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“Escolhi Marina por não ser extremista, nem de direita nem de esquerda”

O estudante Davi Kumruian vai estrear nas urnas votando na ambientalista, assim como 6% dos paulistas

O estudante de engenharia Davi Kumruian, de 19 anos.
O estudante de engenharia Davi Kumruian, de 19 anos.Toni Pires
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Davi Kumruian, de 19 anos, está incomodado com a polarização política nestas eleições. Estudante de engenharia na Universidade Federal do ABC, ele conta que nem sempre consegue dialogar com amigos e familiares para defender as propostas da candidata Marina Silva, da REDE, a quem dará seu primeiro voto presidencial no próximo dia 7 de outubro. “Não gosto de debater com agressividade. Hoje só é possível conversar com quem tem a cabeça aberta”, diz.

Morador da zona norte paulistana, Kumruian é filho único em uma família que acompanha superficialmente a política nacional. “Não posso dizer que gosto de política pelos meus pais, eles são bastante neutros”, acrescenta. Cursou o ensino médio em uma escola particular graças à bolsa integral que conseguiu por sua participação em olimpíadas nacionais e internacionais de linguística e história, as mesmas que lhe fizeram se interessar pela política e devorar jornais para tentar entender o próprio país.

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O estudante diz que há anos acompanha de perto a política brasileira, mas nunca havia considerado uma atuação mais direta. Até este ano, quando resolveu se voluntariar para trabalhar na campanha de Marina Silva contra a “polarização” que tem tomado o País. “Escolhi minha candidata por não ser extremista nem de direita nem de esquerda. É importante dialogar e ter propostas racionais, e Marina tem uma equipe estruturada para isso”, defende.

Kumruian faz parte dos 6% dos paulistas que escolheram a ambientalista, segundo o Ibope. Ele diz que amigos e familiares não acompanham sua decisão e que a maioria prefere Lula (cuja candidatura foi impugnada e agora apoia Fernando Haddad) ou Bolsonaro. De acordo com a pesquisa divulgada nesta terça-feira (18) pelo Ibope, Bolsonaro tem 28% das intenções de voto no Brasil. Em segundo lugar, está Haddad com 19%. Já Marina Silva aparece com 6%, em declínio. “As pessoas estão votando muito pelas pesquisas, mas ninguém tem a maioria absoluta”, diz Kumruian, confiante.

Em uma eleição atípica —marcada pela crise econômica, pelos desdobramentos da Operação Lava Jato e pelo sentimento de descrença com a política—, Kumruian decidiu não apenas votar, mas trabalhar pela sua candidata. Ele integra um grupo de dezenas de pessoas que seleciona os melhores momentos de Marina nos debates e entrevistas e que tenta combater as fakenews contra a presidenciável na internet. “Já conhecia a Marina antes, mas neste ano passei a pesquisar mais sobre ela. Descobri que existia esse time de apoio e decidi ajudar. Não faço nada muito expressivo, mas dou minha contribuição para quem eu acredito”, conta.

Candidata ao Palácio do Planalto pela terceira vez, Marina Silva vem perdendo espaço entre o eleitorado jovem. Saiu de 32% da preferência dos jovens (de 16 a 24 anos) em 2015 para 7% neste ano, segundo a última pesquisa Ibope. Davi Kumruian acredita que se trata de um efeito colateral da estratégia de campanha da própria Marina, que, segundo ele, tem focado em outros segmentos para ganhar mais visibilidade em vez de dividir a atenção com outros candidatos que têm apostado na juventude. “Nesse momento, ela tem enfocado mais nas mulheres e no tema ambiental. Acredito que seja uma estratégia correta para conseguir mais eleitores”, diz.

Contra a corrupção

O estudante considera que a má administração do dinheiro público e a corrupção são os grandes responsáveis pela atual crise brasileira e diz ter valorizado a capacidade de trazer novos temas na escolha do candidato, além da ausência de processos judiciais. “O grande destaque do Brasil no mundo é a natureza, e poucos candidatos falam sobre isso. A Marina sempre esteve envolvida com as questões ambientais e tem potencial para desenvolver bem o agronegócio, que é a principal fonte de economia do Brasil”, defende.

Caso a candidata não chegue ao segundo turno, Kumruian diz que ainda não sabe em quem votaria. Descarta candidatos que considera “extremistas”, como Jair Bolsonaro (PSL) e Guilherme Boulos (PSOL), e também o voto nulo ou branco. O tucano Geraldo Alckmin, segundo o estudante, também não seria opção.

“O Alckmin não me parece coerente. Já ocupou vários cargos por meio de alianças com partidos corruptos e toma decisões que não estão muito pautadas na questão social”, argumenta. Nas últimas eleições municipais, em 2016, Kumruian apoiou o também tucano João Dória para a Prefeitura de São Paulo. Naquele momento, pensou que a cidade precisava de um gestor e que Dória era bem sucedido nisso, mas nunca se identificou com o PSDB. “Infelizmente, ele não cumpriu sequer com a promessa de não deixar a Prefeitura para disputar o Governo do Estado”, lamenta. O desafio em um eventual segundo turno sem Marina, para Kumruian, é encontrar opções com coerência.

Durante estas eleições, o EL PAÍS apresenta a seção "Primeiro Voto", que traz o perfil de um jovem que está prestes a estrear no processo eleitoral. Leia outras histórias de eleitores que votam pela primeira vez neste ano.

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