Preso há quatro dias, Lula segue no jogo mesmo fora de campo
Enquanto PT traça estratégias, ex-presidente recebe apoio internacional e segue como candidato
Nesta quarta-feira completam-se quatro dias que o ex-presidente Lula está preso na superintendência da Polícia Federal de Curitiba. Lá, ele começou a cumprir pena de 12 anos e 1 mês por corrupção e lavagem de dinheiro. Embora detido, do lado de fora o petista segue dominando as narrativas. Desde sábado, lideranças da esquerda internacional, passando pela ex-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, e o mandatário venezuelano, Nicolas Maduro, até o líder do movimento França Insubmissa, Jean-Luc Melenchon, o líder do Podemos na Espanha, Pablo Iglesias e o ex-premiê de Portugal, José Sócrates, já se manifestaram em defesa do ex-presidente.
O PT, por sua vez, distribui seus esforços em torno de uma estratégia que vai desde transferir a direção política do partido para Curitiba, passando por um acampamento montado em frente ao prédio onde Lula está preso, atos por diversas capitais e na insistência do discurso de que Lula permanece candidato à presidência. "Lula não é apenas o candidato do PT", disse ao EL PAÍS a presidenta do partido, senadora Gleisi Hoffmann. "Lula é o candidato de uma parcela grande da população", afirmou, amparada nas pesquisas eleitorais que apontam, pelo menos até o momento, o petista em primeiro lugar (37% dos votos) em todos os cenários.
Neste final de semana, o Datafolha publicará uma nova pesquisa de intenções de voto, em que seu nome será testado, muito embora ainda permaneçam as dúvidas se ele conseguirá, ou não, concorrer. Na segunda-feira, o instituto registrou a primeira pesquisa após a prisão do ex-presidente. Serão apresentados nove cenários para os entrevistados. Lula é o candidato do PT em três dele. O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, substitui Lula em outros três cenários, e o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner em outros dois. Em apenas um cenário o PT não apresenta nenhum candidato. Os resultados devem sair no próximo domingo e avaliam também o atual Governo Temer e as intenções de voto para o Governo de São Paulo. "Quem define o candidato não é o Datafolha, somos nós", disse Gleisi, ao ser questionada sobre os cenários sem Lula. "Lula vai ser o candidato, sob qualquer hipótese. Ele é inocente, por isso é um preso político", afirmou.
Incluir o ex-presidente nas pesquisas faz sentido já que sua prisão não o torna inelegível automaticamente. A Lei da Ficha Limpa estabelece que não basta apenas a condenação pela Justiça para que alguém seja proibido de ser candidato. É preciso que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorize ou não a candidatura. Enquanto isso, Lula está no jogo, mesmo fora de campo. A manutenção do seu nome tem sido lida de diversas formas pelo mundo político. Por um lado, a insistência de ser candidato é uma maneira de insistir em sua inocência, ou seja, calar-se seria admitir a culpa. Por outro, apontar sucessor agora poderia queimar cartuchos antes do tempo.
Seja como for, a estratégia é manter o PT vivo mesmo que abalado com a prisão de seu maior líder. Fora da capital paranaense, o partido desenhou uma tática de guerrilha para as redes sociais para manter seu nome em voga. De maneira geral, o discurso será estabelecido em três linhas: enaltecer as conquistas sociais dos governos do PT, ressaltar a permanência dos ideais defendidos por Lula mesmo após sua prisão, e, por último, tratá-lo como um injustiçado, e a Justiça como parcial.
Para isso, diversas frases de efeito foram desenhadas. A marca mais usada será #JamaisApisionarãoNossosSonhos, uma frase dita pelo próprio Lula em um vídeo que começou a circular no momento em que ele se entregava, no sábado. Outras palavras de ordem também serão utilizadas, como “Lula é o povo e o povo é Lula” e “O ‘crime’ de Lula foi gerar 15 milhões de empregos”. Elas circularão pela internet em cartões, com o desenho do rosto do ex-presidente. “No Governo Lula 36 milhões de pessoas saíram da pobreza”, diz um deles. “Dois pesos e duas medidas. Justiça arquiva ações de [Geraldo] Alckmin e julga Lula em tempo recorde” e “Grampearam e divulgaram conversas de Lula. Acham exagero quebrar sigilos de Temer”, diz outros.
A campanha tentará manter Lula como o candidato que fará "do Brasil um país respeitado lá fora mais uma vez", como diz um dos cartões. Outra tática para manter o nome do ex-presidente em evidência chegou ao Congresso. Deputados do PT estão modificando seus nomes oficiais com o nome “Lula” no meio do sobrenome. Assim, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), por exemplo, passou a ser chamado de Paulo Lula Pimenta.
Para além da internet e do acampamento em Curitiba, militantes e apoiadores do ex-presidente também estão enviando cartas com mensagens positivas ao petista. Uma campanha informal pede até que telefonemas sejam feitos à superintendência da PF para saber como Lula está sendo tratado ali. Um abaixo-assinado eletrônico em defesa da candidatura do ex-presidente ao Prêmio Nobel da Paz já tinha arrecadado mais de 100.000 assinaturas. A campanha, cuja meta é alcançar 150.000 assinaturas, foi criada por Adolfo Pérez Esquivel, ativista argentino que ganhou o Nobel em 1980.
Visita negada
Para além da estratégia virtual, outras ações são realizadas para que a prisão de Lula não caia no esquecimento do noticiário. Nesta terça, uma comitiva de governadores de nove Estados foi à capital paranaense na esperança de fazer uma visita ao ex-presidente. Mas, Tião Viana (PT-AC), Waldez Góes (PDT-AP), Ricardo Coutinho (PB-PSB), Flavio Dino (MA-PCdoB), Wellington Dias (PT-PI) Camilo Santana (PSB-CE) Rui Costa (PT-BA), Paulo Câmara (PSB-PE), Renan Filho (MDB-AL) foram barrados na porta. O dia de visita aos presos que estão na PF de Curitiba é quarta-feira. Apenas os advogados dos detentos podem visitá-los fora deste dia.
Por isso, a Justiça Federal do Paraná negou o pedido de visitas, o que, segundo Gleisi Hoffmann, deixou o ex-presidente "bravo". "Ele foi informado pelo advogado Manuel Caetano [um dos que fazem a defesa do petista] sobre a comitiva, e ficou emocionado e bravo porque não puderam visitá-lo", contou Gleisi Hoffmann. Até o momento, apenas os advogados de Lula o viram. Na manhã desta quarta-feira, o pré-candidato à presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos, esteve no acampamento em frente à superintendência da PF em Curitiba.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.
Mais informações
Arquivado Em
- Luiz Inácio Lula da Silva
- Pena prisão
- Eleições Brasil 2018
- Datafolha
- Guilherme Boulos
- Fernando Haddad
- Ficha Limpa
- Operação Lava Jato
- Gleisi Hoffmann
- Eleições Brasil
- Polícia Federal
- Corrupção política
- Brasil
- Polícia
- Julgamentos
- Eleições
- América
- Processo judicial
- Justiça
- Sociedade
- Partido dos Trabalhadores
- Partidos políticos
- Política
- Camilo Santana