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Coluna
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Marina Silva será o segredo de Lula?

Em muitos aspectos, a ex-ministra, que foi forjada na luta dos seringueiros por Chico Mendes, se parece mais com o Lula das origens do que muitos daqueles que militam hoje no PT

Lula cumprimenta a então ministra Marina Silva em evento no Palácio do Planalto em maio de 2005, quando era presidente da República
Lula cumprimenta a então ministra Marina Silva em evento no Palácio do Planalto em maio de 2005, quando era presidente da RepúblicaRicardo Stuckert/PR
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Muitos políticos estão ansiosos para saber a decisão de Lula sobre as eleições presidenciais, que ganharia, de acordo com as pesquisas, mas que lei da Ficha Limpa certamente o impedirá de disputar. Não acho que o líder popular que um dia conquistou os brasileiros com seu lema “A esperança venceu o medo”, impossibilitado de se candidatar, prefira hoje morrer esmagado como Sansão com todos os filisteus ao invés de, por exemplo, apoiar uma candidatura externa ao seu partido.

Tanto o PT como a esquerda moderada estão preocupados com o que Lula pode decidir, uma vez que do destino de mais de 30% do apoio que ainda tem dependerá o resultado de uma das eleições mais imprevisíveis e perigosas da história da democracia brasileira. Sem dúvida, a decisão final de Lula sobre seu capital de votos depende de que a esquerda, ou pelo menos as forças progressistas, possam ter um peso importante, mesmo que seja na oposição.

Se o segredo de Lula sobre o que pensa em fazer com seus votos preocupa a esquerda, também não deixa menos nervosas as outras forças do centro e da direita. Do que não há dúvida, no entanto, é que naqueles 30% de votos que o ex-sindicalista ainda mantém, a maioria não é para o PT, nem sequer para a esquerda, mas para ele. Não são votos ideológicos, porque Lula também repetiu várias vezes que ele não é nem de esquerda nem de direita. É ele, e nada mais, e a grande maioria dos apoios que ainda possui se devem ao fato dele ser visto pelos pobres como quem mais fez por eles. Por isso estão dispostos a votar nele mesmo que esteja na prisão.

A identificação de Lula com o mundo da pobreza, correta ou não, já que hoje ele parece condenado por ter se deixado seduzir pelos ricos e poderosos corruptos, será fundamental na hora de escolher o herdeiro de seus votos. Em seu partido, isso cria o temor de que Lula possa fazer uma surpresa, pedindo aos brasileiros que apoiem alguém que, embora não sendo do PT, pareça o mais possível com ele.

Quem poderia ser? É verdade que Lula já decidiu? Seria esse o seu segredo mais bem guardado? Gostaria apenas de lembrar que, terminados seus dois primeiros mandatos, comentou-se que Lula estava indeciso entre Dilma Rousseff e Marina Silva, ambas ex-ministras suas, para sucedê-lo. Marina tinha militado 30 anos no PT de Lula e era vista então como um “Lula de saias”.

Ninguém sabe o que o ex-presidente carismático está decidindo no momento mais crítico de sua vida política e existencial. No entanto, não há dúvida de que, se os seus eleitores procuram alguém parecido com ele, a biografia de Marina é mais próxima da sua, de suas origens humildes, de sua força de superação e de seu compromisso social. Em muitos aspectos, Marina, que foi forjada na luta dos seringueiros por Chico Mendes, se parece mais com o Lula das origens do que muitos daqueles que militam hoje no PT, um partido que acabou contaminado pela velha política de compromisso e pela corrupção, desvanecendo tantas esperanças que haviam alimentado milhões de brasileiros, dos analfabetos aos intelectuais e artistas. Foi aquele partido, que estava começando a se desviar de sua essência, que Marina preferiu abandonar, mas com o qual lhe é mais fácil dialogar, do que, por exemplo, com a direita da caverna.

 

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