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Trump usa discurso sobre o estado da União para lançar plano de 1,7 bilhão de dólares em infraestrutura

Presidente dos EUA se apoiará no bom momento econômico, mas migração deve marcar pronunciamento

O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa em almoço com o Conselho de Segurança das Nações Unidas, na Casa Branca
O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa em almoço com o Conselho de Segurança das Nações Unidas, na Casa BrancaEFE
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Donald Trump é o pior inimigo dele mesmo. No tradicional discurso anual sobre o estado da União, o presidente enfrenta nesta terça-feira o desafio de propor a um país polarizado um futuro comum. Para vencê-lo, Trump irá apostar nos resultados econômicos e em seu esperado plano de 1,7 bilhão de dólares em infraestrutura. De acordo com especialistas e com a imprensa norte-americana, deverá ser um pronunciamento grandiloquente que procurará evitar menções diretas aos temas mais polêmicos, mas sem abandonar o caminho da polarização e o rechaço aos imigrantes que tantos votos lhe proporcionaram.

Trump tem um martelo sobre a sua cabeça. A economia vai bem, a taxa de desemprego é a mais baixa desde 2000 e a Bolsa bate recordes históricos. Mas ele não conseguiu vencer a maldição que o persegue desde o primeiro dia: continua não sendo o presidente de todos. Ao contrário, sua avaliação é, hoje, a pior já registrada, e a divisão social se aprofundou como jamais ocorrera em 50 anos.

Essa quebra da confiança tem seu reflexo no Congresso. De pouco tem servido o fato de os republicanos controlarem a Casa Branca e as duas câmaras do Parlamento. A incompetência de Trump para a conciliação levou, apenas nove dias atrás, ao fechamento da Administração federal. Sua reabertura foi obtida depois de um acordo angustiante que dá até 8 de fevereiro para que se solucione o destino dos dreamers, os 1,8 milhão de imigrantes que chegaram aos EUA quando menores de idade e agora veem crescer diante dos olhos a ameaça da deportação. Essa contagem regressiva marcará o alcance do discurso de Trump, previsto para as 21h em Washington (meia-noite desta terça no horário de Brasília).

Para além dos grandes gestos, os democratas e vários republicanos cobram um discurso que ajude a superar as dificuldades. A possibilidade de um compromisso bipartidário parece, porém, cada dia mais distante. Fiel a seu estilo, Trump usa os dreamers como reféns e tem colocado sobre a mesa uma proposta radical. Em troca de lhes permitir a permanência no país, ele pede 25 milhões de dólares para a construção do muro, o fim do reagrupamento familiar e a submissão da concessão de vistos a critérios de eficiência econômica. Uma proposta inaceitável para os democratas, que possuem forte implantação no eleitorado hispânico.

Mas, além da pressão de um novo fechamento administrativo, Trump tem também ao seu encalço a questão da trama russa. Os últimos passos do procurador especial Robert Mueller indicam que seu objetivo é citar diretamente o presidente e questioná-lo sobre as contradições de seu relacionamento com Moscou.

O cenário é turbulento. E as frases brilhantes, por si sós, não bastarão. Há um ano, em seu primeiro pronunciamento diante das duas câmaras do Congresso, Trump exibiu uma versão depurada de si mesmo. Optou pela solenidade e fez o que é considerado o seu melhor discurso até aqui. Um chamado ao espírito norte-americano e ao seu destino universal que fez os republicanos o aplaudirem de pé. Houve quem acreditasse que Trump aproveitara a oportunidade para começar tudo de novo. Que o furioso e intempestivo candidato abraçara a ortodoxia presidencial. A ilusão durou apenas um dia. Em apenas 24 horas, a investigação sobre a trama russa envolveu o seu procurador geral, Jeff Sessions, e Trump logo acusou pelo Twitter o seu antecessor, Barack Obama, de tê-lo espionado. O efeito desapareceu imediatamente. Trump voltava a ser o mesmo Trump.

Agora, ele tem em mãos uma nova oportunidade para se distanciar das turbulências que ele mesmo criou. A situação econômica positiva e os efeitos de sua reforma fiscal, com um recorde de 1,5 bilhão de dólares em 10 anos, são o ponto alto de sua gestão. O capital flui massivamente de volta para os EUA e a Casa Branca já prepara um novo lance: um plano de 1,7 bilhão de dólares em infraestrutura. Um de seus projetos mais ambiciosos, com o qual pretende espalhar otimismo entre os seus eleitores. Algo fundamental para poder enfrentar em boas condições a grande batalha do ano: as eleições de 6 de novembro, em que serão renovados a totalidade da Câmara de Representantes e um terço do Senado.

Da forma como apresentará a sua proposta econômica e da sua capacidade de aglutinar anseios dependerá em grande parte o sucesso de seu discurso. Haverá lances de efeito, mas no grande ritual norte-americano, sob o inclemente céu do Capitólio, Trump terá de mostrar que, além de ter vencido as eleições, já vive, age e pensa como presidente de toda a nação.

Um Kennedy para se contrapor a Trump

Ele tem 37 anos, o mesmo aspecto esportivo de seu tio-avô e é uma estrela ascendente no céu do Partido Democrata. O deputado por Massachusetts Joe Kennedy será o paladino que a oposição utilizará para retrucar o discurso de Trump. Seus companheiros de partido o definiram como “um combatente implacável em prol da classe trabalhadora”. Talvez seja um exagero no caso do sobrinho-neto de John F. Kennedy, mas ele é visto, de todo modo, como uma promessa que desperta simpatias nas bases eleitorais.

Ao lado de Joe Kennedy, também discursará Elizabeth Gúzman, da Virginia, que pronunciará a resposta dos democratas em espanhol.

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