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Os cantos pró e contra Bolsonaro das torcidas organizadas brasileiras

Gritos homofóbicos e faixa favoráveis ao candidato do PSL aparecem nos estádios, enquanto 69 torcidas e coletivos de futebol assinam um manifesto "pela democracia" contra ele

Gaviões da Fiel se posiciona abertamente contra candidato Jair Bolsonaro.
Gaviões da Fiel se posiciona abertamente contra candidato Jair Bolsonaro.Divulgação / Instagram
Diogo Magri
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No dia 16 de setembro, durante o clássico entre Cruzeiro e Atlético-MG, pelo Campeonato Brasileiro, a política invadiu o cenário do futebol. No setor de visitantes do Mineirão, parte da torcida do Atlético entoou um canto homofóbico que endossava uma das posturas preconceituosas de Jair Bolsonaro (PSL), candidato a Presidência da República: “Ô cruzeirense, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar viado”. Três dias depois, o posicionamento contrário veio de uma torcida em São Paulo. Através do blog do jornalista Juca Kfouri, Rodrigo Gonzalez Tapia, o Digão, presidente da Gaviões da Fiel (do Corinthians), publicou um texto com o título “Gavião não vota em Bolsonaro”, usando o passado de luta da torcida durante a Ditadura Militar para justificar a rejeição ao presidenciável.

A polarização eleitoral que está presente nas ruas e no mundo virtual também divide as torcidas organizadas. De um lado, oficialmente, nenhuma delas se manifestou favoravelmente ao militar reformado —afirmam que há apenas posicionamentos políticos dos integrantes, que refletem em grande parte o que se vê na sociedade (Jair Bolsonaro tem mais de dez pontos percentuais de vantagem nas pesquisas). Mas além dos gritos homofóbicos que partiram de torcedores do Atlético-MG, em outra partida, do Grêmio contra o Tucumán, em Porto Alegre, pela Libertadores, uma faixa com os dizeres “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, slogan de Bolsonaro, foi flagrada no meio da torcida brasileira, cinco dias antes da eleição.

Do outro lado, entre os contrários a Bolsonaro, há posicionamentos oficiais. Na última segunda-feira, 69 torcidas e coletivos de futebol entregaram o "Manifesto das torcidas pela democracia" a Fernando Haddad em um ato de campanha do petista na PUC-SP. O documento, assinado por entidades como a Máfia Azul (do Cruzeiro) e a Gaviões, deixa clara a oposição ao candidato do PSL. "Ele [Bolsonaro] já falou que vai acabar com todos os ativismos, e nós somos, antes de tudo, ativistas", afirmou Chico Malfitani, fundador da Gaviões, ao justificar o apoio ao PT no segundo turno.

A Porcomunas (Palmeiras) e a Democracia Corinthiana, coletivos que também redigiram o Manifesto, fazem parte de um conjunto de movimentos de torcida que são conhecidas pela opinião mais progressista. São também os casos da Guerreiros do Almirante (Vasco) e Tribuna 77 (Grêmio). “Se fosse Alckmin x Haddad [no segundo turno], a gente nem ia se meter. Mas precisamos nos posicionar contra esse absurdo”, conta Carlos Vinicius, presidente da Guerreiros. “É um pensamento natural de todos os integrantes e uma posição humana por conta da história do Vasco, que não dá espaço ao autoritarismo”. Um integrante da Tribuna, que pede para não ser identificado, completa: “Nossa bandeira é antifascista. A eleição dele [Bolsonaro] promoveria uma repressão enorme aos movimentos de arquibancada”. A Torcida Jovem do Santos foi outra organizada a se colocar contra o candidato do PSL. Através de sua assessoria, os santistas dizem que “as pautas apresentadas por Bolsonaro são incompatíveis com as raízes da Torcida Jovem” e que “a entidade tem um histórico de luta no movimento político” desde o período militar.

Major Olímpio: “Organizadas são fachadas para o crime”

Jovem do Santos contra o candidato do PSL.
Jovem do Santos contra o candidato do PSL.Divulgação / Facebook

O posicionamento das torcidas é também uma reação a posturas como a do candidato pelo partido de Bolsonaro, o PSL, Major Olímpio, eleito senador mais votado do Estado de São Paulo com 9.039.523 votos, 25,81% do total. Em 7 de agosto de 2015, como deputado federal pelo PDT, o Major apresentou o Projeto de Lei 1587/2015, que propõe a extinção de torcidas organizadas. Em entrevista recente ao jornal Folha de São Paulo, já falando como senador, o político reafirmou sua intenção: “As organizadas surgiram como grupos para apoiar os times, mas se tornaram organizações criminosas (...) São antros que geram violência e fachadas para o crime”.

O comentário gerou represália das paulistas Torcida Jovem do Santos e Mancha Verde (Palmeiras), que se manifestaram contra o candidato do PSL. Enquanto a assessoria da Jovem acha “leviano” da parte do deputado julgar uma organizada sem conhecer seu trabalho, a Mancha soltou uma nota oficial em sua página no Facebook, antes das eleições, fazendo campanha contra o Major. Nela, que traz a mensagem “manchista e torcedor organizado não vota em Major Olímpio”, o político também é chamado de “inimigo”. Os palmeirenses, no entanto, afirmam que a campanha não altera o posicionamento imparcial sobre a candidatura de Bolsonaro, que é aliado de Olímpio.

A são-paulina Independente não se manifesta sobre a declaração do senador eleito, e tampouco diz algo sobre a candidato do PSL ao planalto. Henrique Gomes, presidente da entidade, afirma que a torcida “não se posiciona nem à esquerda e nem à direita. Tem que exercer a democracia. Se alguém é #EleNão ou #EleSim, o problema é dele”.

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