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PSG precisa vencer Real Madrid para justificar custo Neymar

Desequilíbrio financeiro provocado por Neymar e Mbappé é estimado em 20 milhões de euros. Classificação diante dos espanhóis resolveria problema

Nasser Al Khelaifi durante a apresentação de Neymar.
Nasser Al Khelaifi durante a apresentação de Neymar.REAU ALEXIS (PRESSE SPORTS / Cordon Press)
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O Trapézio, um edifício de vidro e aço que se projeta sobre a avenida Émile Zola, no bairro de Boulogne, é a discreta sede da rede beIN Sports e do Paris Saint-Germain. O clima nos escritórios do clube, responsável pelo mais ambicioso plano de crescimento e investimentos da última década no mundo do futebol, não parece refletir nenhuma tensão a menos de duas semanas do primeiro confronto das oitavas de final da Champions League, contra o Real Madrid. Nem sequer o rosto de um dos dirigentes mais importantes do clube parisiense expressa a preocupação que o corrói quando emite sua opinião, após pedir anonimato: “Precisamos ganhar, por todas as razões imagináveis”.

O clube pertence desde 2011 ao xeque catariano Jassim al Thani. Ele e seu representante em Paris, o xeque Nasser al Khelaifi, presidente do clube, vislumbravam um itinerário de sucesso para o PSG. O primeiro objetivo era construir uma equipe competitiva com o apoio da base social parisiense, o esteio da capital mais cosmopolita e populosa da Europa ocidental e, por número de licenças expedidas, o maior viveiro metropolitano do futebol mundial, junto com São Paulo. O segundo objetivo imposto pelos árabes foi ganhar a Champions. Com a taça, a solidez econômica e o prestígio viriam a reboque.

Por isso, a eliminação nas oitavas de final da temporada passada, diante do Barcelona, significou um duro revés para sonho catarense. O 6 a 1 no Camp Nou, uma humilhação que a imprensa francesa não deixa de evocar como la remontada – assim mesmo, em espanhol, que significa “a virada” –, provocou uma revisão das estratégias. O técnico Unai Emery insistiu em que, para chegar ao degrau que separava o PSG dos grandes clubes, precisaria de jogadores superlativos. Não bastava um Ibrahimovic no topo de um elenco superpovoado de figuras em cada linha. Era preciso ter um aspirante direto à Bola de Ouro, porque só isso, segundo o técnico, ofereceria à equipe o caráter necessário para confrontar os maiores sem sofrer o mal da altura que seus jogadores padeceram em 2017. Tanto Jassim como Nasser concordaram plenamente com o diagnóstico.

O investimento em contratações em meados do ano passado, quando o PSG superou os 400 milhões de euros (1,6 bilhão de reais, pelo câmbio atual) para garantir a vinda de Neymar e Kylian Mbappé, foi a mais agressiva operação combinada na história do mercado da bola. Em duas semanas, Paris pegou os dois meninos vistos como herdeiros da supremacia de Messi e Cristiano Ronaldo. As consequências esportivas e políticas daquele terremoto ainda estão por vir. Segundo fontes da UEFA, em agosto de 2017 tanto o Real Madrid como o Bayern solicitaram ao Comitê de Controle Financeiro de Clubes da UEFA (CFCB) que procurasse elementos para sancionar o PSG, na crença de que o clube francês descumpria amplamente as regras do fair play financeiro. Os dois rivais apontaram razões para expulsar o PSG da Champions em 2018. Desde então, o CFCB investiga o clube parisiense em busca de um desequilíbrio punível entre rendas e despesas.

Nos gabinetes de Boulogne, os dirigentes sustentam que o clube agiu com o aval dos supervisores da UEFA quando Al Khelaifi selou a contratação de Mbappé, que incluía o pagamento de 180 milhões de euros ao Mônaco pela transferência, em julho do ano passado. O contrato, dizem, só foi assinado após a aprovação de funcionários do organismo regulador do futebol europeu. A UEFA abriu uma investigação. Um formalismo. O PSG – sétimo maior clube do mundo em faturamento, com 486 milhões de euros contabilizados em 2017 – tem até 30 de junho, último dia do ano fiscal, para equilibrar o balanço. Em outubro, o rombo chegava a 70 milhões de euros. Em janeiro, caíra pela metade.

De Lucas Moura a Gonçalo Guedes

A venda de Lucas Moura ao Tottenham (30 milhões de euros), os prêmios por terminar em primeiro lugar a fase de grupos da Champions (mais de sete milhões de euros) e os direitos televisivos incrementados pela condição de único representante francês no torneio (outros 10 milhões) contribuem ainda mais para o equilíbrio orçamentário, faltando agora pouco mais de 20 milhões de euros (80 milhões de reais). Se o PSG eliminar o Real, seus dirigentes consideram que obterão mais do que isso pelo uso do estádio Parc des Princes nas quartas de final (10 milhões de euros aproximadamente), os prêmios da UEFA (7,5 milhões), os direitos televisivos (mais de 10 milhões) e os bônus definidos com os patrocinadores.

O artigo 29 do Regulamento do Comitê de Controle Financeiro de Clubes aponta que, em um caso extremo, o infrator do fair play financeiro ficará excluído das competições internacionais. Entretanto, esse não é o caso do PSG. Até mesmo o advogado de um dos clubes denunciantes admite isso, afirmando não haver elementos jurídicos para um castigo semelhante. O mesmo sugerem as fontes da UEFA. “O CFCB decidiu em numerosos casos que os objetivos do fair play financeiro podem ser melhor alcançados adotando uma postura reabilitativa em vez de punitiva”, disse um porta-voz em Nyon (Suíça), onde fica a sede da UEFA, “Isso já conduziu a pactos particulares entre os clubes e o CFCB, combinando contribuições econômicas com restrições nas finanças e no patrocínio.”

Os dirigentes do PSG consideram que nunca serão sancionados pela UEFA porque lhes sobram recursos para gerar faturamento. Sem ir mais longe, a venda de Gonçalo Guedes, cedido ao Valencia, tamparia qualquer buraco antes do dia primeiro de julho.

Não é a lupa dos supervisores contábeis que tira o sono dos habitantes do Trapézio. É a ideia fixa de alterar a velha ordem futebolística. Para eles, eliminar o Real na Champions representaria uma espécie de panaceia. Com uma só cajadada, legitimariam sua aspiração de grandeza, ganhariam credibilidade esportiva e obteriam o equilíbrio financeiro em forma de ajuste de contas.

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