Trump confirma que reembolsou advogado por pagamento a atriz pornô
Declaração foi dada pelo Twitter após um de seus advogados contradizê-lo publicamente
Donald Trump sabia do acordo de confidencialidade com a atriz pornô Stormy Daniels e foi ele quem pagou os 130.000 dólares (aproximadamente 450.000 reais) para comprar seu silêncio. A revelação surpreendente foi feita com naturalidade diante de milhões de espectadores por ninguém menos que Rudolph Giuliani, que há apenas duas semanas se juntou à equipe jurídica que assessora o presidente dos Estados Unidos. A versão de Giuliani basicamente expõe como mentirosos o próprio cliente, Donald Trump, e seu advogado pessoal, Michael Cohen.
Trump, que chegou a dizer que não sabia nada sobre o pagamento, saiu nesta manhã em sua defesa. Em três tweets, ele afirmou que deu um adiantamento mensal a Cohen, sem relação com a verba da campanha, com o qual o advogado teria pago um acordo de confidencialidade que tinha como objetivo "acabar com as acusações falsas e extorsivas" da atriz. Segundo o presidente, esses acordos "são muito comuns entre celebridades e pessoas ricas".
Mr. Cohen, an attorney, received a monthly retainer, not from the campaign and having nothing to do with the campaign, from which he entered into, through reimbursement, a private contract between two parties, known as a non-disclosure agreement, or NDA. These agreements are.....
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) May 3, 2018
...very common among celebrities and people of wealth. In this case it is in full force and effect and will be used in Arbitration for damages against Ms. Clifford (Daniels). The agreement was used to stop the false and extortionist accusations made by her about an affair,......
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) May 3, 2018
...despite already having signed a detailed letter admitting that there was no affair. Prior to its violation by Ms. Clifford and her attorney, this was a private agreement. Money from the campaign, or campaign contributions, played no roll in this transaction.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) May 3, 2018
O palco das declarações de Rudy Giuliani foi uma entrevista na Fox News, em horário nobre, com o apresentador-estrela da emissora conservadora, Sean Hannity. Giuliani, ex-prefeito de Nova York e ex-candidato à presidência e um dos primeiros partidários de Trump entre os republicanos, compareceu na condição de advogado do presidente, depois de anunciar, em 19 de abril, que passara a integrar a equipe jurídica de Trump para lidar com a investigação do promotor especial sobre a trama russa.
Sem que lhe perguntassem diretamente, Giuliani começou a dizer que o pagamento à atriz pornô Stormy Daniels “não era dinheiro de campanha”. O esclarecimento é pertinente, porque essa pode ser a complicação legal mais clara em que Trump esteve envolvido. Mas, em seguida, ele diz que o valor “foi canalizado através de um escritório de advocacia e o presidente o reembolsou”.
Hannity parece surpreso com a resposta e Giuliani a repete. Quando o apresentador lembra a ele que o presidente alegou não saber nada disso, Giuliani responde: “Ah, ele não sabia os detalhes, até onde sei. Mas ele sabia do acordo em geral, que Michael (Cohen) iria cuidar de coisas como essa.” Mais tarde, Hannity insiste novamente e Giuliani repete: “O presidente reembolsou ao longo de vários meses.” Quando o apresentador lembra a ele que Michael Cohen disse ter feito isso por conta própria, Giuliani parece surpreso: “Ah é? Eu não sei, não investiguei isso. Não tenho motivos para discutir isso.”
Donald Trump e Stormy Daniels (cujo nome verdadeiro é Stephanie Clifford) teriam tido um encontro sexual em 2006. Trump nega. Pouco antes da eleição, uma década mais tarde, o advogado pessoal de Trump, Michael Cohen, pagou a Daniels 130.000 dólares em troca de um acordo de confidencialidade em nome de um cliente que não assinou o documento (a assinatura está em branco). Três meses atrás, Daniels processou Cohen e Trump para anular o acordo.
Trump nunca havia se referido a essa questão até 6 de abril, quando um repórter perguntou a ele no Air Force One se ele sabia do pagamento a Stormy Daniels. “Não”, respondeu categórico. Outro jornalista perguntou se ele sabia de onde o dinheiro havia saído. “Não, não sei”, disse ele. E acrescentou que era preciso perguntar a Michael Cohen porque ele era seu advogado nesse assunto. Com essa afirmação, Trump comprometia a versão de Cohen de que o presidente não tinha nada a ver com Daniels.
A implicação mais séria deste assunto, até agora, é a possibilidade de que esse dinheiro seja considerado uma doação não declarada para a campanha, o que é crime. A estratégia de Michael Cohen para proteger Trump tem sido dizer que o presidente não sabia de nada, que o valor foi pago por ele e não foi reembolsado nem por Trump, nem por suas empresas, nem pela campanha. Esse parecia ser o esclarecimento que Giuliani pretendia fazer. É importante porque há uma investigação do FBI em andamento sobre esses pagamentos, cuja primeira consequência foi uma busca agressiva nos escritórios e na casa de Michael Cohen.
Logo após as declarações, o repórter do Washington Post Robert Costa tuitou que havia acabado de falar com Giuliani e que este afirmara que o presidente estava “muito feliz” com a revelação e havia aprovado suas declarações. O presidente “estava muito consciente de que, em algum momento, quando eu visse a oportunidade, iria acabar com isso”, diz Giuliani, citado por Costa. Ele afirma ter falado com Trump “quatro ou cinco dias atrás”.
O advogado de Daniels, Michael Avenatti, nunca escondeu que seu objetivo final com esse processo é questionar o presidente no tribunal. Quanto mais pontos obscuros e contradições houver na versão da outra parte, maiores são as probabilidades de o juiz federal que cuida do caso em Los Angeles chamar as partes para depor, incluindo Trump. Avenatti costuma tuitar sua alegria toda vez que surge um novo detalhe sobre o caso.
Quarta-feira não foi exceção. Duas horas depois das revelações de Giuliani, Avenatti apareceu na CNN para dizer que o público deveria estar “enojado” com “as mentiras ditas durante três meses” sobre o assunto. No Twitter, ele acrescentou: “Trump mentiu descaradamente no Air Force One (...) Não vamos descansar enquanto não se fizer justiça.”
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