moreno anunciou em rede nacional a transferência da sede do Governo de Quito para Guayaquil, diante da iminente chegada à capital de milhares de indígenas que avançam pelas principais estradas da serra andina como forma de protesto. O ambiente turbulento dos últimos cinco dias se intensificou no meio da tarde desta segunda, quando os jornalistas foram desalojados da sede presidencial enquanto esperavam uma entrevista coletiva de Moreno.

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A coletiva foi cancelada. O anúncio da transferência presidencial teve uma simbólica cenografia, com Moreno escoltado por sua vice-presidente, seu ministro da Defesa e toda a cúpula militar. O Executivo do Equador defendeu em seu comparecimento a necessidade do ajuste econômico e culpou diretamente o ex-presidente Rafael Correa e a seus aliados por agitarem as massas sociais, que, segundo o chefe de Estado, agem financiadas “com o dinheiro que roubaram”.

No meio da tarde, o mandatário equatoriano deixou o palácio de Carondelet, que estava totalmente cercado pelas forças de segurança. Na mesma hora, começavam a chegar pelo sul da capital os primeiros manifestantes indígenas a pé, depois de uma agitada jornada de mobilizações, com bloqueios rodoviários, violentos confrontos entre policiais, militares e integrantes das marchas, e saques e ataques a empresas e negócios. A segunda maior cidade do país, Guayaquil, também tomou medidas de prevenção e interrompeu temporariamente o tráfego em suas pontes e pontos de acesso “por motivos de segurança”. O Ministério da Educação anunciou a suspensão de aulas nesta terça-feira, como também já ocorreu em 3 e 4 de outubro.

Os líderes indígenas tinham anunciado pela manhã que mais de 20.000 manifestantes chegariam a Quito nos próximos dias para pressionar e forçar o presidente Lenín Moreno a revogar as medidas econômicas que provocaram uma alta da gasolina por causa da retirada do subsídio estatal aos combustíveis. "Neste momento, nossos povos e nacionalidades estão se mobilizando, avançando para a cidade da Quito a fim de exigir e rechaçar estas medidas que atropelam os bolsos de todos os equatorianos", afirmou o presidente da Confederação de Indígenas, Jaime Vargas, enquanto um incessante e acalorado rio de pessoas enchia as estradas do norte do país.

No mesmo evento, o presidente da Frente Unitária de Trabalhadores, Nelson Erazo, criticou as declarações de domingo do ministro da Defesa, Oswaldo Jarrín, em que advertia aos manifestantes a não desafiarem nem provocarem as forças armadas. “Declarou guerra ao povo", qualificou o sindicalista, acrescentando que a mobilização não parará enquanto o Governo não recuar. Uma greve nacional foi convocada para esta quarta-feira.

O secretário particular da Presidência, Juan Sebastián Roldán, questionou também a virulência das mobilizações. “Os irmãos indígenas nunca saquearam, na serra Centro nunca vimos imagens como as que acabamos de ver: fábricas sendo saqueadas, pessoas com paus impedindo os outros de trabalharem, ameaçando-os, destruindo seus caminhões... Isso não é protesto social", recriminou, depois de afirmar que há instigadores infiltrados e de relacioná-los com simpatizantes do ex-presidente Correa.

O Ministério de Energia anunciou em nota, além disso, que nesta segunda-feira foram suspensas as operações em três campos petroleiros da região amazônica “devido à tomada das instalações por grupos de pessoas alheias à operação". Embora não haja pessoal petroleiro retido, a pasta solicitou "ao Comando Conjunto das Forças Armadas que intensifique a proteção nas instalações para proteger os recursos do Estado equatoriano". Os militares, por sua vez, auxiliaram 50 de seus integrantes que estavam retidos desde sábado. Foram liberados em termos amistosos pelos indígenas que os interceptaram inicialmente.

Assim começava a semana no país latino-americano, depois de quatro dias agitados desde que o Governo de Lenín Moreno anunciou um pacote de ajustes com o qual busca corrigir o aperto fiscal que a economia arrasta há anos. A retirada do subsídio estatal às gasolinas permitirá ao Estado economizar 1,4 bilhão de dólares, segundo cálculos oficiais. Os transportadores foram os protagonistas dos protestos nos dois primeiros dias, ao convocarem uma paralisação nacional que derivou em fortes confrontos entre cidadãos e forças de segurança e justificou a declaração do estado de exceção em toda a nação. Restringiu-se o direito de reunião, mobilizaram-se os militares nas principais cidades e estradas, e cerca de 500 pessoas foram detidas, incluindo líderes sindicais.

O chefe de Estado equatoriano e seus ministros mais próximos falaram constantemente à imprensa nos últimos cinco dias para informar sobre suas decisões, mas também para fazer apelos à calma e abrir uma janela ao diálogo com os dirigentes dos protestos. Essa abertura, porém, em nenhum momento contemplou a retirada da reforma econômica que originou o mal-estar coletivo. “Permanece firme”, ratificou o presidente.

Depois da suspensão da greve geral dos transportes, as organizações sociais e a Confederação de Indígenas assumiram a convocação e elevaram o tom. O Executivo usou veículos antimotins, policiais a cavalo e gás lacrimogêneo para responder às gigantescas concentrações de manifestantes munidos com paus e pedras. Os cinco dias de conflito social estiveram temperados por uma forte campanha de desinformação, com falsos comunicados oficiais que o Governo foi desmentindo para evitar alimentar ainda mais o estado de alarme nacional.

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