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Alckmin encara o dilema “você não gosta de mim, mas o mercado gosta”

Investidores traçam cenário perfeito com tucano no Planalto, mas ele não responde nas pesquisas

Rodolfo Borges
Geraldo Alckmin participa de debate em Brasília nesta quarta-feira.
Geraldo Alckmin participa de debate em Brasília nesta quarta-feira.ADRIANO MACHADO (REUTERS)
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Uma vitória de Geraldo Alckmin (PSDB) em novembro provocaria uma melhora do índice Ibovespa e levaria o dólar para baixo de 3,40 reais, segundo avaliação de 97% dos investidores ouvidos pela XP Investimentos nesta semana. Nada mal para estes dias de instabilidade, em que a bolsa de valores apresenta quedas seguidas, e um dólar que já ultrapassa os 4 reais nas casas de câmbio. O problema é que o pré-candidato tucano ao Palácio do Planalto vive um dilema de ser o número um no coração e bolso do mercado financeiro, mas está bem longe de ser o predileto da população, pelo menos até o momento. Alckmin não decola nas pesquisas de intenção de voto — aparece com apenas 8% nos seus melhores cenários nas últimas pesquisas Datafolha e DataPoder360. Aparentemente estagnado, o ex-governador de São Paulo, que vira e mexe tem seu estigma relembrado — picolé de chuchu, por uma suposta falta de carisma —, está consciente da dicotomia e se esforça para quebrar esse descasamento. Nesta semana, até mudou de estratégia para tirar essa fama de 'bonzinho'. Alckmin dirigiu as baterias contra o líder das pesquisas e desafiou o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) via redes sociais para um debate sobre segurança. Bolsonaro respondeu com um deboche. “Quando ele [es]tiver na minha frente em São Paulo, ou atingir dois dígitos, ele liga para mim”, disse ao Estado de S.Paulo.

A situação de Alckmin, bem como dos candidatos a presidente, ficou em evidência nas últimas semanas agitadas no mercado brasileiro, de alta no dólar e queda na Bolsa. "A greve dos caminhoneiros gerou caos econômico e político e mostrou a fragilidade do atual governo, assim como uma insatisfação difusa da população com a política, o que torna a corrida eleitoral ainda mais imprevisível", avalia Rodrigo da Rosa Borges, chefe de investimentos de renda fixa e multimercado da Franklin Templeton Investments em relatório divulgado nesta semana. Frederico Sampaio, chefe de investimentos de renda variável do mesmo grupo, diz que "a única certeza é que ninguém sabe de nada" e lembra que a campanha só começa em agosto, depois de uma Copa do Mundo.

Sampaio destaca que a resposta do Governo Michel Temer aos caminhoneiros, se rendendo a todas as demandas e colocando em risco a política de preços da Petrobras, tornou mais sólida e visível a fraqueza do Palácio do Planalto e piorou as perspectivas de melhora econômica, que dependem das reformas. A debilidade de Temer jogou os olhos do mercado para o futuro e antecipou um quadro de incertezas que só deveria ter se estabelecido no segundo semestre do ano, na avaliação de Camila Abdelmalack, economista da Capital Markets. "O que assusta é o quadro como um todo. O Congresso está muito fragmentado e as candidaturas que têm a intenção de fazer reformas talvez não tenham força [para fazê-las], enquanto as que que teriam força talvez não tenham a intenção de fazer reformas como a da Previdência", diz Abdelmalack.

Em março, o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega já alertava para o risco Bolsonaro, numa previsão que agora soa profética: "Se amanhã o Bolsonaro aparecer com 40% nas intenções de voto, tudo despenca: a Bolsa, o câmbio vai para 4 reais, a confiança diminui e o risco do crescimento de 3% cair é grande. Temos uma reversão rápida do cenário atual", disse em palestra. Apesar de Bolsonaro não ter aparecido com intenção de voto tão alta (17% no último Datafolha e 25% no DataPoder360), o dólar já ronda os 4 reais e a previsão de crescimento do PIB foi reduzida pelo Governo para 2,5% — na expectativa do mercado, já caiu para os 2%.

"Ainda acreditamos que os candidatos mais ao centro devam acabar se movimentando no sentido de apresentar uma candidatura que seja viável para chegar ao segundo turno”, aposta a gestora de investimentos GTI. Em nota assinada por André Gordon, a GTI diz que Jair Bolsonaro não convence o mercado financeiro de seu compromisso com uma agenda econômica ortodoxa, mas destaca que ele apresentou o economista Paulo Guedes como seu futuro ministro da Fazenda. "Paulo Guedes, economista e PhD por Chicago com visão liberal, já apresentou, em algumas oportunidades, a sua visão. Se ele conseguir pô-las em prática, o Brasil viverá seus melhores anos em décadas", diz Gordon.

Futuro presidente

A visão do mercado financeiro é sempre um termômetro, mas é parcial por não considerar o eleitor comum. Assim, suas apostas se valem de lógicas matemáticas e não necessariamente estão ancoradas na realidade. Para 48% dos 204 investidores ouvidos pela XP investimentos, por exemplo, Bolsonaro, hoje, seria o provável vencedor da eleição. Alckmin, que em abril liderava a previsão da mesma pesquisa com os mesmos 48% de Bolsonaro, agora é apontado como futuro presidente por apenas 31% e fica em segundo lugar. Nas pesquisas de opinião, no entanto, o tucano estava em terceiro lugar nas preferências dos brasileiros, atrás de Ciro Gomes (PDT) e em empate técnico com Fernando Haddad (PT), que poderia vir a substituir Lula na corrida eleitoral. Ciro, entretanto, é apontado como alguém que contribuiria paras "desfechos negativos" para o Ibovespa junto com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), na visão de investidores. Isso porque Ciro e o PT atacam a reforma proposta pelo governo Michel Temer, e pelas críticas ao teto de gastos públicos. No caso da ex-ministra Marina Silva (Rede), que aparece como futura presidenta para apenas 5% dos entrevistados, os investidores estão mais divididos: 36% apostam em alta na Bolsa de Valores com a sua eventual vitória, enquanto 40% preveem queda.

O fiador de Marina no mercado é André Lara Resende, um dos formuladores do Plano Real, diz Carlos Macedo, economista da Canepa Asset Managements. A consultoria traçou cenários para o mercado brasileiro levando em conta os nomes de Alckmin, Marina, Bolsonaro e Ciro. A ex-ministra não causa tanto temor. Na previsão da Canepa, o Ibovespa subiria num governo Marina, o dólar ficaria em torno de 3,50 reais e o país cresceria 3% no próximo ano. No caso de Bolsonaro, apesar de o receio estar amortecido pela parceria com o economista Paulo Guedes, o Ibovespa cairia dos atuais 86.000 pontos para 60.000, o dólar subiria para 4,10 reais e o PIB de 2019 cresceria apenas 1,9%.

O pior dos cenários projetados pela Canepa seria o de Ciro Gomes, que tem falado uma língua mais perto de anseios e pressões populares do que das expectativas reformistas do mercado — com ele, o Ibovespa cairia para 45.000, a taxa básica de juros poderia subir a 10% e a taxa de crescimento do PIB em 2019 não passaria de 1,3%, tudo isso com dólar a 4,40 reais. Talvez por isso, Ciro flerte com uma chapa com o dono da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamin Steinbruch, como vic. Recentemente filiado ao PP, Steinbruch acaba de se licenciar do cargo de vice-presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Se essa hipótese se confirmar, seria a mesma fórmula empregada por Lula em 2003 quando se associou ao empresário José de Alencar para aplainar seu caminho para o Palácio do Planalto.

No caso de um Governo Alckmin, o cenário traçado pela Canepa Asset Managements é radicalmente diferente do de Ciro Gomes: Ibovespa a 170.000 pontos, taxa básica de juros a 6%, dólar a 3,25 reais e previsão de crescimento para o próximo ano de 3,5%. Praticamente, céu de brigadeiro na economia. Só falta convencer a população de que esse cenário há de se confirmar para que ele seja referendado nas urnas.

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