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As razões que fizeram da Finlândia o lugar mais feliz do mundo

País nórdico ocupa a primeira posição no Relatório Anual da Felicidade das Nações Unidas

Cabana de verão no arquipélago de Turku, na Finlândia.
Cabana de verão no arquipélago de Turku, na Finlândia.IgorSPb (Getty)
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Se alguns países se gabam dos seus feitos esportivos, na Finlândia isso poderia se aplicar ao âmbito social, econômico, político e educativo. E os finlandeses de fato ostentam isso com orgulho: a página do instituto finlandês de estatística contém uma seção chamada Finlândia, entre os melhores do mundo, que reúne dezenas de estudos internacionais em que esse país nórdico ocupa as primeiras colocações. Nesta quarta-feira, surgiu mais um indicador a acrescentar: a Finlândia foi apontada pelas Nações Unidas como o país mais feliz do mundo, segundo o Relatório Anual da Felicidade.

O estudo, realizado a pedido da ONU pelo Instituto de Pesquisa da Felicidade, de Copenhague, leva em conta variáveis como o produto interno bruto (PIB), as ajudas sociais, a expectativa de vida, a liberdade, a generosidade, a ausência de corrupção e a qualidade de vida dos imigrantes. O Brasil aparece na 28º. colocação, imediatamente atrás do Panamá e à frente da Argentina.

As primeiras colocações desse ranking mudaram pouco em relação ao levantamento anterior. Entre 2015 e 2017, o período abrangido pela nova pesquisa, o top 10 foi ocupado pelos mesmos países, embora com algumas trocas de posição. A Finlândia, por exemplo, era a quinta colocada em 2017, e neste ano subiu para o primeiro lugar, antes ocupado pela Noruega.

Top 10 do ranking mundial de felicidade da ONU de 2018: Finlândia, Noruega, Dinamarca, Islândia, Suíça, Países Baixos, Canadá, Nova Zelândia, Suécia e Austrália. De esquerda para a direita, as barras coloridas representam: PIB per capita, ajudas sociais, expectativa de vida, liberdade para tomar decisões, generosidade, percepção da corrupção e diferença em relação aos valores mais baixos da tabela.
Top 10 do ranking mundial de felicidade da ONU de 2018: Finlândia, Noruega, Dinamarca, Islândia, Suíça, Países Baixos, Canadá, Nova Zelândia, Suécia e Austrália. De esquerda para a direita, as barras coloridas representam: PIB per capita, ajudas sociais, expectativa de vida, liberdade para tomar decisões, generosidade, percepção da corrupção e diferença em relação aos valores mais baixos da tabela.

O relatório de 2018 se debruçou especialmente sobre a felicidade dos imigrantes dos 117 países estudados e conclui que eles alcançam o nível de felicidade do país para onde se mudam. Não só os finlandeses são os mais felizes, segundo o estudo, como também seus imigrantes o são.

Para Eva Hannikainen, adida de Imprensa e Cultura da Embaixada da Finlândia na Espanha, a chave da felicidade finlandesa é a confiança, tanto entre seus habitantes como com relação aos seus políticos. “É uma sociedade muito transparente e com muitas políticas de apoio social”, diz ela ao EL PAÍS. “Além disso, é um país muito seguro e igualitário.” Essas são algumas das razões pelas quais os finlandeses se consideram tão felizes:

Uma sociedade sem grandes desigualdades

“Desde o nascimento da Finlândia como país, há 100 anos, os dois pilares fundamentais da sociedade foram a igualdade e a educação”, conta Hannikainen. Foi o primeiro país europeu a conceder o direito de voto às mulheres, em 1906, e em suas últimas eleições três dos oito candidatos dos principais partidos eram mulheres.

A Finlândia é um dos três países com menor disparidade de gênero no mundo, segundo o Fórum Econômico Mundial. Além disso, assim como ocorre na maioria dos países nórdicos, conta com um longo período de licença-paternidade, que pode se estender por até seis meses.

Topo do ranking de países com menor disparidade salarial entre os gêneros, segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial. Para elaborar o estudo, foram levados em conta quatro fatores: participação econômica e oportunidade da mulher no mundo trabalhista, nível educacional, saúde e expectativa de vida e poder político.
Topo do ranking de países com menor disparidade salarial entre os gêneros, segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial. Para elaborar o estudo, foram levados em conta quatro fatores: participação econômica e oportunidade da mulher no mundo trabalhista, nível educacional, saúde e expectativa de vida e poder político.

No âmbito econômico, segundo o UNICEF (órgão da ONU para a infância), a Finlândia é o segundo país do mundo com menor desigualdade infantil. Foram os finlandeses os inventores, na década de trinta, da popular caixa-berço com roupa, fraldas e acessórios que o Governo oferece às famílias com recém-nascidos, e que atualmente muitos países estão importando. Além disso, esse país tem o quarto menor índice de pobreza do planeta.

A educação é um pilar básico

Certamente você já ouviu falar mais de uma vez que “a Finlândia tem o melhor sistema educativo do mundo”. Não é um clichê: segundo o Fórum Econômico Mundial, a educação primária finlandesa é a melhor do mundo, ao passo que a universitária se encontra em terceiro lugar. “A educação não é questão de dinheiro na Finlândia”, conta Hannikainen. “É gratuita até o ensino médio, e não existem universidades privadas.”

Além disso, segundo Hannikainen, a sociedade incorporou profundamente a ideia de que a educação não termina no ensino médio nem na universidade. “A formação é algo que deve se dar ao longo de toda a vida, e é estimulada em casa e como formação continuada tanto nas empresas como na administração pública”. Os adultos finlandeses ostentam o terceiro lugar no ranking da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em conhecimentos de Língua e Matemática.

Boa saúde (mas há melhores)

Uma das variáveis levada em conta pela ONU em seu estudo anual sobre a felicidade é a expectativa de vida. Nisso a Finlândia, apesar de apresentar um bom indicador, fica atrás de outras nações menos desenvolvidas. Na Espanha, por exemplo, a expectativa de vida é de 83 anos, enquanto para os finlandeses não chega aos 82.

A Finlândia, assim como o Brasil, tem um sistema de saúde público, mas nele o usuário paga uma taxa de coparticipação por todos os serviços que usa — atendimento primário, internações, consultas em pronto-socorro e medicamentos vendidos com receita. No Brasil, o paciente do SUS paga apenas os remédios comprados em farmácias. Há na Finlândia 3,3 médicos por mil habitantes, menos do que na Espanha, por exemplo, onde há 3,9, mas mais do que no Brasil, onde são 2,1 médicos por mil habitantes. Se um espanhol encontrar um finlandês, pode se valer da frase-feita: “O importante é ter saúde”.

Pouca polícia, muita segurança

Outro motivo para a grande confiança entre os finlandeses, segundo Hannikainen, é a segurança. E isso não tem nada a ver com a dureza dos seus corpos policiais e suas penas. Pelo contrário: a Finlândia é, segundo o Escritório Europeu de Estatística, um dos países do continente com menos policiais por habitante: 140 por cada 100.000 pessoas. A Espanha, por exemplo, tem mais do que o dobro, 365 por cada 100.000. Entretanto, segundo o Fórum Econômico Mundial, a Finlândia é o país mais seguro do mundo para viajar. O Índice da Paz Global de 2017, elaborado pelo Instituto para a Economia e a Paz, a inclui entre os países mais pacíficos do planeta.

Mapa da paz global do Instituto para a Economia e a Paz. Os países em verde são os mais pacíficos. Clique para ir ao estudo.
Mapa da paz global do Instituto para a Economia e a Paz. Os países em verde são os mais pacíficos. Clique para ir ao estudo.

Embora todos os fatores listados acima sejam fundamentais para o bem estar finlandês, ele não é tudo. A Finlândia se destaca em outros aspectos, sobretudo os relacionados à natureza e ao meio ambiente: é o terceiro país com melhor qualidade do ar, e o país com maior cobertura florestal da Europa. Estas são algumas das paisagens que os finlandeses podem apreciar:

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