Ativista do Pussy Riot é hospitalizado com sinais de envenenamento

Piotr Verzilov, um dos protagonistas do protesto na final da Copa em Moscou, está em estado grave

Piotr Verzilov é retirado de campo durante a final da Copa do Mundo da Rússia, em 15 de julho.Martin Meissner (AP)
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O ativista russo Piotr Verzilov, membro do conjunto punk Pussy Riot e cofundador do grupo de protesto Voina (“guerra”), foi internado na noite de terça-feira no setor de toxicologia de um pronto-socorro de Moscou. As primeiras hipóteses apontam para uma intoxicação química, embora ainda não haja diagnóstico oficial.

Verzilov, que desde 2014 é editor de um site crítico ao Governo russo, o Mediazona, foi levado de ambulância ao hospital quando começou a perder a visão, a fala, o sentido da orientação, a mobilidade e a memória, segundo Veronika Nikulshina, companheira do ativista e membro do Pussy Riot. Segundo essas fontes, Verzilov disse aos médicos que “não tinha comido nada e não tinha tomado nenhuma substância”. Já na ambulância a caminho do hospital, o paciente começou a tremer e a delirar.

Os médicos qualificaram o caso como grave, mas com uma “dinâmica positiva”, e se negaram a confirmar a Nikulshina se o diagnóstico era de envenenamento, alegando a falta de parentesco oficial da ativista com o paciente. A mãe de Verzilov, Elena, que pôde ver seu filho um dia depois, disse que Piotr estava dormindo e que tampouco ela foi informada sobre o diagnóstico. Elena declarou à BBC que os médicos estimaram que em três ou quatro dias o estado de seu filho deixará de ser grave.

“O médico falou que seu estado era grave, mas que agora está muito melhor. Deram-lhe soníferos para que dormisse e descansasse”, relatou. “Tudo o que o doutor disse é que se trata de um envenenamento com um determinado grupo de substâncias que se caracterizam por serem absorvidas pelo organismo e que serão eliminadas do organismo, e que para isso são necessários vários dias”, afirmou Elena Verzilova.

O Pussy Riot protagonizou numerosos protestos contra o presidente Vladimir Putin, a quem criticam por seu “autoritarismo”. Sua ação mais conhecido ocorreu em 2012, quando cinco integrantes celebraram uma “oração punk” na catedral de Cristo Salvador, em Moscou, na qual pediam à virgem que expulsasse do poder o então primeiro-ministro Putin.

A atenção dada pelos meios de comunicação russos à súbita doença de Verzilov se explica em grande parte pelo clima de confusão, suspeita e temor em torno de envenenamentos e assassinatos de dissidentes supostamente encomendados por personagens poderosos que teriam sido incomodados ou com fins dissuasivos. Trata-se de “uma espécie de teatro do absurdo que evoca os tempos de Calígula e Nero”, segundo o historiador Vladimir Dolin. Nos blogs e artigos de opinião de analistas russos, um dos temas comentados recentemente foi o assassinato como “parte da política”.

Neste contexto de incerteza e versões cruzadas está o caso de Serguei Skripal, um ex-funcionário do serviço de espionagem militar russo, que, junto com sua filha Yulia, foi vítima em março de uma tentativa de envenenamento em Salisbury (Reino Unido). As autoridades britânicas acusam o Kremlin de ter cometido esse crime e enviado dois agentes da GRU (espionagem militar russa) para executá-lo. Por ordem de Putin, dois homens que disseram ser os acusados pela polícia britânica apareceram na quinta-feira na televisão estatal RT para afirmar que foram a Salisbury “como turistas”.

Teorias conspiratórias à parte, nas duas últimas décadas são numerosos os jornalistas, ativistas políticos de oposição, insurgentes e independentistas da Chechênia e do Norte do Cáucaso, assim como profundos conhecedores dos bastidores do mundo político e empresarial russo, que morreram de forma violenta ou repentina. Entre os jornalistas que disseram ter sido envenenados se encontram Anna Politkovskaya (em 2003, quando viajava de avião para o Cáucaso) e Vladimir Kara-Murza, que teria sido intoxicado em duas ocasiões e que atualmente vive no exílio. Kara-Murza recentemente foi uma das pessoas que carregaram o caixão do senador norte-americano John McCain. Politkovskaya morreu assassinada em 2006. Verzilov foi detido e condenado a 15 dias de prisão depois de invadir o gramado na final da Copa, vestido com um uniforme de polícia e na companhia de Nikulshina e outras duas ativistas do Pussy Riot.

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