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Chavismo faz acordo com ala da oposição, enquanto Guaidó cancela negociações

Maioria do Parlamento rejeita o acordo com grupo minoritário da oposição, que prevê o retorno do partido governista PSUV à Assembleia Nacional

O ministro venezuelano das Comunicações, Jorge Rodríguez, e o chanceler Jorge Arreaza
O ministro venezuelano das Comunicações, Jorge Rodríguez, e o chanceler Jorge ArreazaFEDERICO PARRA (AFP)

Horas depois de Juan Guaidó interromper o contato com enviados de Nicolás Maduro a Barbados, o chavismo respondeu ao oponente anunciando nesta segunda-feira acordo com um setor minoritário da oposição venezuelana. Líder da oposição venezuelana, chefe do Parlamento e presidente interino reconhecido por mais de 50 países, Guaidó está na ilha caribenha, local escolhido para abrigar as conversas entre as duas forças políticas venezuelanas, mediadas pela Noruega

Enquanto as negociações desandam, alguns líderes governistas encabeçados por Jorge Rodríguez, ministro da Comunicação, organizaram na Casa Amarela, sede da Chancelaria em Caracas, um ato para apresentar um pacto político paralelo envolvendo representantes do grupo chamado Acordo pela Mudança. Trata-se da pequena plataforma de partidos que reúne opositores mais moderados. Lá estiveram presentes, em encontro transmitido pela televisão, os dirigentes Felipe Mujica, Claudio Fermín, Timoteo Zambrano e Luis Romero.

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Os líderes chavistas anunciaram que o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) voltará a ocupar seus assentos na Assembleia Nacional, onde é minoritário, já que um de seus objetivos consiste em organizar eleições legislativas em curto prazo. Também disseram que na reunião houve acordo sobre a indicação dos novos integrantes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), sobre uma moção de repúdio às sanções norte-americanas, sobre a libertação de alguns prisioneiros e sobre o reconhecimento da Assembleia Nacional Constituinte, controlada pelo chavismo e que funciona paralelamente à Assembleia Nacional. Além disso, os políticos discutiram como estimular o programa Petróleo por Alimentos —um mecanismo de assistência humanitária que foi desenvolvido como  paliativo contra os estragos da guerra no Iraque, proposto pelo economista Francisco Rodríguez.

Embora se trate de um grupo muito pequeno, o passo dado por esses dirigentes teve péssima repercussão no mundo político e na sociedade civil venezuelana, sendo interpretado por jornalistas, analistas, políticos e ativistas como uma punhalada nos esforços de Guaidó para conduzir o país a uma nova eleição presidencial democrática.

Há algumas semanas, Maduro anunciou a retirada de sua delegação das negociações de Barbados, acusando Guaidó de organizar um complô para abrir mão da região de Guayana Esequiba, território da vizinha Guiana reivindicado há décadas pela Venezuela. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, congelou todos os ativos do Governo venezuelano no seu país há alguns dias.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada nesta terça-feira, Maduro fez duras críticas à oposição venezuelana. "Nós na Venezuela temos uma oposição pior do que o Bolsonaro. À direita do Bolsonaro. Que tem o objetivo de derrubar inconstitucionalmente a revolução".

Na segunda-feira, o próprio Guaidó, ao romper as negociações, convocou a população para que intensifique a pressão nas ruas, agora que se aproxima o fim das férias escolares e de muitos trabalhadores, pedindo também uma dose especial de compromisso e desprendimento “perante a difícil e crucial etapa que se aproxima”.

A medida, que não surpreendeu ninguém, surge após um prolongado atraso por parte do chavismo. Relutante a todo momento em pactuar uma nova eleição presidencial —já que a última foi amplamente questionada por suas irregularidades— ou um acordo eleitoral que devolva as atribuições naturais da Assembleia Nacional, o Governo de Maduro declarou em várias ocasiões que nem os Estados Unidos nem a União Europeia “imporão acordos ou condições à Venezuela”.

À Folha, Maduro garantiu que haverá eleições para a Assembleia Nacional. "Eu não me adianto sobre que coisas são possíveis ou não são possíveis. O único sim, te digo, aqui, sob esse céu venezuelano, sobre essa Caracas hermosa [linda], é que no ano de 2020, pela Constituição, cabe fazer as eleições para a nova Assembleia Nacional", afirmou. Em relação às eleições presidenciais, o líder venezuelano afirmou que se trata de um "capricho" da oposição. Eu te digo, com muita responsabilidade: se na Venezuela hoje houvesse eleições, nós ganharíamos por uma ampla maioria."

A decisão de encerrar as negociações foi divulgada em uma carta aberta de Guaidó na qual ele afirma que “o regime ditatorial de Nicolás Maduro abandonou o processo de negociação com desculpas falaciosas: depois de mais de 40 dias em se negaram a prosseguir na negociação, consideramos que o mecanismo de Barbados se esgotou".

A medida foi acompanhada de outros passos no terreno diplomático: entre outras, a aprovação, na Organização de Estados Americanos (OEA), do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, TIAR, que abre espaço para novas sanções políticas e diplomáticas contra Maduro e que coloca, ao menos teoricamente, a possibilidade de uma ação militar contra o Governo.

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