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Presidente do Governo espanhol faz giro pela América Latina, mas pula Brasil

Pedro Sánchez visita em cinco dias Chile, Bolívia, Colômbia e Costa Rica

Miguel González

Dois presidentes de direita, Sebastián Piñera e Iván Duque, e dois de esquerda ou centro-esquerda, Evo Morales e Carlos Alvarado. O chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, elegeu cuidadosamente os quatro países de sua primeira ronda latino-americana (Chile, Bolívia, Colômbia e Costa Rica) que teve início nesta segunda, quando está a ponto de celebrar dois meses desde que chegou ao Palácio da Moncloa, para deixar clara sua vontade de “falar a toda América Latina”, a despeito de sua cor política. O Brasil, entretanto, ficou de fora da agenda.

Pedro Sánchez (esq.) e o presidente do Chile, Sebastián Piñera, nesta segunda-feira
Pedro Sánchez (esq.) e o presidente do Chile, Sebastián Piñera, nesta segunda-feiraAgencia Makro (Getty Images)

Fontes da Moncloa asseguram que o giro de cinco dias por quatro países, como o empreendido por Sánchez, não era feito “há muitos anos”, e que seu objetivo é cobrir o “déficit” da presença espanhola na América Latina que deixou seu antecessor, Mariano Rajoy.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, não há previsão de Pedro Sánchez visitar o Brasil nos próximos meses. O órgão ressaltou que recentemente, em abril de 2017, o então presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, esteve em Brasília, onde participou de uma visita oficial ao presidente brasileiro, Michel Temer.

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Para além do adamismo que experimenta todo novo inquilino da Moncloa, a verdade é que a dura crise econômica que sofreu a Espanha desde 2008 acabou desalojando-a da cena internacional, incluída a ibero-americana.

O mandato de Rajoy coincidiu, além disso, com o auge de figuras como Lula (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina) ou Maduro (Venezuela), com os quais não sintonizava. Isso acentuou sua inibição. A substituição dos dois primeiros por Michel Temer e Mauricio Macri anunciava uma nova etapa de maior sintonia, mas agora é na Espanha que se viu uma guinada política. E os tempos políticos de ambos os lados do Atlântico parecem estar uma vez mais desajustados.

O propósito do Governo espanhol é que esta circunstância não faça o país perder a oportunidade de recuperar o peso perdido na América Latina, agora que sua melhoria econômica lhe permite fixar metas mais ambiciosas. Por isso elegeu países de diferentes cores políticas para sua gira de apresentação. A Bolívia não era visitada por um presidente espanhol há 20 anos.

A viagem de Sanchez está marcada pela situação da Venezuela e Nicarágua, embora não venha a visitar esses dois países, cuja gravíssima conjuntura política, social e econômica levou ao exílio  milhares de pessoas, provocando uma terrível crise humanitária nos países vizinhos e em toda a região.

O novo presidente do Governo espanhol deve decidir se vai se alinhar, como fez Rajoy, com quem advoga por endurecer as multas aos regimes de Caracas e Manágua, ou se aposta em uma via de diálogo que até agora resultou ser um completo fiasco.

A escala de Sánchez em Santiago do Chile, a partir desta segunda-feira, servirá para dar um respaldo às empresas espanholas com presença na América Latina, com cujos diretores manterá um café da manhã de trabalho. Em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), pretende explicar a política de ajuda ao desenvolvimento do novo Governo, depois de o PP de Rajoy recortar os fundos em mais de 70%, mediante a assinatura de um acordo-quadro de cooperação por quatro anos. Também subscreverá um memorando para incorporar a empresas espanholas ao projeto do trem bioceânico que deve unir Ilo (Peru) e Santos (Brasil), através da Bolívia. Em Bogotá (Colômbia), oferecerá ao novo presidente Iván Duque, com quem já se encontrou em julho em Madri, sua disposição a atuar como “facilitador” das negociações com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN), se este decidir seguir com o processo iniciado por seu antecessor, Juan Manuel Santos. Em San José (Costa Rica), visitará o Corte Interamericana de Direitos Humanos.

No dia 15 de novembro, o presidente do Governo espanhol regressará a Antigua (Guatemala) para participar da cúpula ibero-americana e no final de mês irá à cúpula do G-20 em Buenos Aires (Argentina). Ficam pendentes as duas grandes potências ibero-americanas: México, onde o novo presidente Andrés Manuel López Obrador toma posse em 1 de dezembro; e Brasil, em plena campanha para as eleições de outubro, com um resultado imprevisível.

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