Morte de testemunha-chave do caso Odebrecht e envenenamento de seu filho sacodem a Colômbia
Legistas dizem que Alejandro Pizano morreu por intoxicação por cianureto após beber de uma garrafa que estava no escritório de seu pai, falecido três dias antes


A investigação do caso Odebrecht na Colômbia se aproxima, desde terça-feira, 13, do abismo de uma rede criminosa que vai além dos subornos pagos pela construtora brasileira em troca de concessões. A morte fulminante de uma testemunha-chave e, depois de três dias, a do seu filho, envenenado, lançam uma sombra sobre as indagações de um escândalo que remonta ao financiamento das campanhas presidenciais de 2010 e 2014 no país.
Este novo capítulo começou na quinta-feira passada, 8, quando o engenheiro Jorge Enrique Pizano, interventor da Concessionária Ruta del Sol, um projeto que teve a participação da empreiteira brasileira, faleceu em sua casa na localidade de Subachoque, a 40 quilômetros de Bogotá. Pizano, cuja morte foi inicialmente atribuída a um infarte, era uma das peças mais importantes para recompor o caso. Ele detectou várias irregularidades relacionadas às obras, nas quais trabalhou desde 2010, e em 2015 informou sobre isso ao atual procurador-geral da Colômbia, Néstor Humberto Martínez, embora este afirme não ter certeza, segundo o próprio relato da testemunha, de que se tratasse de subornos. Antes de ocupar seu cargo, Martínez foi advogado do Grupo Aval, conglomerado bancário que controlava a maioria das ações da Corficolombiana, uma empresa de soluções financeiras.
O filho de Pizano, o arquiteto Alejandro Pizano Ponce de León, ficou sabendo na sexta-feira, 9, pela manhã, do falecimento de seu pai e imediatamente viajou de Barcelona, onde se encontrava, para Bogotá. No domingo passado, conforme noticiou nesta terça a rádio Caracol, foi até o imóvel familiar e, na presença de sua irmã Juanita, desmaiou repentinamente. O que aconteceu? Segundo o Instituto de Medicina Legal, “a causa do falecimento foi envenenamento por ingestão de cianureto”.
“As provas colhidas na residência de seus pais indicam que a vítima teria encontrado o cianureto em uma garrafa de água aromatizada que se encontrava no escritório de seu pai, da qual ingeriu um gole”, afirma o laudo. “Segundo pessoas próximas à família, depois de ingerir a água, a vítima notou um gosto ruim e tentou cuspir o líquido; poucos minutos depois, apresentou fortes dores estomacais e faleceu a caminho do hospital”, acrescentaram os legistas. A irmã relatou que “disse que estava com um gosto péssimo, e desmaiou”.
“Os investigadores”, prossegue o laudo do IML, “receberam por parte do pessoal médico a garrafa de água aromatizada, na qual estão realizando as análise correspondentes”. A Procuradoria Geral da Nação informou que também abriu uma investigação penal para determinar as causas pelas quais essa substância se encontrava na casa do pai da vítima. Por enquanto, a evolução deste caso, que semeia dúvidas também sobre as circunstâncias da morte de Jorge Enrique Pizano, sacudiu o país e ameaça causar um terremoto político.
Os subornos pagos pela Odebrecht na Colômbia garantiram, por exemplo, que o gigante brasileiro da construção civil fosse a única empreiteira habilitada para a licitação de um trecho da Ruta del Sol. O valor da obra chegava a 84 bilhões de pesos (100 milhões de reais). O escândalo, que eclodiu no início de 2017, salpicou as campanhas dos principais candidatos em duas eleições presidenciais, e também a Administração de Álvaro Uribe. Quando se começava a conhecer a magnitude do ocorrido, o ex-presidente Juan Manuel Santos solicitou ao Ministério Público uma investigação dos contratos correspondentes a esses ciclos eleitorais. Meses depois, houve a primeira detenção. As autoridades capturaram Gabriel García Morales, ex-vice-ministro de Transporte de Uribe nos anos 2009 e 2010. O político recebeu, segundo a investigação, 6,5 milhões de dólares da Odebrecht pela concessão dessa obra.
Mais tarde, veio a captura do ex-deputado Otto Bula devido à sua suposta participação no milionário caso de corrupção. É acusado de receber uma comissão de 4,6 milhões de dólares para favorecer a Odebrecht na concessão das obras de uma rodovia. A Procuradoria-Geral determinou também que a construtora contribuiu para o financiamento das campanhas do próprio Santos e de seu principal rival nas urnas, o uribista Óscar Iván Zuluaga.
Apesar das ramificações do caso, a Odebrecht está há meses tentando chegar a um acordo econômico com o Estado colombiano para voltar a operar normalmente, como ocorreu em outros países. Em 6 de novembro, o Ministério Público, a Procuradoria-Geral e a Controladoria, os órgãos representados no julgamento, rejeitaram uma oferta que superava os 33 milhões de dólares e que a construtora considerava suficiente para indenizar o prejuízo causado ao país.