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Duas décadas de propostas frustradas para limitar as armas nos EUA

Iniciativas sucessivas lançadas após cada massacre de Columbine não conseguem nenhuma solução

Estudantes e familiares fazem uma vigília em Parkland pelas vítimas do ataque a tiros de fevereiro de 2018.
Estudantes e familiares fazem uma vigília em Parkland pelas vítimas do ataque a tiros de fevereiro de 2018.MARK WILSON (AFP)

Os Estados Unidos voltaram a viver o drama interminável dos ataques a tiros com dezenas de vítimas. A cada ano, 34.000 norte-americanos, em média, são mortos por armas de fogo na maior potência do mundo (incluindo os casos de suicídio); a cada dia, 93. Desta vez foi em El Paso (Texas), onde 20 pessoas morreram e 26 ficaram feridas no sábado pelo ataque de um atirador de 21 anos, que invadiu um centro comercial na cidade e atirou contra os que estavam no local no início da tarde de sábado. Menos de 24 horas depois, outras nove pessoas morreram e 26 ficaram feridas após um homem atirar contra várias pessoas em um bar no centro de Dayton, no Estado de Ohio. O atirador foi morto pela polícia.

À medida que o país se recupera de cada um desses pesadelos, políticos, cidadãos, instituições, veículos de comunicação e associações de todos os tipos reabrem o eterno debate sobre como controlar o acesso às armas de fogo e sua posse, um direito protegido pela Segunda Emenda da Constituição americana.

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Desde o massacre na escola secundária de Columbine (Colorado), onde dois de seus alunos assassinaram 12 colegas e um professor, estes foram alguns dos momentos-chave do debate e da relutância política para aprovar reformas legais que restrinjam a facilidade de comprar e portar armas de fogo:

1999. Por um único voto de diferença, o Senado aprova a obrigatoriedade de que as armas fabricadas a partir desse ano tenham travas melhores nos gatilhos. A lei, aprovada com muita divisão apenas um mês depois do massacre de Columbine, também reforçou os requisitos necessários para comprar uma arma em feiras de armamento.

2004. O Congresso rejeita a renovação da lei que proibia a venda de armas militares, incluindo as semiautomáticas, ao público. Durante o período em que vigorou essa proibição (entre 1994 e 2004), aprovada pelo Governo do democrata Bill Clinton, caíram as mortes por armas de fogo. O fuzil AR-15 estava entre as armas proibidas por essa legislação.

2008. A Suprema Corte decide pela primeira vez a favor —por cinco votos a quatro— de reconhecer que a Segunda Emenda permite o direito dos cidadãos de portar armas. Embora durante anos o silêncio dos magistrados da mais alta instituição judicial do país tinha sido interpretado como um endosso a esse direito, só nessa ocasião ele foi reconhecido de forma explícita. No mesmo ano, o presidente republicano  George W. Bush assina uma lei que exige uma investigação prévia para verificar se o comprador de uma arma foi diagnosticado com alguma doença mental. No entanto, essa norma não leva em conta que muitos atiradores, apesar de terem doenças desse tipo, não foram tratados. 

2012. Depois do massacre de Newtown (Connecticut), no qual morreram 20 alunos do ensino básico, os líderes do Partido Democrata se empenharam em tentar restringir a compra de armas. Pediram maiores controles e requisitos, como exames psicológicos e análises detalhadas do histórico criminal do comprador. Os esforços foram rejeitados pela Câmara dos Representantes, onde os republicanos eram maioria naquela ocasião. Por trás dessa oposição ao controle de armas estava, e ainda está, o todo-poderoso lobby da Associação Nacional do Rifle, que financia campanhas e apoia as iniciativas de um bom número de congressistas conservadores em troca de sua defesa da Segunda Emenda. “A única coisa que impede um homem mau com uma arma é um homem bom com outra arma”, alegou a associação.

2017. Uma semana depois de uma matança em Las Vegas, a senadora democrata Dianne Feinstein apresentou um projeto de lei para proibir a venda de armas enquanto não fosse concluída a análise do histórico do comprador. Atualmente, se essa análise demorar mais de 72 horas, os estabelecimentos são autorizados a vender a arma, mesmo que a verificação não tenha terminado.

2018. Os Estados Unidos assistiram assombrados, em março de 2018, ao forte clamor das manifestações populares contra as armas em todo o país. O ativismo enérgico dos jovens da escola de Parkland (Flórida), atacada em fevereiro de 2018 —quando 14 estudantes e 3 membros da equipe escolar foram mortos—, conseguiu levar às ruas uma massa diversificada em idade, raça e valores. O movimento contra a epidemia de violência armada conseguiu sua maior mobilização em anos —e de forma espontânea, sem ser liderado por políticos ou organizações de pressão consolidadas.

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