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Dilema de Neymar: a Champions ou a Copa do Mundo

Com uma fissura no pé, jogador enfrenta Real Madrid na próxima terça ou faz cirurgia para a Copa

Diego Torres
Neymar logo após sofrer a lesão.
Neymar logo após sofrer a lesão.Stephane Mahe (REUTERS)

Neymar nunca traça a linha reta. Vive em ziguezague. Joga em ziguezague. Baseia sua arte na mudança de direção e para isso se apoia mais do que outros jogadores no quinto metatarso, o mais fino prolongamento do metatarso e o mais exposto ao peso do corpo. Um ossinho flexível que a evolução dos antropoides não preparou para as alavancas do futebol de elite. Exatamente o ossinho que — de acordo com o laudo médico do Paris Saint-Germain — Neymar sofreu uma lesão em uma ação fortuita, no domingo passado, desencadeando o drama médico e a luta de poderes. Por um lado, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que teme que o ídolo da seleção comprometa sua participação na Copa do Mundo da Rússia se forçar sua presença no jogo da próxima terça-feira contra o Real Madrid na partida de volta das oitavas de final da Champions League. Do outro o PSG, o clube que o contratou por 222 milhões de euros (cerca de 883 milhões de reais) no ano passado para jogar precisamente a partida que o laudo médico desaconselha jogar.

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Neymar, diz o doutor Pedro Ripoll, “é o jogador menos indicado para jogar com uma fissura no quinto metatarso porque ele baseia muito o seu jogo na velocidade dos pés e na rotação do tornozelo. As fintas, as mudanças de direção, fazem com que o tendão peroneal esteja em tensão permanente sobre o quinto metatarso, um osso submetido a um estresse mecânico”.

Pedro Ripoll dirige com Mariano de Prado a clínica de referência na Espanha em cirurgia no pé. Por suas mãos passaram os quintos metatarsos fissurados de jogadores como Messi, Marcelo, James Rodríguez e Xabi Alonso. Como todos os membros da comunidade de ortopedistas que trabalham no mundo do futebol profissional, esses dois especialistas olham com atenção para Paris.

Lá observam algo que não se encaixa. Na segunda-feira, perto da meia-noite, o PSG divulgou um breve relatório médico. O relatório disse que Neymar tem uma entorse do ligamento lateral externo do tornozelo direito e uma fissura no quinto metatarso, relacionada à entorse. Na terça-feira, começou o ziguezague. Primeiro, porque familiares do jogador declararam ao telejornal Globo Esporte que ele seria operado o antes possível para concentrar a recuperação para a Copa do Mundo, que começa em meados de junho. Segundo, porque os porta-vozes do PSG alertaram que a presença do brasileiro no jogo da próxima terça-feira no Parque dos Príncipes não estava descartada.

“Vamos esperar alguns dias para ver como a lesão evolui e tomaremos uma decisão”, disse o treinador do clube francês, Unai Emery, em uma entrevista coletiva. “Precisamos de tranquilidade e paciência no momento. Ainda existe uma pequena possibilidade de que Neymar jogue contra o Real Madrid. Sua participação não está descartada. O jogador tem muita vontade de jogar.”

O PSG é um caldeirão. O clube atravessa os dias mais estressantes de sua história depois de perder por 3 x 1 no Santiago Bernabéu. Não pode se permitir a eliminação depois de ter feito o maior investimento em contratações do futebol mundial para ganhar a Champions. A supervisão da UEFA, que detectou uma violação do fair play financeiro, a investigação do presidente Nasser Al-Khelaifi pela justiça suíça em um caso de supostos subornos a membros da FIFA e a atomização do elenco colocam os jogadores no olho do furacão e empurram Neymar a jogar.

Neymar pai, o onipresente representante do jogador, se coloca como corta-fogo. “O PSG já sabe que não poderá contar com Neymar durante as próximas seis a oito semanas”, afirmou na noite de terça-feira ao canal ESPN Brasil. “A decisão é do PSG e será tomada em conjunto depois da chegada do médico da seleção brasileira. O importante é que se tome uma decisão rapidamente porque não podemos esperar. A cirurgia é o processo mais rápido para acelerar a recuperação do jogador.”

Alarmados com o desenrolar dos acontecimentos, os dirigentes da CBF enviaram a Paris o médico da seleção principal, o doutor Rodrigo Lasmar. “Precisamos saber se a Neymar será operado e somente depois disso tomaremos as decisões”, disse Eduardo Gaspar, coordenador de seleções do Brasil. “O responsável por Neymar é o PSG. O doutor Lasmar foi a Paris para acompanhar o jogador e nos fornecer as informações necessárias. Nós não sugerimos tratamento. A decisão é do clube e do jogador.”

Ripoll é taxativo. “Com uma fissura no quinto metatarso você pode fazer uma infiltração, colocar uma bandagem forte e jogar uma partida pontual se suportar a dor”, diz o médico. “O que você não pode fazer é jogar a Copa do Mundo sem operar antes. Porque este osso tem uma particularidade: o tendão peroneal está ancorado na sua extremidade e quando acontece a torção do tornozelo, o tendão traciona. O osso tende a se consolidar, mas se não for fixado com um parafuso, a tração do tendão desfaz a consolidação. O certo do ponto de vista científico é operar.”

Se o laudo médico estiver certo, Neymar deve decidir entre a Champions League e Copa do Mundo.

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