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Marina será candidata de novo para combater o discurso do ódio “com amor”

Terceira colocada no pleito de 2014 com 22 milhões de votos, ex-senadora tentará surfar na onda da renovação da política

Marina Silva em evento no dia 27.
Marina Silva em evento no dia 27.Sebastiao Moreira (EFE)

Terceira colocada nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, a ambientalista Marina Silva anunciou neste sábado que pretende concorrer à presidência do Brasil pela terceira vez consecutiva. Com isso, ela quer tentar evitar, mais uma vez, uma polarização e a radicalização do discurso de ódio na eleição de 2018. Marina disputará o principal cargo da República pela Rede Sustentabilidade, partido do qual é uma das fundadoras e a principal liderança.

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Ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente do Governo Lula, a candidatura de Marina ainda era incerta por conta da ausência de uma sinalização clara por parte dela. Mas ela acabou com a indecisão neste sábado durante a reunião da executiva nacional da Rede, em um hotel de Brasília. “O compromisso e o senso de responsabilidade, sem querer ser a dona da verdade, me convocam para esse momento [de anunciar a pré-candidatura]. Não é uma decisão que queremos fazer, mas é porque é necessário fazer. É importante fazer. É justo que seja feito”, falou de maneira firme para uma plateia de cerca de cem pessoas.

Antes do anúncio, o nome de Marina já havia sido referendado nos últimos meses pelos 27 diretórios estaduais da Rede. O presidente do partido, Zé Gustavo Favaro, afirmou que a decisão dela teve de ser muito pensada porque envolve um dos principais desafios para um político. "O caminho de uma decisão muito convicta, muito enraizada, leva tempo. Às vezes esse tempo, a maior parte das pessoas não compreende", disse.

Vista por parte do eleitorado como conservadora (por ser evangélica) e por outra parte como esquerdista (por já ter sido filiada ao PT), Marina carrega consigo o feito de ter atingido 22,1 milhões de votos na última disputa eleitoral. Naquele ano, ela era filiada ao PSB e se tornou cabeça de chapa após a morte de Eduardo Campos em um acidente aéreo. Agora, seu desafio será o de manter essa alta votação, surfar em uma eventual onda que pede a renovação dos quadros políticos do país e se consolidar como uma força na polarizada política brasileira. "Estou aqui nesse momento vivendo a dor e a delícia de sermos quem somos. Porque é feliz, alegre, esperançoso ver tanta gente, depois de tanta desesperança na política, disposta a melhorar a qualidade da política. A resgatar o sentido e o funcionamento da política", afirmou Marina em seu discurso.

Em seu pronunciamento, a pré-candidata criticou de maneira velada seus dois principais adversários até o momento, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o direitista Jair Bolsonaro. Disse que o país não precisa de salvadores da pátria e afirmou que procurar a figura de um pai ou mãe protetora para nos dar o caminho de saída da crise é infantilizar os eleitores. “Só os tiranos oferecem um destino. Os democratas [...] oferecem a possibilidade de um mundo melhor, de um país melhor”.

Em determinado momento da campanha passada, Marina Silva chegou a liderar as pesquisas de intenções de votos. A quatro dias antes do pleito os principais institutos de opinião a colocavam no segundo turno. Porém, acabou despencando depois que sofreu seguidos ataques dos adversários e não conseguiu responder. Agora, reforça que não vai atacar seus rivais. Em seu discurso à militância, afirmou que fará uma campanha equilibrada, que irá combater o "ódio, com amor" e o "desespero, com esperança". “É preferível sofrer uma injustiça do que praticar uma injustiça. Quem ganha com injustiça, ganha perdendo. Quem perde fazendo o que é certo, perde ganhando. Acho que chegou a hora do Brasil e o povo brasileiro, depois de tudo o que aconteceu, ganhar ganhando”, declarou.

Com uma fala de combate à corrupção, Marina Silva ainda sugeriu que era necessário iniciar uma operação "Lava Voto", na qual os eleitores dariam nas urnas uma resposta aos partidos que se viram envolvidos em esquemas descobertos pela operação Lava Jato. "O melhor que a sociedade pode dar para os partidos que criaram essa crise, PT, PMDB, PSDB, DEM e seus aliados é dar para eles um sabático de quatro anos, para que eles possam revisitar os seus estatutos.

Na última derrota eleitoral, o reduzido tempo destinado à propaganda eleitoral no rádio e na TV foi um dos diversos fatores que a deixaram Marina Silva fora do segundo turno. Sua coligação tinha dois minutos diários, enquanto que os dois candidatos que chegaram ao segundo turno Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) tinham dez minutos e quatro minutos, respectivamente.

Pelos cálculos de hoje, sozinha a Rede teria 12 segundos no tempo de rádio e TV. Para tentar driblar esse empecilho, a legenda já iniciou uma série de conversas com outros partidos. Os principais procurados foram o PV, o PPS e o Podemos. O PSB, antigo aliado, também foi sondado, mas a expectativa é que os socialistas lancem uma candidatura própria (com o ex-deputado Aldo Rebelo ou ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa) ou apoiem o nome de Geraldo Alckmin, do PSDB. Nada está acertado, por ora. "Ainda estamos conversando com outros partidos".

Uma outra estratégia para garantir palanque à Marina é a de lançar candidaturas a governos estaduais. Três pré-candidatos já começaram a aparecer no tabuleiro político regional: a jornalista Úrsula Vidal (Pará), o prefeito de Serra, Audifax Barcelos (Espírito Santo) e o ex-juiz e coautor da Lei da Ficha Limpa Marlon Reis (Tocantins). São Estados com pouca representação na política nacional. Juntos somam cerca de 8 milhões de eleitores, o equivalente a 5% do eleitorado brasileiro. Por isso, há a possibilidade de haver concorrentes em estados mais populosos também, como no Rio de Janeiro.

Além de Marina Silva, ao menos outras cinco pré-candidaturas já são dadas como certas: a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do deputado federal Jair Bolsonaro (por enquanto do PSC mas à procura de um outro partido), do ex-ministro e ex-governador cearense Ciro Gomes (PDT),  do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e da deputada estadual gaúcha Manuela D´Avila (PCdoB). No caso de Lula, ele ainda depende do julgamento dos processos pelos quais responde na operação Lava Jato. Ainda há uma forte especulação sobre as candidaturas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), e do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos (PSOL). Nenhum deles afirmou se aceitará o desafio ou não.

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