_
_
_
_
_

Morte de testemunha-chave do caso Odebrecht e envenenamento de seu filho sacodem a Colômbia

Legistas dizem que Alejandro Pizano morreu por intoxicação por cianureto após beber de uma garrafa que estava no escritório de seu pai, falecido três dias antes

A sede da construtora Odebrecht em São Paulo
A sede da construtora Odebrecht em São PauloEFE
Francesco Manetto

A investigação do caso Odebrecht na Colômbia se aproxima, desde terça-feira, 13, do abismo de uma rede criminosa que vai além dos subornos pagos pela construtora brasileira em troca de concessões. A morte fulminante de uma testemunha-chave e, depois de três dias, a do seu filho, envenenado, lançam uma sombra sobre as indagações de um escândalo que remonta ao financiamento das campanhas presidenciais de 2010 e 2014 no país.

Mais informações
Ex-chefe de campanha do presidente da Colômbia é preso por caso Odebrecht
Gerente da campanha do presidente colombiano reconhece que Odebrecht os financiou em 2010
Caso Odebrecht abala reta final do presidente Santos

Este novo capítulo começou na quinta-feira passada, 8, quando o engenheiro Jorge Enrique Pizano, interventor da Concessionária Ruta del Sol, um projeto que teve a participação da empreiteira brasileira, faleceu em sua casa na localidade de Subachoque, a 40 quilômetros de Bogotá. Pizano, cuja morte foi inicialmente atribuída a um infarte, era uma das peças mais importantes para recompor o caso. Ele detectou várias irregularidades relacionadas às obras, nas quais trabalhou desde 2010, e em 2015 informou sobre isso ao atual procurador-geral da Colômbia, Néstor Humberto Martínez, embora este afirme não ter certeza, segundo o próprio relato da testemunha, de que se tratasse de subornos. Antes de ocupar seu cargo, Martínez foi advogado do Grupo Aval, conglomerado bancário que controlava a maioria das ações da Corficolombiana, uma empresa de soluções financeiras.

O filho de Pizano, o arquiteto Alejandro Pizano Ponce de León, ficou sabendo na sexta-feira, 9, pela manhã, do falecimento de seu pai e imediatamente viajou de Barcelona, onde se encontrava, para Bogotá. No domingo passado, conforme noticiou nesta terça a rádio Caracol, foi até o imóvel familiar e, na presença de sua irmã Juanita, desmaiou repentinamente. O que aconteceu? Segundo o Instituto de Medicina Legal, “a causa do falecimento foi envenenamento por ingestão de cianureto”.

“As provas colhidas na residência de seus pais indicam que a vítima teria encontrado o cianureto em uma garrafa de água aromatizada que se encontrava no escritório de seu pai, da qual ingeriu um gole”, afirma o laudo. “Segundo pessoas próximas à família, depois de ingerir a água, a vítima notou um gosto ruim e tentou cuspir o líquido; poucos minutos depois, apresentou fortes dores estomacais e faleceu a caminho do hospital”, acrescentaram os legistas. A irmã relatou que “disse que estava com um gosto péssimo, e desmaiou”.

“Os investigadores”, prossegue o laudo do IML, “receberam por parte do pessoal médico a garrafa de água aromatizada, na qual estão realizando as análise correspondentes”. A Procuradoria Geral da Nação informou que também abriu uma investigação penal para determinar as causas pelas quais essa substância se encontrava na casa do pai da vítima. Por enquanto, a evolução deste caso, que semeia dúvidas também sobre as circunstâncias da morte de Jorge Enrique Pizano, sacudiu o país e ameaça causar um terremoto político.

Os subornos pagos pela Odebrecht na Colômbia garantiram, por exemplo, que o gigante brasileiro da construção civil fosse a única empreiteira habilitada para a licitação de um trecho da Ruta del Sol. O valor da obra chegava a 84 bilhões de pesos (100 milhões de reais). O escândalo, que eclodiu no início de 2017, salpicou as campanhas dos principais candidatos em duas eleições presidenciais, e também a Administração de Álvaro Uribe. Quando se começava a conhecer a magnitude do ocorrido, o ex-presidente Juan Manuel Santos solicitou ao Ministério Público uma investigação dos contratos correspondentes a esses ciclos eleitorais. Meses depois, houve a primeira detenção. As autoridades capturaram Gabriel García Morales, ex-vice-ministro de Transporte de Uribe nos anos 2009 e 2010. O político recebeu, segundo a investigação, 6,5 milhões de dólares da Odebrecht pela concessão dessa obra.

Mais tarde, veio a captura do ex-deputado Otto Bula devido à sua suposta participação no milionário caso de corrupção. É acusado de receber uma comissão de 4,6 milhões de dólares para favorecer a Odebrecht na concessão das obras de uma rodovia. A Procuradoria-Geral determinou também que a construtora contribuiu para o financiamento das campanhas do próprio Santos e de seu principal rival nas urnas, o uribista Óscar Iván Zuluaga.

Apesar das ramificações do caso, a Odebrecht está há meses tentando chegar a um acordo econômico com o Estado colombiano para voltar a operar normalmente, como ocorreu em outros países. Em 6 de novembro, o Ministério Público, a Procuradoria-Geral e a Controladoria, os órgãos representados no julgamento, rejeitaram uma oferta que superava os 33 milhões de dólares e que a construtora considerava suficiente para indenizar o prejuízo causado ao país.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_