Pacto entre poderes, a ideia que une Bolsonaro e Toffoli
Mandatário terá café da manhã com presidente do Supremo, da Câmara e do Senado nesta terça. Para Centrão, atos não alteram tensão de parlamentares com o Planalto
“O que ocorreu nos protestos a favor do Governo, no domingo, não altera em nada na relação com o Congresso. Nem pra mais nem pra menos, nem pro bem nem pro mal”. A avaliação é do deputado André de Paula, líder do PSD na Câmara. Essa análise ganha ares de consenso entre os membros do Centrão, o grupo de partidos de centro-direita que se declarou independente e tem sido o responsável por tocar as pautas do Legislativo brasileiro. O grupo, acusado de apenas achacar o presidente Jair Bolsonaro em troca de benesses e cargos, foi fustigado por parte dos manifestantes, que acabaram direcionando especialmente sua fúria para a figura de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente da Câmara que foi eleito para o cargo com o apoio do partido do presidente Jair Bolsonaro, o PSL.
Nas ruas, outra tônica foi criticar o Supremo Tribunal Federal. Alguns pediam o impeachment de Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Antonio Dias Toffoli. O último, presidente da Corte, decidiu até alterar sua rotina e não divulgar mais sua agenda previamente. A orientação dos responsáveis pela segurança do magistrado era de que ele poderia ser alvo de protestos mais diretos ou de agressões físicas.
É com essas imagens hostis ainda frescas que Bolsonaro propõe receber, para um café da manhã nesta terça-feira no Palácio do Planalto, todos os chefes dos poderes. “Essa voz das ruas não pode ser ignorada. É hora de retribuirmos esse sentimento. O que devemos fazer agora é um pacto pelo Brasil. Estamos todos no mesmo barco e juntos podemos mudar esse país”, leu o porta-voz da presidência, Otávio Rêgo Barros.
O próprio Bolsonaro já havia falado em "pacto" pelas reformas em entrevista à TV Record ainda na noite de domingo. Pela manhã, em entrevista à Globo News, Toffoli confirmou que os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) estavam discutindo a assinatura de um acordo para tentar "harmonizar" o país e declarar apoio às reformas econômicas. O pronto entusiasmo do presidente do Supremo pelo "pacto" e pela convivência sem sobressaltos com o Governo não surpreendeu. Ainda em novembro passado, Toffoli escreveu um artigo no EL PAÍS na qual propunha um "grande pacto" em termos semelhantes, ainda que tenha feito especial menção à defesa da liberdade de expressão no contexto de profunda polarização política..
O tamanho do entusiasmo de Rodrigo Maia e do Congresso pelo pacto, para além do endosso à reforma da Previdência pelo presidente da Câmara, ainda está por ser medido. Maia não fez declarações públicas nesta segunda e há incômodo pela virulência dos ataques. “Houve exageros nas críticas dos manifestantes contra o deputado federal Rodrigo Maia. Imprensa e políticos colocam Rodrigo como Centrão. Vou deixar claro uma coisa: o Democratas nunca será centrão”, defendeu o presidente do Democratas e prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto, no Facebook do partido.
O assopra de Bolsonaro também terá que barrar um movimento crescente. É em torno de Maia que se organizam os caciques que gostariam de impor um "parlamentarismo branco" ao Governo Bolsonaro, ou seja: tirar o protagonismo do Planalto e só votar o que for do interesse das cúpulas parlamentares.
O líder do Solidariedade, Augusto Coutinho, disse que considerou o protesto relevante. Mas teme um acirramento do discurso radical de parte do Governo Bolsonaro. “Quando se incentiva a polarização, como o Governo fez, não é bom. Temos de nos concentrar nas reformas que temos para aprovar no Congresso”, analisou.
Oficialmente, no Palácio do Planalto, comemorou-se o fato de o bolsonarismo puro provar nas ruas que existe, já que outros grupos direitistas como Movimento Brasil Livre e Vem Pra Rua não participaram do ato. Porém, nas conversas internas, há uma avaliação de que a manifestação foi fraca e, que em alguns momentos, extrapolaram a pauta de apoio à gestão federal, já que houve quem pedisse o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Foi o que destacou a oposição: “Foram manifestações centralmente contra a democracia”, disse a líder da minoria na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Alguns estão menos convictos dos objetivos do Planalto a médio prazo. “Ele [Bolsonaro] se envolveu num primeiro momento, depois percebeu o óbvio, que manifestação popular começa como você prevê e termina como você não imagina. Onde ele queria chegar não se sabe”, diz André de Paula, do PSD.
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