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A incerta jogada do PSDB para unir a centro-direita em torno de Alckmin em 2018

Acordo costurado por FHC aplaca conflito interno com escolha do governador para presidir legenda Termos do divórcio com Temer e alianças para o ano que vem, inclusive com o PMDB, seguem na mesa

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no dia 27.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no dia 27.REUTERS
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Geraldo Alckmin age mais na coxia do que no palco e foi seguindo seu método clássico que nos últimos dias ele obteve vitórias estratégicas: ficou mais próximo de garantir a candidatura pelo PSDB à Presidência em 2018 e viu o partido dar passos públicos rumo à centro-direita, um eleitorado menos interessado na polarização política com o qual o governador de São Paulo já vinha flertando. Agora o tucano se prepara para outro passo do seu plano: definir os termos do divórcio do PSDB com o Governo Temer sem rifar o apoio da legenda à reforma da Previdência e sem, principalmente, queimar as chances de negociar um eventual apoio do PMDB a seu nome na disputa do ano que vem.

Na segunda-feira, o ganho decisivo foi interno. Alckmin conseguiu que o senador cearense Tasso Jereissati e o governador goiano Marconi Perillo retirassem suas candidaturas à presidência do partido para que ele próprio a assuma, por aclamação, num acordo costurado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Se vingar, o governador em São Paulo por quatro mandatos deve assumir o controle na legenda em disputa aberta há meses.

Na terça-feira, o movimento atingiu um público mais amplo: o Instituto Teotônio Vilela, fundação vinculada ao PSDB, divulgou um documento que apresenta as “diretrizes para um novo programa partidário”. O texto faz vários acenos ao centro, com a pregação pela redução do Estado, mas prometendo proteger os mais pobres e abraçando uma agenda considerada progressista de combate à desigualdade. 

Alckmin nunca foi da ala social-democrata clássica do PSDB, representada por FHC. Mas, nos últimos meses, ele vinha se deslocando da imagem de tucano linha-dura na segurança e ligado aos católicos para se aproximar dessas diretrizes do partido. Para se diferenciar da pregação liberal do seu ex-pupilo e prefeito de São Paulo, João Doria, também já havia defendido que "o liberalismo completo" era a "incivilização". Seus apoiadores dizem que o governador identificou que esse era o caminho para tentar crescer sua ainda tímida intenção de voto nas pesquisas, cavando apoios entre quem não apoia os que têm se apresentado (ou sido vistos) como extremos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pela esquerda, e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), pela extrema-direita. Quer o no Ibope ou no Datafolha, o governador aparece atrás tanto de Bolsonaro, que tem mostrado musculatura entre os mais ricos tradicionais votantes do PSDB nos últimos anos, e também da ex-ministra Marina Silva (Rede). 

Volta às origens

Alguns tucanos se mostram satisfeitos com os os rumos recentes. Dizem que essas movimentações são uma volta às suas origens, quando se desmembraram do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em 1988. Agora, mexem suas peças no tabuleiro político para tentar voltar ao protagonismo que tiveram nas eleições anteriores e agregar ao projeto legendas como PMDB, PSB, PSD e DEM. A menos de um ano da eleição, o cenário ainda é incerto. O PMDB, por ora, não tem ninguém para apresentar como nome próprio ou como vice na chapa tucana, mas não descarta filiar algum político que agrade ao mercado financeiro e defenda a gestão Temer. Informalmente, as outras legendas sugeriram nomes como Aldo Rebelo (PSB), Henrique Meirelles (PSD) e Rodrigo Maia (DEM) para essa composição. Nesta negociação está na mesa um fato chave: o tempo de TV gratuita que os candidatos terão na campanha.

Com ou sem aliados, o nome de Alckmin, salvo reviravoltas inclusive legais (ele responde a inquérito na Operação Lava Jato), acabará sendo ungido à candidatura presidencial pelo PSDB. Ainda que Arthur Virgílio Neto, ex-senador e atual prefeito de Manaus pelo PSDB, queira apresentar seu nome nas prévias – que também ainda incertas. “Tomara que a pessoa jurídica do Alckmin diga a pessoa física dele que deve debater comigo em dez cidades diferentes. Quero falar para a militância, não para os dirigentes partidários. Não quero uma decisão da cúpula. Por isso, não desisto das prévias”, afirmou Virgílio.

Entre os parlamentares, há divergências sobre o governador presidir o partido, mas não de se candidatar à presidência da República. “Alckmin na presidência do partido é uma decisão que pacífica. Une o partido. Vai colocar o partido no rumo”, afirmou o deputado Miguel Haddad (PSDB-SP), um dos mais próximos ao governador paulista. “Só o tempo vai nos dizer se o Alckmin será nossa melhor escolha para presidir a legenda. Ele seria o candidato à presidência de qualquer maneira. Pessoalmente, acho que ele não precisava dirigir o partido para disputar a eleição”, ponderou o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE), um dos membros do grupo dos cabeças-pretas, que prega a renovação no comando da legenda.

Sem mea-culpa e disputa interna

Após se eleger como dirigente partidário, Alckmin terá o desafio de aprovar o ainda genérico documento intitulado Gente em primeiro lugar: o Brasil que queremos, lançado pelo Instituto Teotônio Vilela. O texto prega o combate à corrupção, critica o PT, mas não faz qualquer menção a problemas éticos internos por ter seu ex-candidato presidencial, o senador Aécio Neves (PSDB), como um protagonista do esquema investigado pela Operação Lava Jato.

Os pontos que chamam a atenção são os que tratam do tamanho do Estado assim como o que fala de uma possível reforma no sistema tributário em que ricos pagarão mais impostos do que os pobres, uma sinalização à esquerda. “A reforma tributária deve promover a simplificação e a progressividade, condizente com a salvaguarda dos mais pobres. O princípio de justiça fiscal pressupõe a adoção do critério de capacidade contributiva, isto é, tributos maiores para os que detêm mais riqueza, menores para os que têm menos”. Caso as sugestões do Instituto sejam aceitas pelo diretório nacional nas próximas semanas, o novo programa do partido deverá usar essas diretrizes para apresentar a candidatura do PSDB à presidência.

Alckmin e a sorte rumo à candidatura no ano que vem

Se tudo sair como previsto, o caminho de Geraldo Alckimin rumo a sua segunda candidatura para a presidência da República – na primeira, em 2006, ele perdeu tendo menos votos no segundo turno do que no primeiro– , terá sido marcado pela sorte. Internamente ele tinha três possíveis adversários. Todos acabaram se enfraquecendo. João Doria, o prefeito de São Paulo outsider, viu sua pré-candidatura emagrecer após insistir em seguidas viagens para apresentar seu nome nacionalmente enquanto pouco administrava a capital paulista. O senador mineiro Aécio Neves, que chegou ao segundo turno em 2014 contra Dilma Rousseff, já é carta fora do baralho após ser flagrado em negociação para receber recursos ilícitos do delator da JBS Joesley Batista. Enquanto que José Serra, senador por São Paulo, já abdicou do cargo de chanceler por problemas de saúde e, dificilmente teria condições de fazer uma campanha nacional na qual teria de viajar em dias seguidos.

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