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Ciro, Alckmin e Marina medem forças para evitar Bolsonaro e novo outsider

Pré-candidatos à Presidência disputam o segundo lugar em um cenário sem o ex-presidente Lula e tentam driblar o apresentador Luciano Huck

Ciro, Alckmin e Marina: embolados em segundo lugar nas pesquisas sem Lula.
Ciro, Alckmin e Marina: embolados em segundo lugar nas pesquisas sem Lula.
Marina Rossi
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Embora o PT insista em manter o ex-presidente Lula como pré-candidato à presidência, o petista está cada vez mais longe da disputa, depois de condenado em segunda instância pelo TRF4. E sem seu nome entre os pré-candidatos, o cenário eleitoral fica ainda mais incerto. Segundo a última pesquisa Datafolha, disputam o segundo lugar a ex-senadora Marina Silva (Rede), o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT). Todos, atrás de Jair Bolsonaro (PSC), que lidera o pleito sem o ex-presidente petista no páreo.

Embolados, os três pré-candidatos terão que correr para passar na frente não somente um do outro, como de dois outros potenciais grandes adversários: o surgimento de um outsider, que pode se materializar na figura do apresentador Luciano Huck, por enquanto sem partido, e a rejeição da população à classe política. Sem Lula, até um terço dos brasileiros dispensa qualquer outro candidato e prefere anular ou votar em branco, aponta a mesma pesquisa.

A briga é grande não só pela herança de votos de Lula mas também diante de um eleitorado cada vez mais refratário aos nomes da política atual. Pesquisa feita pelo instituto Locomotiva revela que 93% da população acha que é preciso formar novas lideranças políticas para mudar o país e 96% dizem não se sentir representada por nenhum político em exercício. Neste aspecto, tem razão Marina Silva quando diz que “o adversário mais forte é o descrédito que a população está colocando na política”, em entrevista ao programa Canal Livre, da Band, na última segunda-feira.

Neste vácuo político, cada um dos três pré-candidatos elegem suas estratégias para sair na frente. Marina Silva adota o discurso da coerência, afirmando incansavelmente que é "a mesma desde 2010”, lembrando que não está envolvida em nenhum caso de corrupção e evitando apontar o dedo para possíveis adversários. Defende que a justiça seja feita “para todos”, mas que Lula tem o direito de recorrer a todas as instâncias com recursos que lhe são permitidos. E se diz a candidata que combaterá o ódio "com amor". Coincidência ou não, na sequência em que a pesquisa Datafolha foi publicada, a ambientalista deu início a uma maratona de entrevistas a jornalistas. Marina não esconde sua contrariedade ao desenrolar do debate sobre a reforma da Previdência durante o Governo Temer, que, segundo ela “fala somente com os empregadores, e não com os trabalhadores”. 

Nesse mesmo sentido, Ciro Gomes também faz críticas diretas à reforma de Temer, e ao crescente desemprego. Tanto Ciro como Marina têm pela frente o trabalho contra o 'estigma' que os persegue em suas campanhas políticas. . Ciro, por um supostamente ter um gênio intempestivo, enquanto a pré-candidata da Rede é tida como indecisa e com viés conservador, sempre a raiz de sua religião, evangélica, que poderia contaminar seu governo, na visão de quem a teme. “ Não imagino que depois de tanta luta para que tivéssemos um estado laico, iríamos reeditar a ideia de um Estado teocrático”, disse Marina à jornalista Carla Jiménez, do EL PAÍS. “Fui militante das causas ambientais, da educação, de direitos humanos, causa indígenas ”, lembrou. Seu desafio, no entanto, é fazer chegar essa mensagem para além dos 20 milhões de eleitores que ela conquistou na última eleição. Com pouco tempo de TV e um fundo partidário de 280.000 reais, a Rede agora conversa com os mesmos partidos da coligação que a acompanhou em 2014 para compor o programa.

Ciro Gomes, por sua vez, refuta as críticas a seu estilo pessoal e cerca-se de cuidados para evitar embates com lulistas. Para alguns analistas, ele é quem mais tem poder para se beneficiar da ausência de Lula no Nordeste, região que tem a maior preferência do petista (60%). Em um cenário sem o ex-presidente Ciro pode crescer na região onde já foi governador, e teria chances reais de herdar votos de Lula. Apoiadores do pedetista têm trabalhado para divulgar vídeos com as falas de Bolsonaro em relação a mulheres e às minorias para apontar seu perfil mais agressivo.

Já Geraldo Alckmin pode se beneficiar por ser o único, entre os três, a ter um partido maior por trás, o que lhe garante maior tempo de televisão e mais verba partidária para a campanha. Ao mesmo tempo, porém, o PSDB pode ser o maior trunfo ou o pior problema para o governador paulista. Após cotoveladas com seu afilhado político, o prefeito de São Paulo João Doria, Alckmin segue disputando espaço dentro do partido. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acena, constantemente, para uma possível candidatura do apresentador Luciano Huck. “Seria boa para o Brasil”, disse o ex-presidente em entrevista à Jovem Pan, uma das rádios mais populares do país, apontando uma manobra que ainda se tenta decifrar.

Fora do ninho tucano, Alckmin ainda tem outra batalha, a das alianças. Seu vice, Marcio França (PSB), já anunciou que será candidato no âmbito estadual. o que pode colocar em xeque a união dos dois partidos na campanha majoritária. Sem alianças fortes, o precioso tempo na TV fica mais curto.  Por isso, PSDB e o MDB, de Michel Temer, estão flertando. Neste caso, o apoio do MDB pode ser bem-vindo, por garantir o maior tempo na televisão de toda a campanha, e uma fatia mais encorpada do fundo partidário. Mas pode ser também um tiro no pé, já que 87% dos brasileiros não votariam em um candidato a presidente apoiado por Temer, segundo o Datafolha.

Além disso, para uma aliança entre PSDB e o MDB, o partido do presidente da República teria de abrir mão de seus possíveis candidatos: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e até mesmo o próprio Temer, que vem confessando seu desejo de entrar na disputa.

Enquanto as peças se movem lentamente, Alckmin usa as redes sociais para promover seu governo e se dizer "preparado para o Brasil". Mas, assim como seus adversários, o governador evita debater propostas concretas por enquanto.

Para André Torretta, marqueteiro político da Cambridge Analytica Ponte, vai sair na frente justamente o candidato que tratar de temas palpáveis para o eleitor. “Ninguém está falando de segurança pública e desemprego”, diz. “O projeto dos partidos para diminuir o desemprego qual é? Para melhorar a segurança do país, qual é?”. Na opinião de Torretta, por enquanto, apenas Lula está falando com a população. “Enquanto a direita discute se o Estado é pequeno ou grande, o outro [Lula] está viajando e abraçando a população”. Ele se refere às caravanas realizadas pelo petista desde o ano passado.

De acordo com Torretta, a quantidade de pré-candidatos ainda não está definida, embora os partidos cravem que todos estão na jogada. “É preciso ver quanto tem de verba de fundo partidário para todos esses partidos e ver se haverá dinheiro para uma campanha nacional”, diz Torretta. “Aí sim será possível saber se haverá essa quantidade toda de candidatos”.

Nem mesmo a retirada da candidatura de Luciano Huck pode ser vista como certa. Ainda que o global tenha afirmado, no fim do ano, que estava fora da disputa, o EL PAÍS apurou que, mesmo após sua retirada do tabuleiro, ele segue monitorando as pesquisas e acompanha de perto as movimentações na corrida eleitoral.

Enquanto as peças deste xadrez ainda não se posicionam de uma maneira clara, o relógio corre para o cenário econômico. A Moody’s, agência de classificação de risco, emitiu um comunicado na semana passada afirmando que as próximas eleições na América Latina “apresentam riscos para as reformas fiscais e estruturais na região”. Isso porque, segundo a agência, “os novos governantes podem estar menos interessados em prosseguir com os programas ambiciosos de reformas, após vários anos de crescimento fraco”. Ainda que o compromisso seja mantido, segue a Moody’s, a implementação dessas reformas pode ser dificultada pela falta de apoio político. Algo que o presidente e, quem sabe, pré-candidato, Michel Temer está vivendo na pele com a reforma da Previdência.

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