Cresce na Índia a praga dos sequestros de homens para casamentos forçados
Vídeo viral de jovem obrigado a casar sob a mira de revólver expõe problema que afeta os mais pobres
O Estado de Bihar, no norte da Índia, registrou no ano passado 3.404 casos de sequestros de homens solteiros que foram forçados a se casar, segundo os dados da polícia local. Embora seja um problema que geralmente afeta as mulheres, as práticas arcaicas conhecidas como pakadua vivah (rapto para casamento, no idioma local de Bihar) ou jabaria shaadi (matrimônio forçado) também estão muito difundidas quando as vítimas são homens. A pobreza, além de tradições como a do dote que a família da esposa precisa oferecer e a desproporção entre o número de homens e mulheres na população, ampliou esse fenômeno no norte do país.
“A pakdau vivah está descontrolada em Bihar [...]. Na maioria dos casos, os casamentos são formalizados sob a mira de um revólver ou mediante ameaças de morte contra o homem e suas famílias”, declarou um oficial da polícia estadual à imprensa local no domingo. Em janeiro, o caso de um engenheiro de Patna, a capital do Estado, chegou às televisões nacionais depois de um vídeo viral. Nele, o rapaz chora desconsoladamente enquanto narra como foi sequestrado por um grupo de homens armados que o obrigaram a se casar, numa cerimônia que já estava preparada antes da sua chegada.
Longe de serem casos isolados, as cifras do Governo de Bihar confirmam uma tendência. Em 2016, 3.070 homens jovens foram alvo da pakadua vivah, e outros 2.500 foram vítimas da mesma tradição em 2014. Uma cifra muito mais elevada em comparação com as 1.337 denúncias registradas em 2009.
Os casos se concentram no leste de Uttar Pradesh, Estado onde fica o famoso Taj Mahal, e, sobretudo, no oeste do vizinho Bihar. As duas regiões têm os piores índices de desenvolvimento socioeconômico da Índia: escassez de infraestrutura, pobreza desenfreada, baixos níveis de alfabetização e corrupção endêmica fazem delas terreno férteis para a perpetuação de problemas sociais como a discriminação por castas e os dotes matrimoniais.
Presos ao subdesenvolvimento, poucos lares podem fazer frente às exorbitantes quantias exigidas pelas famílias dos noivos para aceitar o casamento. Curvados pela pressão de casar suas filhas, as famílias encontram na pakadua vivah o último recurso. A precariedade soma-se à escassez de moças jovens para tantos solteiros.
Há uma semana, um estudo governamental salientava a desigualdade entre o número de homens com relação ao de mulheres na Índia, um país onde os abortos seletivos geraram um desequilíbrio demográfico — o Governo calcula que faltam mais de 63 milhões de mulheres com relação à que seria a tendência natural. Não é de estranhar que sua ausência se concentre nos empobrecidos Estados do norte. Segundo o último censo, de 2011, há apena 751 mulheres para cada 1.000 homens em Bihar, uma das maiores desproporções entre os gêneros no país.
O último relatório do Departamento Nacional de Investigação Criminal, de 2015, corrobora os dados oferecidos pelo Governo estadual. Segundo as estatísticas nacionais, Bihar é o Estado que mais denuncia sequestro de indivíduos do sexo masculino menores de 18 anos. Em 2015, o número de homens de 18 a 30 anos raptados nesse Estado foi de 1.096, o que representa 17% do total de sequestros da Índia.
A polícia de Bihar disse estar especialmente atenta à próxima temporada de casamentos na Índia (lagan), que começa em fevereiro. Este é o mês mais propício para as uniões matrimoniais, conforme estabelece o calendário de superstições hindus para este ano.
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