Enorme gasto militar de Trump dispara déficit fiscal dos EUA em mais de 1 trilhão de dólares
Rombo previsto no orçamento equivale ao total de riquezas produzidas no México. Este é o maior aumento nos gastos públicos desde a crise financeira de 2009
O Congresso dos EUA aprovou o maior aumento nos gastos públicos desde a crise financeira de 2009. O novo pacto orçamentário permite elevar as despesas da Administração de Donald Trump em 300 bilhões de dólares (986 bilhões de reais) em dois anos, um montante que deve causar um salto de aproximadamente 1,15 trilhão de dólares no déficit público. Apenas no primeiro mandato de Barack Obama, que teve de enfrentar a crise financeira e o resgate do setor bancário, é possível encontrar um rombo semelhante entre as receitas e as despesas do Governo federal.
Dos mais de 300 bilhões de dólares de aumento nos gastos, metade corresponde ao Exército (165 bilhões de dólares) e o resto a itens como infraestrutura (20 bilhões de dólares); epidemia de opiáceos (6 bilhões de dólares); saúde infantil (5,8 bilhões de dólares); e gastos com veteranos (4 bilhões de dólares). Além disso, outros 90 bilhões de dólares são adicionados para medidas de auxílio após os desastres do Texas, Flórida e Porto Rico. Os democratas haviam pedido esta última verba, bem como mais dinheiro para os novos projetos de infraestrutura tanto prometidos por Trump e para outros itens, mas o que foi conseguido é obscurecido pelo limbo no qual os dreamers, imigrantes que chegaram ao EUA ainda criança, se encontram.
Na quinta-feira, a Câmara dos Deputados estava disposta a votar, sem titubear, o acordo do orçamento fechado no dia anterior entre republicanos e democratas, mas o senador republicano Rand Paul, de Kentucky, um libertário alérgico aos gastos públicos, bloqueou inesperadamente a votação durante toda a tarde para exigir a aprovação de uma emenda com limites aos gastos federais. A última prorrogação dos fundos com os quais a Administração estava funcionando expirava à meia-noite, de modo que o atraso na votação causou o segundo fechamento do Governo dos EUA em menos de três semanas.
Em janeiro, o fechamento foi causado pelo debate sobre a imigração com os democratas. Desta vez, o drama de Washington foi cortesia do fogo amigo. Como não apoiaram sua emenda, Paul aproveitou as regras que permitem a qualquer senador atrasar os procedimentos que exigem o apoio de todos e adiar o trâmite no Senado, embora o plano tenha sido finalmente aprovado com 71 senadores votando a favor e 28 contra. Na Câmara dos Deputados, a proposta também levanta críticas: no caso dos conservadores, por causa do déficit público; já os democratas estão preocupados com o esquecimento dos jovens imigrantes. A votação é esperada para as próximas horas e há sinal verde, o fechamento administrativo terminará antes do amanhecer e quase não terá impacto. O último, que começou em 20 de janeiro e durou 60 horas, resultou em uma licença temporária de 800.000 funcionários.
"Meu partido agora é cúmplice dos déficits", queixou-se o senador Paul. "Posso segurá-los aqui até as 3h da manhã, farei com que vocês me escutem", acrescentou. O jogo do senador rebelde representa, no mínimo, um enorme dano à imagem da política americana, muito acostumada à anomalia: o Congresso aprovou quatro prorrogações orçamentárias in extremis desde outubro devido à falta de consenso para pactos mais formais.
Na quarta-feira, o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, e o líder democrata, Chuck Schumer, chegaram a um acordo que evitava um fechamento como o de janeiro, possibilitando uma estabilidade orçamentária por pelo menos dois anos. A aparente paz terminou em guerrilha. Os republicanos representam 51 dos 100 senadores, e a sintonia com os democratas garantia os 60 votos necessários, mas Paul alertou que não seria tão fácil. Outros republicanos alertam contra esse aumento de gastos, especialmente agora que Trump acaba de implementar o maior corte de impostos em 30 anos, pois a medida irá abocanhar uma porção significativa dos cofres públicos.
Jovens imigrantes no limbo
Com este cenário, a Casa Branca enviou notificações durante a noite às agências federais para que se preparassem para um possível fechamento. E a Câmara dos Deputados, que deveria se pronunciar após o Senado, informou que a votação só deveria ocorrer 3h e 6h da manhã da sexta-feira. O tema enfrentaria problemas, começando com os da líder democrata, Nancy Pelosi, que rejeita a exclusão de uma solução para os dreamers, ou sonhadores, como são chamados os imigrantes que entraram sem visto nos EUA quando eram crianças.
Em setembro, Trump encerrou o programa que os protegia da deportação, concedendo autorizações de trabalho e residência temporárias – o chamado DACA –, e agora oferece um plano que permitiria a cidadania após cerca de 10 anos, mas em troca de um fundo de 25 bilhões de dólares (82 bilhões de reais) para construir o muro na fronteira com o México. Em 5 de março, o visto de trabalho temporário para este grupo de 700.000 pessoas expira, por isso, outra negociação apressada está a caminho. Essa é a sensação transmitida na quarta-feira pela democrata Pelosi, que bateu o recorde da Câmara ao falar por mais de oito horas para pressionar contra a expulsão de jovens imigrantes. No dia seguinte, esperava-se outra maratona parlamentar em Washington.
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