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PT arrasta definição de candidatura de Haddad até o último dia

Ex-prefeito de São Paulo esteve reunido em duas ocasiões com líder petista nesta segunda-feira; partido convocou reunião que deve sacramentar substituição

Fernando Haddad chega à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba nesta segunda-feira.
Fernando Haddad chega à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba nesta segunda-feira.NELSON ALMEIDA (AFP)
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Terça-feira, 11 de setembro de 2018. A não ser que ocorra uma (improvável) decisão liminar de última hora do Supremo Tribunal Federal (STF) que favoreça o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Partido dos Trabalhadores vai finalmente se deparar com o seu dia D. Vence às 19 horas desta terça o prazo dado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que a legenda indique quem entrará no lugar de Lula — enquadrado na Lei da Ficha Limpa e, portanto, declarado inelegível — na disputa pelo Palácio do Planalto.  Em uma reunião que será realizada em Curitiba na manhã desta terça, tudo indica que os membros da Executiva petista chancelarão a mudança de Lula pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Especulou-se a princípio que a substituição poderia ser comunicada ainda nesta segunda, mas, após duas reuniões de Haddad com Lula, houve um novo adiamento do anúncio. Deve ser o último: estender a troca para além do dia 11 de setembro, desrespeitando assim o TSE, abre a brecha para que toda a chapa presidencial do PT possa ser contestada na Justiça e, eventualmente, cassada. Dessa forma, insistir na briga judicial seria uma espécie de ação kamikase promovida por um partido que já convive com críticas internas sobre a estratégia de atrasar a entrada em campo de Haddad o máximo possível, além desconfianças de aliados sobre o perfil do escolhido por Lula para substituí-lo no processo eleitoral.  

Confirmado Haddad na cabeça de chapa — e Manuela D'Ávila (PCdoB) na vice —, finalmente será dada a largada da operação em que o PT aposta todas as suas fichas nas eleições presidenciais: transferir ao menos parte do enorme capital político do ex-presidente para seu pupilo e, com isso, garantir-lhe um lugar no segundo turno. Na mais recente pesquisa do Datafolha, divulgada nesta segunda, Haddad avançou de 4% para 9% da preferência do eleitorado, mas ainda há uma distância enorme a ser percorrida. Seu potencial cresce consideravelmente se ele é associado a Lula, o que mostra que o sucesso do ex-prefeito vai depender em grande parte da capacidade da campanha de rádio e tevê de conseguir, em menos de 30 dias, colar a imagem de Haddad na do ex-presidente e convencer os eleitores de que votar em um equivale a apoiar o outro. 

Haddad chegou à Superintendência da Polícia Federal pouco antes das 10 horas desta segunda, saiu para o almoço e retornou às 16 horas. Numa ação inusual, deixou o prédio da PF nas duas ocasiões sem dar qualquer declaração à imprensa. Os únicos a falar foram advogados de Lula que comemoraram o fato de o Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) ter reafirmado uma decisão favorável à candidatura do ex-presidente — embora uma vitória para Lula, trata-se algo de pouco efeito prático. 

O silêncio de Haddad não esconde os percalços da transição. Estava prevista para a noite desta segunda um ato com artistas e intelectuais no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (TUCA). Haddad cancelou sua participação na última hora para ficar em Curitiba e acertar os últimos detalhes do encontro de amanhã. Quis evitar que o comício em São Paulo acabasse se transformando, mesmo sem a sua anuência, num primeiro ato informal da sua campanha à frente da chapa petista. Além do mais, existe uma preocupação constante no núcleo do partido que trabalha a passagem de bastão: em nenhum momento a sigla pode passar a sensação de que está abandonando o seu maior líder ou deixando de lado o discurso de que está disposta a ir até o último recurso na Justiça para defendê-lo.

Atraso

O PT tentou adiar o máximo possível a substituição de Lula, preso desde abril em razão de uma condenação por corrupção e lavagem de dinheiro. Há a avaliação entre os conselheiros do ex-presidente que a transferência de votos para Haddad tende a ser tão forte quanto mais próxima a troca ocorrer do primeiro turno. Mas duas decisões recentes de ministros do TSE eliminaram as últimas esperanças do partido de tentar postergar a substituição até a próxima semana. No fim de semana, o ministro Luís Roberto Barroso, do TSE, afirmou que o PT poderia ter o seu tempo de rádio e televisão suspenso caso o partido insistisse em apresentar Lula nas peças publicitárias como candidato a presidente. Poucas horas depois, a presidente da Corte Eleitoral, ministra Rosa Weber, negou um pedido de Lula para que o prazo limite para a substituição de candidato fosse estendido do dia 11 de setembro para o dia 17.

Há tempos que diferentes alas do PT já reconhecem em privado que Lula estará impossibilidade de ser candidato no pleito de outubro. Mas o fato de ele ser o maior capital político da legenda fez com que a sigla adotasse a estratégia de não admitir em hipótese alguma que haveria um "plano B". Até antes da decisão da Justiça Eleitoral que barrou a sua candidatura, no início deste mês, a estratégia rendeu resultados: nas últimas sondagens de opinião, do Ibope e do Datafolha, Lula somou 37% e 39% da preferência do eleitorado.

Mas o cenário ficou extremamente complicado com o veto da Justiça Eleitoral, no início de setembro. Como resultado, foi desencadeada a atribulada operação de sucessão. Embora o TSE tenha permitido que o PT continuasse com o seu programa de rádio e televisão até a substituição, desde que usasse apenas a figura de Haddad como candidato a vice, as peças publicitárias que foram ao ar trouxeram uma mensagem pouco clara — nelas, Haddad aparecia apenas como "vice-presidente", sem mais detalhes. Além do mais, os candidatos a deputado e senador têm as suas próprias campanhas afetadas, já que não podem mais usar a imagem de Lula como presidenciável, sem que as novas diretrizes do partido para futuros materiais de campanha tenham sido definidos. Nesse limbo, a ansiedade por uma situação mais clara só cresce no partido.

Não foi o único obstáculo contra o qual Haddad se encontrou nos últimos dias. Setores do PT e do PCdoB, o principal partido aliado, avaliam que a passagem de bastão de Lula para Haddad já deveria ter sido feita e que a demora faz com que reste pouco tempo para que o ex-prefeito de São Paulo se torne conhecido e diga ao eleitor de que é o candidato apoiado por Lula. Além do mais, o próprio perfil de Haddad, um professor universitário e ex-ministro da Educação nos governos Lula e Dilma Rousseff, encontra resistências dentro das alas mais à esquerda do PT, que o consideram "paulista demais" e até mesmo "de direita". Nada disso deve impedir que a troca ocorra nos termos definidos por Lula: um candidato escolhido por ele –e anunciado no tempo dele.

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