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Transferência da final entre River e Boca a Madri é vista como fracasso e roubo pela Argentina

Espanha receberá o jogo decisivo da Copa Libertadores, que exige a implantação de um amplo dispositivo de segurança em apenas 10 dias. Maradona ataca a Conmebol

Torcedores do Boca Juniors durante jogo em Buenos Aires, do dia 11 de novembro.
Torcedores do Boca Juniors durante jogo em Buenos Aires, do dia 11 de novembro.Nacho Doce (REUTERS)
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“Representa, de alguma forma, o fracasso estrutural do nosso futebol, incapaz de organizar a melhor final da história da Libertadores”, escreve nesta sexta-feira o jornal argentino La Nación sobre a polêmica realização do jogo entre River e Boca na Espanha. O anúncio da transferência foi feito no fim da quinta-feira pelo Presidente do Governo (primeiro-ministro) espanhol, Pedro Sánchez, pelo Twitter, enquanto voava a Buenos Aires para participar da cúpula do G-20: “A Espanha está disposta a organizar a final da Copa Libertadores entre Boca e River”. Uma hora depois, Alejandro Domínguez, presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), organizadora do torneio, anunciou oficialmente que a partida será disputada no domingo, dia 9 de dezembro, no estádio Santiago Bernabéu às 20h30 (17h30 em Brasília).

Para o jornal Clarín, que lembra que o jogo acontecerá “na casa do genial Alfredo Di Stefano, que foi revelado nas categorias de base do River e foi técnico tanto deste clube quanto do Boca”, é uma decisão “controvertida”. “A Copa Libertadores será entregue pela primeira vez fora do território sul-americano em 58 anos. Justo na Espanha. O que diriam San Martín e Bolívar? Se transformará por um momento na Libertadores da Europa”, diz o jornal.

“Nos roubaram a Copa”, é o título de uma coluna do jornal esportivo Ole. “A final em Madri é um chute na alma de todos os torcedores de futebol da Argentina. A 10.000 quilômetros de distância, o River x Boca é uma tentativa pouco feliz de transformar o superclássico em um evento da Champions League.” O jornal fez uma pesquisa e 76% dos participantes desaprovam que o jogo seja levado para a Espanha.

Diego Maradona perguntou por que a Conmebol não exigiu mais segurança, e propôs o estádio do Vélez Sarsfield para a partida. “Você sabe o que isso custa?”, perguntou o treinador do Dorados de Sinaloa em uma entrevista no México para a rádio portenha La Red. Maradona rejeitou a decisão do presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), o paraguaio Alejandro Domínguez, e do presidente da Associação Argentina de Futebol (AFA), Claudio Tapia, tomada depois que o jogo teve de ser cancelado no sábado por causa da agressão dos torcedores do River Plate ao ônibus que levava ao estádio os jogadores do Boca Juniors. O jogo de ida, disputado em 11 de novembro no estádio La Bombonera, terminou em 2 a 2 e sem incidentes.

“Eles são o flagelo do futebol. Não estão capacitados para o cargo”, disse o ex-capitão e ex-técnico da seleção alviceleste, acrescentando: “Quero dizer a Alejandro Domínguez que raios tenho que fazer se minha família quer ir assistir a um jogo entre Boca e River e eu tenho que levá-la para Madri. O quê? Somos todos [o presidente argentino Mauricio] Macri?”. Maradona também dirigiu suas críticas ao River Plate e ao seu treinador, Marcelo Gallardo, e perguntou o que eles vão fazer quando tiverem de voltar a jogar em La Bombonera, o estádio do Boca Juniors.

“Encontramos na Espanha a neutralidade que a Conmebol buscava. Madri tem tudo o que é necessário [para organizar o evento], a Espanha é o país com a maior comunidade argentina fora do país, Madri é a décima cidade mais segura do mundo, seu aeroporto tem o maior número de voos para a América Latina. Existe uma grande cultura e tradição de futebol, especialmente em Madri”, acrescentou Domínguez. Na Espanha, o presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, festejou a decisão. “Sem dúvida, estamos preparados. É uma grande notícia termos recebido a confiança para acolher a realização deste jogo histórico”, disse em um comunicado.

O presidente da Comunidade de Madri, Ángel Garrido, disse que Madri tem “os melhores corpos e forças de segurança do mundo” e comemorou que a Conmebol tenha escolhido a capital da Espanha. “Realizar essa final, algo que provavelmente não vai acontecer nunca mais, é bom porque fomos escolhidos pela nossa experiência na organização de jogos desse nível e porque Madri é uma capital segura”, afirmou.

A prefeita de Madri, Manuela Carmena, congratulou-se pelo fato de a Conmebol ter escolhido o estádio madrilenho. “Estamos orgulhosos de pensar que esta cidade foi escolhida por ser segura e por ser uma cidade tão acolhedora”, disse Carmena na sexta-feira em uma entrevista à rádio Cadena Ser, em que acrescentou que a capital espanhola “sabe garantir a segurança”.

Diego Maradona comemora um gol de seu time, o Dorados, em Culiacán.
Diego Maradona comemora um gol de seu time, o Dorados, em Culiacán.RASHIDE FRIAS (AFP)

Os argentinos residentes na Espanha, cerca de 250.000, receberam a notícia com furor. “Não podemos acreditar, ninguém esperava isso. Devemos olhar pelo lado positivo, teremos o Boca aqui”, explica Elías Sánchez, vice-presidente da Pasíón Xeneize, torcida do Boca Juniors em Barcelona. “Pelo menos, agora, vamos poder ver a final. Nós a temos perto”, acrescenta Marcelo ex-presidente, da torcida do River na capital catalã. Na Espanha, os dois gigantes da Argentina têm nove torcidas. O Boca tem cinco (em Barcelona, Andorra, Valência, Madri e Mallorca) e o River quatro (Barcelona, Madri, Valência e Málaga).

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