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Israel e Hamas se enfrentam na maior escalada bélica em Gaza desde a guerra de 2014

Artilharia israelense bombardeia 150 posições palestinas em reação ao disparo de quase 400 foguetes

Em vídeo, Hamás explode um ônibus israelense desde Gaza.Foto: atlas | Vídeo: MENAHEM KAHANA

Um inesperado choque na escuridão da noite levou Israel e o Hamas às portas de uma nova guerra em Gaza, na maior escalada bélica do conflito desde 2014. Uma operação de forças especiais infiltradas terminou no domingo, 11, com sete milicianos palestinos mortos e um oficial israelense abatido. O disparo de quase 400 projéteis da Faixa em represália pela ação encoberta foi seguido desde segunda-feira por dezenas de bombardeios maciços da aviação e artilharia israelenses sobre 150 posições palestinas no enclave. O lançamento de foguetes Qasam e granadas de morteiro, por parte dos palestinos, e as incursões punitivas de helicópteros Apache e caças F-16, do lado de Israel, tensionaram os tambores de guerra em Gaza até o ponto de seu esgarçamento. O menor erro de cálculo na volátil escalada de tensão ameaça desencadear outra guerra aberta, como as três registradas na última década no enclave costeiro.

Um míssil antitanque disparado da Faixa de Gaza, um território palestino, atingiu em cheio um ônibus israelense de transporte militar, que ficou destruído pelas chamas perto do kibutz de Kfar Aza. Um soldado de 19 anos se encontra hospitalizado em estado crítico. A aviação de combate destruiu numerosos alvos – incluindo quatro campos de treinamento, três túneis de ataques, uma fábrica de armas, uma embarcação de combate e um lançador de mísseis – dos movimentos islâmicos Hamas e Jihad Islâmica.

O Ministério de Saúde palestino confirmou a morte de pelo menos cinco pessoas nas incursões. A tensão aumentou com o bombardeio da sede do canal de televisão Al Aqsa, próximo do Hamas, na Cidade de Gaza (as instalações haviam sido previamente desocupadas), e do hotel Al Amal, utilizado também pelo Ministério do Interior da Faixa de Gaza. Em outra ação da aviação, foi destruído em Al Farqan (norte de Gaza) um edifício que era apontado pelo Estado-Maior israelense como sede dos serviços de inteligência do Hamas. O Exército afirma ter destruído, também em um ataque aéreo, um edifício dos serviços de inteligência militares palestinos que ocultava um arsenal, no centro da capital do território. O imóvel fica perto de escolas, órgãos diplomáticos e de uma mesquita.

O Exército mobilizou baterias do escudo antimísseis Cúpula de Ferro que interceptaram mais de uma centena de projéteis. Os demais foguetes caíram em sua maioria sobre zonas despovoadas. Um civil palestino de 40 anos, oriundo da Cisjordânia, foi achado morto entre os escombros de uma casa em Ashkelon, destruída por um míssil. Uma mulher de 70 anos foi resgatada pelos serviços de emergência no mesmo lugar. Dezenas de israelenses ficaram feridos, em sua maioria por vidros e detritos desprendidos depois das explosões. O eco das sirenes de alarme antiaéreo se estendeu por povoados situados em torno da fronteira durante a madrugada desta quarta-feira.

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A aparente calma que reinava em Gaza nos últimos dias saltou pelos ares na noite do domingo, 11, depois da operação encoberta do Exército de Israel no sul da Faixa. As Forças Armadas confirmaram a morte de um de seus soldados infiltrados, um tenente-coronel de operações especiais de 41 anos, identificado apenas com a letra M, cujo corpo pôde ser retirado do enclave. O incidente armado, o mais grave registrado no último mês entre ambas as partes, parece ter arruinado as negociações para um acordo de trégua entre Israel e o Hamas, mediado por Egito e Nações Unidas.

O Exército alegou que a operação encoberta de suas forças especiais na área de Khan Yunes, no sudoeste da Faixa de Gaza, se destinava apenas a reunir informações de inteligência por trás das linhas inimigas. As mesmas fontes militares negaram que tivessem participado de um assassinato seletivo ou de uma tentativa de sequestro de um chefe militar. “As ações do oficial israelense morto não podem ser publicadas, mas merecem todo nosso reconhecimento”, assegurou um porta-voz militar.

Comando infiltrado

Fontes do Hamas deram uma versão bem diferente. A unidade de forças especiais israelenses se infiltrou mais de três quilômetros em território palestino num veículo civil. Em seguida abriu fogo contra o grupo no qual se encontrava Nur Baraka, de 37 anos, comandante de uma força de elite das Brigadas Izz ad-Din Al Qasam, o braço armado do movimento islâmico que na prática governa Gaza desde 2007.

Depois da morte de seu chefe, milicianos do Hamas atacaram o comando israelense, que precisou recuar sob uma intensa cobertura aérea. Aviões e drones israelenses dispararam mais de 40 mísseis, que causaram a morte de sete militantes islâmicos armados. Milhares de cidadãos de Gaza clamaram vingança contra Israel nos concorridos funerais dos falecidos.

As Forças Armadas israelenses pediram à população das localidades próximas que se mantenha perto dos refúgios antiaéreos. As atividades escolares estão suspensas desde segunda-feira, assim como o serviço de trens que circula pela região entre Ashkelon, Sderot e Beersheba. O Exército confirmou uma forte mobilização de reforços com carros de combate, infantaria, helicópteros e caças em torno de Gaza. O Egito pediu a ambas as partes que refreiem as hostilidades e se ofereceu para retomar a mediação. O enviado especial da ONU para o Oriente Médio, Nickolay Mladenov, afirmou que estava trabalhando com o Egito para tirar a Faixa de Gaza da “beira do abismo”. “A escalada das últimas 24 horas é extremamente perigosa”, advertiu através do Twitter.

O primeiro-ministro Benjamim Netanyahu, que se encontrava em Paris assistindo às celebrações pelo centenário do fim da Primeira Guerra Mundial, antecipou no domingo sua volta a Israel. Na tarde de segunda-feira, se reuniu com o Gabinete de Segurança, e esse órgão do Governo que decide sobre operações militares e declarações de guerra foi convocado novamente para a manhã desta terça.

A esperança de trégua se desvanece

A esperança de um cessar-fogo permanente para pôr fim à violência que campeia há mais de sete meses na fronteira de Gaza volta agora a se desvanecer. Quase 230 palestinos, manifestantes em sua grande maioria, morreram desde então por disparos israelenses. Enquanto isso, só dois militares de Israel perderam a vida em ações na Faixa.

Netanyahu tinha declarado na capital francesa que seu Governo estava tentado evitar “uma guerra desnecessária” ao autorizar a entrega de ajuda externa a Gaza, num esforço para prevenir um “colapso humanitário” em decorrência da volátil situação interna. “Não há uma solução política para Gaza, assim com não há com quem quer destruir Israel, como o Irã e o Estado Islâmico”, advertiu. Com o aval israelense, o Qatar liberou no fim de semana 15 milhões de dólares (52,7 milhões de reais) para o pagamento de salários atrasados a dezenas de milhares de funcionários palestinos da Administração do Hamas. As autoridades de Doha também enviaram caminhões com combustível ao enclave para duplicar a capacidade de fornecimento da única central elétrica do território. Mas agora o Exército israelense adverte que o Hamas ultrapassou uma “linha vermelha”. “O Hamas está levando a Faixa de Gaza para a destruição, e seus líderes se esconderam”, afirmou um porta-voz militar. As tropas palestinas reagiram em um comunicado conjunto anunciando que ampliarão o alcance do lançamento de seus foguetes até as principais cidades de Israel.

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