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“Tudo indica que as chacinas estão se multiplicando no Rio de Janeiro”

À espera de dados oficiais, instituto vinculado à Universidade Cândido Mendes aponta para resultados "pífios" nos cinco meses da intervenção federal. Serviço colaborativo aponta aumento de 128% nas mortes em chacinas no Rio

Amigos e familiares de Marcos Vinícios choram sobre sua camiseta da escola manchada de sangue, durante o seu velório.
Amigos e familiares de Marcos Vinícios choram sobre sua camiseta da escola manchada de sangue, durante o seu velório.AFP (MAURO PIMENTEL)
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A intervenção federal no Rio de Janeiro completou cinco meses nesta segunda-feira e os resultados, de acordo com Centro de Estudos da Segurança e Cidadania (Cesec), são “pífios”. Dados compilados pelo centro da Universidade Cândido Mendes revelam que a crise de segurança no Estado persiste — e em alguns casos foi agravada: foram apreendidos menos fuzis, metralhadoras e submetralhadoras do que no mesmo período do ano passado, segundo o observatório independente. Houve também um alarmante incremento de 128% no número de mortes em chacinas (quando numa mesma ação são mortos três ou mais pessoas). A partir de números do projeto Fogo Cruzado, o Cesec contabilizou desde o início da intervenção 28 ocasiões que acabaram com três pessoas mortas ou mais na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, totalizando 119 óbitos .

“Tudo indica que essa prática [as chacinas] está se multiplicando no Rio de Janeiro, seja em decorrência de ações policiais seja em decorrência de grupos de extermínio”, afirma Silvia Ramos, cientista social e coordenadora do Observatório da Intervenção do Cesec. “Desde o início da intervenção a situação [da segurança pública] no Rio não melhorou; os problemas continuaram os mesmos e inclusive novos problemas surgiram”, comenta a especialista.

O Cesec cruza mensalmente dados próprios e de diferentes fontes para avaliar a situação da segurança pública no Estado. No informe atual não há números do Instituto de Segurança Pública, órgão vinculado ao Governo do Rio de Janeiro, que ainda não publicou o seu levantamento para o mês junho. Dessa forma, o Cesec não divulgou na atual versão do seu estudo os indicadores referentes a homicídios, pessoas mortas pela polícia e roubos.

Procurado, o Instituto de Segurança Pública afirmou que não comenta os números do Cesec, por não serem oficiais, e informou que deve tornar público o seu próprio levantamento nos próximos dias. O último balanço feito pela Secretaria de Segurança Pública do Rio apontou para uma redução, entre março e maio, no número de mortes violentas (-9,59%), roubo de veículos (-18,21%); roubos de carga (-17,99%) e homicídios dolosos (-16,70%). Apesar dos resultados, os índices ostentados pelo Rio entre março permanecem em níveis alarmantes e houve um aumento no número de homicídios decorrentes de intervenção policial (30,27%) e roubos de rua (6,07%).

A intervenção federal no Estado foi determinada por um decreto assinado em 16 de fevereiro deste ano. O motivo apontado pelo governo Michel Temer para justificar a medida, inédita desde a redemocratização, era fazer frente à forte criminalidade que golpeia o Rio. De quebra, a ação também visava melhorar a avaliação do emedebista a partir de uma ação contundente — e polêmica — numa das áreas mais mal avaliadas pela população.

O mais recente levantamento do Cesec foi intitulado “Muito tiroteio, pouca inteligência”. Usando novamente informações do projeto Fogo Cruzado, o centro aponta para um aumento no número de tiroteios. Foram 4.005 registrados na Região Metropolitana desde que o decreto foi assinado, contra 2.924 nos cinco meses anteriores à intervenção no Estado.

Mais além dos números conhecidos hoje, junho foi também o mês que ficou marcado pela morte do adolescente Marcos Vinícius da Silva, de 14 anos, alvejado por um disparo durante uma operação policial no Complexo de Favelas da Maré. As últimas palavras da criança ditas à sua mãe — “Eu sei quem atirou em mim, eu vi quem atirou em mim. Foi o blindado, mãe. Ele não me viu com a roupa de escola?” — e a fotografia do uniforme escolar do jovem empapado de sangue se converteram em símbolos da crise de segurança pública que não dá trégua no Rio. Uma crise que, com ou sem intervenção, parece muito longe de ser superada.

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