Em busca de um salvador da pátria
Enquanto os neoliberais batem cabeça, um outro salvador da pátria, Bolsonaro, cavalga sua candidatura no deserto de lideranças
O tempo urge e a ala neoliberal brasileira tem mostrado cada vez mais desespero na caça a um nome alternativo para as eleições de outubro que possa, ao mesmo tempo, ocupar o vácuo deixado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, e fazer frente à candidatura do líder fascista Jair Bolsonaro, que, na ausência do petista, encabeça as pesquisas de intenção de voto. O presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, há muito desistiu do postulante natural do partido, o insípido Geraldo Alckmin, e vem patrocinando às claras essa corrida em busca de um salvador da pátria.
Depois de ensaiar o fanfarrão prefeito de São Paulo, João Doria, como opção dentro do próprio tucanato, e de ver o apresentador de programa de televisão da Rede Globo, Luciano Huck, desistir de uma natimorta candidatura fora do PSDB, a imagem de Fernando Henrique aparece associada agora ao empresário Flávio Rocha, dono das Lojas Riachuelo, que em janeiro lançou o movimento Brasil 200, uma agenda para os próximos quatro anos, neoliberal na economia e conservadora nos costumes – o número 200 faz referência à comemoração dos 200 anos do Brasil em 2022, último ano de mandato do próximo Presidente da República.
O nome de Flávio Rocha vinha sendo ventilado até então para compor, como vice, a chapa de Jair Bolsonaro. Sem muita convicção, ele negava essa possibilidade – como passou a negar, com menos convicção ainda, a hipótese bem mais ambiciosa de ser ele mesmo o antagonista de Bolsonaro. Pernambucano, 60 anos, deputado federal pelo Rio Grande do Norte por dois mandatos (1986-1994), pré-candidato à Presidência da República pelo PL em 1994 – desistiu para apoiar Fernando Henrique -, um dos primeiros empresários a apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a candidatura de Doria à Prefeitura de São Paulo, bilionário, evangélico – da igreja neopentecostal Sara Nossa Terra: eis seu perfil.
A corrida contra o tempo na busca de candidatos para a sucessão do presidente não eleito, Michel Temer, demonstra de maneira inequívoca a falência do sistema político brasileiro. O nome mais lembrado nas pesquisas de opinião pública, Luiz Inácio Lula da Silva, pode ser preso a qualquer momento, e o PT não tem um substituto para apresentar aos eleitores. Lula, com seu personalismo caudilhista, sempre impediu que brotassem outras lideranças dentro do PT. O resultado é que, fora da disputa, os votos que seriam encaminhados a ele devem se dispersar entre todos os outros candidatos.
O mesmo ocorreu com o PSDB, a segunda força política. Inconformados após perder quatro eleições seguidas – duas vezes com o senador José Serra, uma com o governador Geraldo Alckmin e outra com o senador Aécio Neves –, os tucanos aliaram-se ao PMDB para patrocinar o impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, conquistando assim, por meio de um golpe, o poder que não conseguiram por meio de votos. Dividido, o PSDB não consegue agora fazer decolar seu candidato natural e não encontra em suas fileiras nenhuma solução. Por isso, o desespero em achar rapidamente algum nome para conseguir manter-se no poder.
Porque, enquanto os neoliberais batem cabeça para encontrar alguém que possa encarnar esse papel de salvador da pátria, um outro salvador da pátria, Jair Bolsonaro, cavalga sua candidatura no deserto de lideranças, arrebatando não só os corações dos ressentidos, dos humilhados, dos desesperançados, mas também daqueles que, faça chuva, faça sol, o vento soprando a bombordo ou a estibordo, querem é levar vantagem em tudo. Isso significa que caminhamos para ter, nestas eleições, não candidatos à Presidência da República, mas a Salvador da Pátria. O mais desastroso dos cenários...
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